29 março, 2007

Antevisão ao Jogo do Título

No final da 1ª volta, fizemos um post onde atribuímos praticamente o título ao nosso Porto. Parecia que ninguém conseguia parar a turma do professor Jesualdo.
7 jornadas passaram e o Benfica, apesar de estar no limite em termos físicos, soube aproveitar os deslizes dos nortenhos reduzindo em 7 pontos a diferença. 1 pontinho separa agora os dois rivais com o Sporting a 6 pontos do 1ª lugar (estavam a 7 no final da 1ª volta) a torcer por algo que não seja a vitória do Porto.
Para mal dos meus pecados, estarei de férias nesse antro da seriedade e do sossego que é a Ilha do Farol em Olhão.
Como o único café com Sport TV deverá estar esgotado, só me restará assistir ao desafio via rádio. Doloroso bem sei, mas não contei com a paragem do campeonato quando fiz o mapa de férias.
Sinceramente não sei para que lado irá pender a balança, mas inquieta-me o optimismo exagerado dos adeptos tripeiros, afinal somos nós que jogamos em casa, não é? Como é possível eles afirmarem com toda a convicção que o Porto vai ganhar à Luz? Já houve alguém que tentou fazer uma aposta de 10 euros comigo...
No ano passado Laurent Robert decidiu com um pontapé livre onde ficaram bem patentes, a potência de remate do francês, o efeito que estes esféricos da nova geração ganham e as (in)capacidades de Vítor Baía.
Este ano não há Robert, Helton deverá recuperar a tempo de jogar, mas há um Armando “Petit” Teixeira on-fire, cuja veia goleadora faz corar de vergonha qualquer ponta de lança dos 2 planteis.
Pessoalmente, com adepto da pós modernidade, rezo para um duelo de entre os 2 piores avançados de sempre da selecção nacional, Hélder Postiga e o novo membro dos Morangos com Açúcar, Nuno Gomes.
Também gostaria que Jesualdo desse novamente a titularidade a Alan e já agora que Fernando Santos mantivesse Moretto, mesmo com Quim em condições de actuar.
De resto que seja um bom jogo, com fair play dentro e fora das 4 linhas, que Carolina Salgado apareça no meio dos No Name Boys com um cartaz ostentando a frase “Flatulento estou aqui” e no final que ganhe o Benfica.
Vemo-nos dia 9 de Abril, até lá boas férias para mim...

28 março, 2007

Haja Paciência

Horas antes de mais um compromisso da selecção nacional, partilho convosco a minha repugnância quanto aos novos pseudo adeptos de Portugal.
É certo que Scolari mobilizou as massas, mas irrita-me ver malta que não sabe o que é um fora de jogo, nem a diferença entre um livre directo e um livre indirecto, virem para as ruas festejar como se o futebol fosse parte integrante das suas vidas. É a loucura, a alegria, “fiesta, fiesta, numaiumbaié”.
“Eu não tenho clube, mas gosto muito da selecção!”. “Quem o Helton? Não, conheço!”. “O Cristiano Ronaldo é o maior! Ele joga no clube do Mourinho, não é?” “O Nuno Gomes é todo bom, ele é mesmo bom jogador!”
... e a minha preferida: “Fora de jogo?! Mas ele estava dentro do campo, como é que pode ser fora de jogo? Éh pah, o árbitro só está a roubar Portugal! Somos pequeninos”.
Fosca-se haja paciência!
Ontem quase ia perdendo a cabeça quando a senhora da limpeza (que preferiu ver a Floribela ao nosso Porto-Chelsea) se dirigiu a mim dizendo: “Então viu o nosso Portugal? Aquilo é que foi! Ainda foram poucos, eu pedi 7. Tenho uma tia prima que está na Bélgica e ela disse-me que era bom que eles empatassem, mas eu bla bla bla... Então viu o que é que eles queriam fazer ao nosso menino?”
Tiro o meu chapéu à equipa portuguesa, somos claramente uma das 5 melhores selecções mundiais e o objectivo Áustria-Suiça 2008 será uma realidade, mas com estes “anormaloides” o verdadeiro adepto sente vontade de se refugiar pura e exclusivamente no futebol dos clubes.
Até dá vontade de despedir Scolari e contratar Artur Jorge.

