Superliga Europeia: para quando?
A temporada 2005/06 está a ser muitíssimo curiosa. Estamos apenas sensivelmente a meio da época e chegamos à conclusão de que os campeões daqueles que são os campeonatos mais competitivos da Europa já estão encontrados, a não ser que aconteça algum cataclismo. Será que começa a ser tempo de se pensar a sério numa Superliga Europeia?
O ranking da UEFA é, penso que é pacífico admitir, o grande medidor da qualidade dos vários campeonatos europeus. E esse ranking diz que Espanha, Itália, Inglaterra, França e Alemanha possuem, por esta ordem, as ligas mais fortes do Velho Continente. Mas será que uma liga pode ser forte e interessante quando no final da primeira volta o campeão já está praticamente encontrado? Senão vejamos:
Espanha: Ao fim de 21 jornadas (17 por disputar), o Barcelona lidera a classificação com 52 pontos, mais 12 que o Valência e mais 13 que o Real Madrid.
Itália: Com 22 rondas realizadas (a 16 do fim, portanto), a Juventus já soma 59 pontos, oito a mais que o Inter e 12 a mais que o AC Milan.
Inglaterra: À 23ª jornada (15 para o final), o Chelsea tem 62 pontos, mais 14 que o Manchester United e mais 18 que o Liverpool. Os “reds” têm dois jogos em atraso, mas mesmo que ganhem, ainda ficam a 12 pontos dos “blues”.
França: Disputadas 24 jornadas (restam 14 para disputar), o Lyon, mesmo com um jogo em atraso, já tem 54 pontos, nove de avanço sobre Bordéus e 12 sobre o Auxerre.
Alemanha: Realizadas 18 jornadas (faltam 16), o Bayern Munique leva 47 pontos somados, mais oito que o Werder Bremen e mais nove que o Hamburgo.
O mais curioso é que todos estes líderes são os actuais campeões dos respectivos países. Ou seja, estes campeonatos parecem estar a tornar-se marchas solitárias rumo ao título, ficando a emoção para as restantes lutas: Liga dos Campeões, Taça UEFA, Taça Intertoto e manutenção. A juntar a isto, tenho um certo “feeling” de que o actual modelo da Liga dos Campeões ainda não é a fórmula ideal para a UEFA. Ou alguém acredita que o organismo que rege o futebol europeu tenha ficado encantado com uma final FC Porto-Mónaco? Como é sabido, a UEFA tem feito tudo para que a liga milionária seja um grande despique entre os grandes tubarões da Europa. E o modelo actual ainda não garante isso.
Para mim, como adepto de futebol, a Superliga europeia seria uma opção extremamente interessante. Quem não gostaria de ter todas as semanas um Real Madrid-Juventus, um Manchester United-Barcelona, um Bayern-Inter, um Milan-Chelsea, etc? O problema é que esta competição seria o fim dos campeonatos nacionais tal como os conhecemos. Mas seria também a evolução natural do futebol.
Recordo que o futebol, pelo menos em Portugal, começou por ter como provas mais importantes os campeonatos regionais, no início do século XX. Mais tarde, em meados dos anos 30, surgiu o campeonato nacional (primeiro conhecido por I Liga). Para essa prova apuravam-se os melhores classificados de cada regional, todos os anos, isto é, não havia subidas nem descidas de divisão. As equipas classificadas a seguir iam para a II Divisão e assim sucessivamente. Só em 1946/47 é que o sistema foi alterado e passou a haver subidas e descidas. Os campeonatos regionais passaram então a albergar equipas sem lugar nos nacionais. Mais tarde surgiram as provas europeias, para as quais o apuramento era feito a partir das classificações nos campeonatos nacionais e nas taças. Mais tarde a UEFA alterou o modo de funcionamento dessas provas, extinguindo a Taça das Taças e abrindo a Liga dos Campeões a várias equipas do mesmo país.
Penso, sinceramente, que o caminho a seguir é transformar as provas europeias em verdadeiros campeonatos, com pelo menos três escalões. Haveria uma I Liga, com, por exemplo, entre 16 e 20 equipas, jogando todas contra todas a duas voltas. Haveria uma II Liga, dividida em duas séries, também com 16 a 20 equipas. As séries poderiam ser Norte (com Inglaterra, Alemanha, França, Holanda e outros) e Sul (com Espanha, Itália, Portugal, Grécia, Turquia e outros). No final subiam duas equipas de cada série e desciam quatro da I Liga. A III Liga teria quatro séries, igualmente de 16 a 20 equipas, divididas igualmente de forma geográfica, mas de maneira a assegurar competitividade idêntica. Subiriam igualmente duas equipas de cada série, descendo quatro de cada uma da II Liga. Os últimos classificados da III Liga seriam despromovidos aos campeonatos nacionais (que passavam a funcionar como os actuais regionais) e dos nacionais subiria o campeão à III Liga europeia.
Pensando em Portugal (mas também se aplica a outros países), existem obviamente alguns problemas que se colocam:
Primeiro: Duvido que alguma equipa portuguesa pudesse actualmente jogar numa I Liga europeia. Penso que os três grandes andariam pela II Liga. No entanto, como adepto, confesso que preferia todas as semanas ver o Sporting defrontar o Atlético de Madrid, o Sevilha, o Espanyol, a Fiorentina, a Roma, a Lazio, o Olympiakos, etc, do que o Penafiel, o Rio Ave, o Estrela da Amadora e por aí fora. É certo que numa competição europeia haveria muito mais despesas em transportes, mas as receitas seriam igualmente muito maiores, tanto as de televisão como as de bilheteira.
Segundo: Sem os tradicionais grandes, os campeonatos nacionais poderiam perder muito interesse. Não penso tanto assim. Sem grandes, penso que seria uma boa ocasião para as pessoas apoiarem os clubes das suas terras, o Vitória de Setúbal, o Vitória de Guimarães, o Beira-Mar, etc, podendo ainda apoiar um dos grandes na Liga europeia. Haveria, estou certo, grande competitividade na luta pelo título, que daria acesso ao futebol europeu. Se calhar teríamos mais gente nos estádios do que hoje.
Em resumo, penso que este será o caminho correcto a seguir para se transformar o futebol num espectáculo desportivo ainda maior, ao nível das grandes competições desportivas dos EUA (NFL, NBA, NHL e MLB), que movimentam milhões, tanto em termos de dinheiro, como de espectadores e telespectadores.
PS - Sabiam que pelo esquema antigo, de apuramento para os nacionais através dos regionais, o FC Porto deveria ter ficado de fora da I Divisão em duas ocasiões? O distrital do Porto apurava os dois primeiros para o nacional e em 1939/40 e 1941/42 o FC Porto foi apenas 3º classificado. Mas dois oportunos alargamentos, primeiro de oito para 10 equipas e depois de oito para 12 resolveram o problema e lá puderam os dragões competir, somando tantas presenças no primeiro escalão como Benfica e Sporting.