26 março, 2007

Ui, estas doeram!

Em semana de clássico, presenteio-vos com 11 de jogadores que ou pularam a cerca para outro grande ou cujas contratações foram arduamente disputadas.
Aquelas provocações que fazem aumentar exponencialmente a ira do lesado, sendo tais atletas fortemente vaiados quando pisam o terreno do rival.
A ida de Figo para Madrid ou Sokota de azul e branco são de deixar qualquer adepto com os cabelos em pé.
Na baliza Moretto, o guardião que Porto e Benfica disputaram mano a mano, como se de Lev Yashim se tratasse. Felizmente o Benfica ganhou a luta, nem que para isso tivéssemos que assistir a cenas de pugilato em pleno aeroporto.
Como defesas laterais, duas bicadas provocatórias que a águia desferiu no leão, Marinho e Quim Berto.
No centro da defesa, João Manuel Pinto, famoso pelos minutinhos a ponta de lança com Bobby Robson e Emílio Peixe.
A trinco, Bruno Caíres, que após uma experiência falhada em Vigo, apareceu com as cores leoninas em clara atitude provocatória ao clube que o formou.
Os extremos são mais duas maldades que o Benfica fez ao rival da 2ª circular, Amaral, cujo momento de glória foi vetado por Donato Ramos e Hugo Porfírio. Ainda hoje não consegui entender como foi possível, Porfírio ter sido a determinada altura credor do Benfica em cerca de 2 milhões de euros. Se alguém me souber explicar agradeço.
Nica Basarad Panduru, é o nosso médio centro. O romeno é a clara alusão que não foram só “Maniches” e “Decos” que Pinto da Costa resgatou ao Benfica.
No apoio ao ponta de lança, Drulovic, o tal a quem o meu pai se referia como: “O Porto comeu-lhe a carne, agora nós ficamos com os ossos”.
Finalmente, o meu preferido, Tomo Sokota. 1 ano e meio de dragão ao peito, 1 ano e meio no estaleiro.

23 março, 2007

Nunca ganhámos à Bélgica? Pudera!

Alertou Scolari que Portugal nunca bateu a Bélgica em jogos oficiais.
Realmente é verdade, mas o enguiço esteve prestes a ser quebrado naquela famigerada partida a contar para a fase de qualificação do Itália 90.
Orientado por esse monstro da cultura táctica que era Júlio Cernadas Pereira (Juca), Portugal discutiu até à última o apuramento com belgas e checoslovacos.
A partida com a Bélgica, disputada no velhinho estádio da Luz, ainda hoje está atravessada na garganta daquela geração de jogadores e adeptos (eu incluído).
Vítor Paneira abriu o activo e encaminhou a selecção para terras transalpinas.
Quando os “olés” já entoavam nas bancadas, Silvino presenteou-nos com a maior frangalhada que há memória em jogos da selecção nacional.
Perante a estupefacção lusitana e o riso dos belgas, em especial do autor do golo Marc Vanderlinden, Silvino destruiu o que Paneira construiu.
Em Bruxelas Cleujmans, Eric Gerets, Enzo Scifo e seus pares despacharam-nos com concludentes 3-0.
No final os belgas foram lá, os checos também, nós não.
Quanto a Silvino, voltaria a fazer das suas em Praga. Com o resultado em 1-1, já perto do final, o guardião do Benfica ficou pregado ao solo não detendo um livre que entrou mais ou menos a meio da baliza...

22 março, 2007

Uma Vitória de Raiva

Com o regresso do Benfica às estradas, o ciclismo assumirá ainda uma maior preponderância no nosso espaço da blogosfera.
Sem nunca esquecermos a pós modernidade, vamos tentar familiarizar os leitores ao máximo com esta fantástica modalidade, retratando grandes momentos das principais voltas.
Começamos com a vitória de Giuseppe Guerini, em 1999, na mítica chegada ao Alpe Duhez.
O Italiano da Deutch Telekon (agora T-Mobile) seguia com os favoritos. Sendo o pior colocado decidiu atacar, conseguindo uma vantagem interessante.
Subitamente um fã incauto atravessou-se à frente da bicicleta originando a queda do ciclista.
Cheio de força tornou a montar-se no veículo, atacando os kms finais da etapa com um vigor nunca visto.
Era o seu dia e Guerini ergueu os braços bem alto quando cruzou a linha de meta. Que grande vitória!
O resumo da etapa pode ser visto aqui. Vale a pena.

12 março, 2007

Os 40 melhores momentos

Para concluir o conjunto de posts dedicados a Michael Jordan, aqui fica um vídeo com os 40 melhores momentos da carreira de Michael daquele que foi o melhor jogador de basquetebol de todos os tempos..
Simplesmente notável!
“Tremendo” como diria o falecido professor João Coutinho ou “Fantááássssssstico” se quisermos parafrasear o também professor Carlos Barroca.

08 março, 2007

Os Cinco Violinos

Quase dois meses depois de ter rescindido contrato (de forma amigável, sublinhe-se) com a Malta da Tropa, fui desafiado pelo meu colega Zé Cavra a escrever uma posta sobre os Cinco Violinos. Obviamente, não pude resistir ao réptil lançado, até porque acho imperdoável que, no meio de tantas postas e algumas algo inúteis, nunca tenha homenageado os maiores heróis que o meu clube já teve, no pé na bola. Hoje é um bom dia para fazê-lo. Estou bem disposto, o Bayern despachou os manientos do Real da Champions (os bávaros são o clube que menos gramo na Alemanha, mas na Europa sou sempre pelos teutónicos). Além disso o clube que ocupa metade do meu coração, o grande Eintracht, comemora hoje 108 anos, pelo que o dia é mesmo de festa. Vamos a isso!

Admitiu o Cavra que os Cinco Violinos (mais os outros seis membros do onze, obviamente) teriam sido a melhor equipa portuguesa de todos os tempos. Não faço ideia. Qual seria melhor? Os violinos, o Benfica de Eusébio ou o Porto de Mourinho? É impossível dizer, até porque o Sporting da altura, lamentavelmente, não participava em provas europeias - não as havia. Além disso, a televisão era ainda um sonho para durar mais uma década. As únicas imagens em movimento dessa equipa fantástica podem ser vistas no filme “O Leão da Estrela”, mas é pouco para tirar conclusões. Uma coisa é certa: se eu tivesse uma máquina do tempo, a segunda coisa que fazia era ir até 1946 para os ver ao vivo. A primeira, claro, era ir confirmar se a Cleópatra, a Lucrécia Bórgia e outras eram mesmo as malucas que se diz terem sido. Voltando aos violinos, tentaria ainda trazê-los (e ao Benfica dos anos 60) para jogarem um torneio triangular com o Porto de 2003 e 2004. Mas primeiro teriam de passar dois ou três anos a preparar-se, técnica, física e tacticamente, senão seriam esmagados. Seria necessário transformar o 2x3x5 da época num 4x3x3 ou 4x4x2 actual, o que poderia não ser fácil. Enfim, tudo tretas, pois sabemos que é impossível.

O que se pode analisar são os resultados. Os Cinco Violinos, lamentavelmente, apenas jogaram juntos durante três anos, entre 1946 e 1949. No primeiro ano chegaram os últimos, Travassos e Vasques, e no último saiu Peyroteo, com apenas 31 anos, numa prova de que o desperdício de talento em Alvalade já é ancestral. Nesses três anos o Sporting venceu todos os campeonatos nacionais que disputou, com um total de 78 jogos, nos quais obteve 63 vitórias, 4 empates e 11 derrotas. Marcou 315 golos, o que dá a impressionante média de 105 por temporada e, não menos impressionante, de mais de quatro golos por jogo. Sofreu também muitos golos, 115, média de 38 por época. Ainda em relação aos golos marcados, 123 foram na primeira época, o que constitui recorde no campeonato português. Entre os violinos, os golos desses três anos foram assim distribuídos: Peyroteo (96), Jesus Correia (54), Travassos (44), Albano (40) e Vasques (39). Se isto não são números impressionantes...

Vamos agora aos títulos. Em 1946/47 o Sporting disputou o Campeonato Nacional e o Campeonato de Lisboa. Venceu ambos, o primeiro com seis pontos de vantagem sobre o Benfica (em 26 jornadas e com dois pontos por vitória, recorde-se) e o segundo com dois pontos de avanço sobre o rival (em 10 jornadas). Nessa época não se disputou a Taça de Portugal. Em 1947/48 já não houve distrital lisboeta, mas voltou a disputar-se a Taça. O Sporting foi campeão com o mesmo número de pontos do Benfica (foi campeão por um golo, perdeu em casa 1-3 e venceu fora 4-1, com poker de Peyroteo). Venceu ainda a Taça, com os seguintes resultados: Guimarães (5-1), Estoril (6-2), Portimonense (6-1), Benfica (3-0) e Belenenses, na final (3-1). Em 1948/49 o Sporting foi tricampeão, com cinco pontos de vantagem sobre o Benfica. Na Taça passou uma das maiores vergonhas da sua História, ao perder logo na primeira eliminatória no campo do Tirsense, então na III Divisão, por 1-2. Mas dos violinos jogaram apenas Vasques e Albano. Disputou ainda a Taça Latina, que, não sendo uma prova oficial, dava para aferir de certa forma o valor internacional da equipa. Venceu nas meias-finais o Torino por 3-1 e perdeu a final com o Barcelona, por 1-2, segundo li de forma injusta (mas não tem sido essa a nossa história?).

Vou agora recordar o onze-tipo do Sporting nesse período:
- Azevedo: para muitos o melhor guarda-redes português de sempre, jogou no Sporting entre 1935 e 1952, conquistando 21 títulos. Foi 19 vezes internacional. Ficou conhecido pelo espírito de sacrifício, que o levou a jogar encontros decisivos com a clavícula partida (Benfica) e com o pé partido (Belenenses, final da Taça). O Sporting ganhou ambos e Azevedo esteve em grande. Memorável.
- Álvaro Cardoso: formado nas escolas do V. Setúbal, era o defesa-direito e capitão de equipa. Jogou no Sporting entre 1938 e 1948 e ganhou 13 títulos. Jogou 13 vezes na selecção. Era bom tecnicamente e um verdadeiro líder, que se impunha aos colegas e aos dirigentes, se fosse preciso.
- Manuel Marques: era o defesa-esquerdo. Jogava sempre com um lenço preso nos calções. Esteve no Sporting entre 1935 e 1951 e foi duas vezes à selecção. Ganhou 19 títulos ao todo. O complemento ideal para Cardoso.
- Canário: era o médio-direito e só não era violino de nome. Jogou no Sporting entre 1938 e 1952, conquistando 16 títulos. Foi 10 vezes à selecção. Em caso de necessidade jogava no ataque e chegou a fazer 16 golos numa época. Mas foi no meio campo que se destacou, a criar jogo para os violinos tocarem.
- Barrosa: jogava a defesa/médio central e era a alma da equipa. Esteve no Sporting entre 1940 e 1950 e não admitia jogar noutro clube. Ganhou 12 títulos e foi sete vezes à selecção. Tinha terminado a carreira em 49 e o clube pediu-lhe para jogar mais um ano. Aceitou, devolvendo ao clube todo o dinheiro que devia ter ganho nessa época. Sá Pinto, Beto, etc, amor à camisola? Deixem-me rir.
- Veríssimo: jogou no clube entre 1941 e 1953 e ganhou 12 títulos. Era médio-esquerdo e o jogador menos vistoso da equipa. Por isso mesmo foi o único a nunca representar a selecção. Mas era útil e o primeiro a parar o jogo adversário.
- Jesus Correia: jogou no Sporting entre 1943 e 1953 e podia ter ficado mais uns anos, mas, colocado entre a espada e a parede, decidiu-se pelo hóquei em patins. Venceu 11 títulos e foi 13 vezes internacional. Era extremo-direito e tirando Peyroteo era o menos habilidoso dos violinos, mas compensava com a velocidade, a força e a capacidade de cruzar e rematar. Marcou mais de 150 golos oficiais pelo Sporting.
- Vasques: era o interior-direito e o mais artista dos violinos. Por isso chamavam-lhe Malhoa. Fazia o que queria com a bola, mas era também o mais irregular e o que mais desesperava os adeptos. Era alto e tinha bom jogo de cabeça e poder de remate e é ainda o segundo melhor marcador de sempre do Sporting no campeonato. Marcou mais de 220 golos oficiais. Jogou no Sporting entre 1946 e 1959 e venceu 11 títulos. Jogou 26 vezes pela selecção.
- Peyroteo: é difícil encontrar palavras para o descrever. Não tinha muita habilidade, mas em termos de capacidade goleadora não houve como ele em Portugal, nem talvez no mundo. Marcou 330 golos em 197 jogos no campeonato. É o melhor goleador português de sempre no campeonato e o melhor do mundo a nível de média de golos, 1,68 por jogo. Inatingível. Marcou cerca de 530 golos oficiais pelo clube em 12 anos (de 1937 a 1949), ganhando 17 títulos. Podia ter jogado mais uns anos, mas era mais lucrativo acabar a carreira e receber a receita do jogo de homenagem do que renovar pelo Sporting. Pela selecção fez 20 jogos e marcou 15 golos, número óptimo numa altura em que Portugal ganhava a pouca gente. É uma lenda do futebol e merecia mais memória do que a que tem recebido.
- Travassos: jogou no Sporting entre 1946 e 1959, tal como Vasques, conquistando 11 títulos. Fez pouco mais de 120 golos oficiais e era o menos concretizador dos violinos. Mas compensava e de que maneira. Era interior-esquerdo de nome, mas na verdade era o 10, o maestro da equipa. Jogava a um ritmo elevado, pelo que não custa a adivinhar que seria um craque absoluto hoje em dia. Foi o primeiro português a ser chamado para a selecção da Europa (daí a alcunha Zé da Europa) e com 35 jogos por Portugal foi durante alguns anos o mais internacional de sempre. Foi talvez o melhor jogador de sempre do Sporting.
- Albano: era o extremo-esquerdo e o maior malabarista da equipa. Jogou no Sporting entre 1946 e 1953, ganhou 14 títulos e marcou mais de 150 golos oficiais. Foi 15 vezes à selecção. Baixo e rápido, dava cabo da cabeça aos defesas contrários. Num jogo em Inglaterra, diz a lenda, passou por baixo das pernas do seu marcador directo.

E prontos, foi esta a minha descrição dos Cinco Violinos, alcunha, já agora, colocada por um jornalista, Tavares da Silva. Esta é a minha versão, como lagarto que sou. Por isso, para complementar, transcrevo a seguir um artigo do falecido Carlos Miranda, que não era sportinguista, publicado em A Bola, jornal de que foi director, a 22 de Janeiro de 1994, e o qual guardei até hoje:

«Violinos» que tocaram cedo demais

Nós, os que andamos há muito tempo nestas coisas do desporto, do futebol, não deixamos sempre de ficar um tanto estupefactos de as gentes de hoje não conhecerem aqueles que ainda agora são grandes ídolos para nós. Eusébio, por exemplo, é um caso de ontem, mas que ainda hoje continua vivo na memória de todos, mais que não seja por causa das evocações televisivas. E nós podemos ver aquelas grandes jogadas, aqueles golos imortais do benfiquista.

Mas na nossa recordação ainda perduram jogadas, golos, exibições de grandes futebolistas, hoje perfeitamente desconhecidos. Já nem vamos falar no Pepe, que é uma figura do romanceiro do nosso futebol, como Cândido de Oliveira ou Jorge Vieira que continuaram nas lides jornalísticas ou clubísticas.

Mas quem se recorda de jogadores como os sportinguistas Mourão, Soeiro e João Cruz? Quem ainda se lembra de ter vibrado com a energia dos benfiquistas Francisco Ferreira e Guilherme Espírito Santo? Entre os portistas, quem se lembra da classe do Pinga, do Carlos Pereira, do Araújo, de Guilhar? Quem cita os academistas Alberto Gomes e até mesmo Bentes? O elvense Patalino, o algarvio Grazina e tantos outros que encheram os nossos campos de futebol de grandes momentos de beleza?

Passaram. Foram esquecidos. A confirmar que a glória não é eterna. E só os escolhidos pelos deuses ficam, para sempre, na memória das multidões.

Atente-se no caso da Taça dos Campeões Europeus. Depois do Real Madrid, de Puskas e Kubala, o Benfica de Costa Pereira, Coluna e Águas foi a segunda grande equipa da prova. E, no entanto, no nosso parecer, outra grande equipa portuguesa só não arranjou uma notoriedade de lenda no futebol europeu... porque veio adiantada: o Sporting!

Essa equipa tinha um quinteto avançado (antigamente as tácticas eram mais límpidas, as equipas apresentavam «1x2x3x5», com o guarda-redes quietinho nas balizas, dois defesas, três médios, com um deles a recuar para a marcação ao avançado-centro contrário, e cinco avançados - um desperdício e uma beleza...).

O Sporting, por tradição, era a equipa das grandes linhas avançadas e uma delas teve a sua época de grande evidência: Mourão, Soeiro, Peyroteo, Pireza e Cruz.

Este quinteto já era de ouro. Mas os jogadores foram envelhecendo, foram-se retirando... e chegou a altura em que só ficou Peyroteo, que foi recebendo novos companheiros. E o quinteto ficou famoso: Jesus Correia, Vasques, Peyroteo, Travaços e Albano!

Era uma linha avançada colossal, também apoiada por bons jogadores nas linhas da rectaguarda. Mas, ao nível das competições europeias, esta equipa sportinguista - cognominada como a dos «Cinco Violinos» - teve um pecado: chegou adiantada às competições, aparecendo dez anos antes do princípio das competições europeias, em 1955. Não fora isso e estamos certos de que o Sporting teria sido, durante três ou quatro anos, «Campeão Europeu».

A velocidade do Necas (sim, esse mesmo, o que, em alternativa, era jogador de hóquei em patins do Paço de Arcos), toda a mestria artística de Vasques, o jeito «buldozzer» de Peyroteo, a classe de Travaços, o irrequietismo de Albano, fizeram daquele quinteto uma das coisas grandes do nosso futebol, que se impôs no período pós-guerra, e que mereceu de Tavares da Silva, que foi seu técnico e, também, um dos mais brilhantes críticos do futebol português, o epíteto de «Cinco Violinos».

Como era ver jogar aquele Sporting? Talvez a melhor ideia fosse fornecida por um velho amigo nosso, amizade perdida no tempo, e que nos contava a sua especial maneira de ver futebol:

- Quem vai ao futebol, por muito que se preocupe, é-lhe difícil ver o evoluir geral de uma equipa. Por isso, a maior parte das vezes os adeptos seguem os avançados, deliciam-se com os pormenores dos avançados.

Eu, sei lá porquê, fui sempre de opinião contrária, gostava de estar aflito. Estar aflito e ver como as dificuldades se resolviam. Sempre gostei de ficar atrás da baliza do meu clube, o Benfica. Gostava de ver os outros virem por ali abaixo, com todo o sinal de perigo, e verificar como os defesas do meu clube resolviam as situações, anulavam essas iniciativas perigosas. Enfim, há quem goste de tudo. Mas tudo mudou com o aparecimento daquela linha avançada do Sporting.

Tudo mudou ou tudo se complicou. Havia um estado de confusão que me assaltava. Eu estava na ideia de ver os do «meu» Benfica resolverem o assunto, o perigo das avançadas «leoninas». Mas começou a criar-se, em mim, um estado de espírito confuso: eu já não sabia se queria ter a alegria de ver os «meus» benfiquistas resolver as situações, se ansiava para que o belo jogo dos «leões» tivesse a concretização que merecia...


Como referiu Carlos Pinhão, um dia, os «violinos» do Sporting entraram na história do futebol português e, por maioria de razão, na história do futebol do Sporting.

Mas nunca é demais referir que foram os «violinos» que chegaram adiantados ao seu concerto. Tivessem nascido dez anos mais tarde e teriam sido muito capazes de ofuscar o brilho dos Puskas, Di Stefanos e Kopas. Foram «violinos» que tocaram cedo demais e, por isso mesmo, não puderam participar na grande apoteose do futebol do Velho Continente.”

07 março, 2007

Bendita Eliminação

Ás vezes o futebol tem destas coisas, a eliminação do Benfica da Liga dos Campeões poderá ter sido o que de melhor aconteceu aos encarnados na presente época.
No actual figurino da Taça UEFA, qualquer um dos 3 grandes portugueses pode ambicionar a conquistar o troféu.
Ultrapassado e manietado o Dínamo de Bucareste, segue-se o PSG, equipa que merece todo o respeito mas, há que dizê-lo com frontalidade, está uns furos abaixo do Benfica. O 2º classificado da Super Liga tem que ser fatalmente mais forte do que uma equipa que luta pela permanência no campeonato gaulês.
Com os quartos de final no horizonte, não posso ser acusado de ser lunático por manifestar a minha secreta esperança em vencer a Taça UEFA.
Sei que é difícil e que o Benfica às vezes prega “partidas” aos seus adeptos, mas olhando para as 16 equipas ainda em prova, não consigo encontrar um dos chamados “tubarões” do futebol europeu.
O Sevilha é a equipa mas forte, mas os andaluzes não são temíveis ao ponto de considerarmos a eliminatória perdida caso se cruzem no caminho do Benfica.
Estamos em 4º lugar na Bolsa de Apostas, eu seria um pouco mais ambicioso e colocaria o Benfica em 2º ou 3º. Só Sevilha e Bremen me deixarão apreensivo e mesmo assim...
Que os rapazes não me decepcionem...

01 março, 2007

Descansa em Paz, Bento



Como assumidos admiradores dessa posição muito particular que é a de goleiro, não podemos deixar passar em claro a morte de Manuel Galrinho Bento. A par de Damas, o único guarda-redes português que sofreu um golo de um apanha-bolas, e de Vitor Baía, o único guarda-redes português que ia sofrendo um golo de um homem nu(ver final da Taça Uefa), o homem do Barreiro foi o melhor no seu lugar, em território nacional. O video pode parecer, à primeira vista, não fazer jus à sua grandeza, mas nós não partilhamos desse ponto de vista. Bento metia raça, metia paixão, metia classe em campo...e neste jogo meteu também o Manuel Fernandes. Repare-se no erguer dos membros superiores do artilheiro leonino que, suplicando piedade, parecia querer dizer "epá...vamos lá ter calma". Porém, Manuel Galrinho, rijo e raçudo, não perdoou. Perdoamos-lhe nós, uma vez que ele e o seu bigode representaram muito para o desporto nacional. Descansa em paz, Bento.