28 abril, 2006

Campeonatos do Mundo - Suécia 1958


A Suécia organizou o 6º Campeonato do Mundo. Foi feita, pela primeira vez, uma cobertura televisiva a nível internacional da prova, com o seu formato a mudar de novo. Desta vez, e à imagem do que hoje acontece, as quatro equipas de cada grupo tinham de jogar todas entre si. As equipas que ficassem empatadas na luta pelo 2º lugar disputariam um playoff. Cada agrupamento continha uma equipa da Europa Ocidental, outra da Europa de Leste e representantes do Reino Unido e América Latina. Pela primeira vez, Portugal teve uma participação nas eliminatórias minimamente decente. Num campeonato a três com Itália e Irlanda do Norte, a fúria lusitana empatou a um golo com os irlandeses católicos, em casa. Em Belfast saiu vergada a 3 bolas sem resposta, tal como aconteceu em Milão. Porém, os transalpinos não se livraram de uma derrota com resultado idêntico, em Lisboa. Vasques, Teixeira e Matateu fabricaram os golos da equipa das quinas, treinada por Tavares da Silva.
Podemos dizer que foi a partir deste Mundial que a selecção brasileira se afirmou definitivamente como nº 1 no futebol mundial. A jogar em 4-2-4, os canarinhos mostraram as fintas de Garrincha, o instinto matador de Vavá, o inventor dos pontapés “em folha seca” Didi e o jovem…Pelé. O miúdo de 17 anos não estava certo na convocatória de Vicente Feola, mas a pressão por parte dos colegas de equipa resultou e o técnico acabou por integrar o “rei” na comitiva. O mesmo aconteceu com Mané Garrincha, mas por motivos diferentes. O mágico das pernas tortas tinha um feitio diferente, demasiado dado à brincadeira e borga (viria a morrer na miséria, vítima do alcoolismo), o que quase o fez perder o lugar no “time”.
Waldyr “Didi” Pereira, era o patrão do meio-campo. Os seus colegas afirmavam que este “conseguia fazer com que a bola falasse”. Para provar as suas aptidões, colocava uma moeda em qualquer ângulo e a qualquer distância, para de seguida lhe acertar. Marcou 31 golos pela selecção nacional (12 deles através do pontapé “folha seca”), mas nunca se adaptou ao lado de Di Stéfano e Puskas num Real Madrid de luxo. Vavá, outro jogador influente, também não se habituou à vida na capital espanhola(neste caso, jogando no Atlético). Porém, os 15 golos em 22 jogos internacionais demonstram a eficácia deste ídolo no Vasco da Gama, Palmeiras e Botafogo.
Voltando ao Mundial propriamente dito, o grupo 1 foi dominado pela Alemanha Ocidental, que se apurava derrotando a Argentina, por 3-1, e empatando a 2 golos com Checoslováquia e Irlanda do Norte. Depois de um jogo de desempate, a Irlanda do Norte surpreendeu os checos, que viriam a ser finalistas quatro anos volvidos.
No agrupamento seguinte, a França humilhava o Paraguai por 7-3, batia a Escócia por 2-1 e só vacilava frente à Jugoslávia, perdendo por 3-2. Os homens dos Balcãs, obtendo igualdades por 1-1 e 3-3 com escoceses e paraguaios, seguia em frente juntamente com os gauleses.
Os Suecos souberam aproveitar o factor casa para mobilizar jogadores e adeptos. Bateram o México por 3-0 e a Hungria por 2-1, cedendo um empate sem golos somente frente a Gales, formação que acabaria por se qualificar batendo magiares por duas bolas a uma no playoff. A equipa do leste foi mesmo a grande desilusão da prova. Puskas, Kocsis, Czibor, entre outros, deixaram o país de origem após a invasão soviética, fragilizando o futebol da nação.
O Brasil qualificou-se sem sobressaltos. O empate frente à Inglaterra foi compensado com vitórias ante Áustria (3-0) e União Soviética (2-0), com os soviéticos a alcançarem o 2º posto depois do 1-0 frente aos britânicos num jogo suplementar. A eliminação inglesa obteve contornos escandalosos em terras de Sua Majestade. Curiosamente, as duas equipas do Reino Unido apontadas como as mais fracas foram exactamente aquelas que mais longe chegaram na competição.
Pelé marcou o único golo na vitória do Brasil frente ao País de Gales, nos quartos-de-final. O triunfo pela margem mínima deixou conformados os galeses, receosos de uma goleada que ficasse para a história. A Alemanha batia a Jugoslávia com um golo de Rahn, que já havia sido decisivo na Suiça, no Mundial transacto. Fontaine, que marcara 10 golos na 1ª fase(!), juntava outros dois à sua conta pessoal na vitória frente à Irlanda do Norte(4-0). A anfitriã Suécia seguia em frente depois de aproveitar o apoio do público para enviar a União Soviética para casa naquele que foi, naturalmente, o encontro com maior assistência desta etapa do Mundial (31.900 espectadores).
As meias-finais ficaram marcadas por alguma polémica. A Suécia defrontava a Alemanha Ocidental e Schaefer abriu o marcador aos 23 minutos a favor dos germânicos, com um remate de 20 metros. Os escandinavos empataram através de um golo irregular, pois Liedholm dominara a bola com a mão antes de Skoglund rematar. Juskowiak (quiçá parente do Andrej que jogou no Sporting) foi expulso aos 57 minutos, desfalcando os “panzers”. Gren e Hamrin aproveitaram para colocar a Suécia na final.
O Brasil colocou-se cedo em vantagem frente à França, mercê de um remate espectacular de Vavá aos dois minutos. Juste Fontaine empatava 7 minutos volvidos, mas Didi e 3 golos de Pelé resolveram a questão. Apesar do golo de Piantoni ao cair do pano, a França saía do Mundial de 1958.
No Estádio Rasunda, em Estocolmo, no dia 29 de Junho de 1958, jogou-se a final. O seleccionador brasileiro Vicente Feola foi teimoso em relação à titularidade de Didi, com 30 anos e em fase descendente da carreira para muitos, e optou por colocar Vavá em vez do jovem Mazzola de 19 anos. Di Sordi comandara a defesa em jogos anteriores, mas desta feita o dono do lugar era Djalma Santos. A arma secreta da final foi Garrincha, considerado pouco consistente em termos exibicionais. Mas o extremo-direito não deu hipótese aos suecos, oferecendo dois golos a Vavá.
A esperança de festejar o trunfo em casa parecia tornar-se realidade quanto Liedholm marcou aos 4 minutos. Pela primeira vez, o Brasil encontrava-se em desvantagem na prova. Aos 10 minutos, Garrincha corre pela sua ala e centra a bola para Vavá bater Svensson. De seguida, Pelé acerta na trave e Zagalo emenda para o fundo das redes. O principal ícone do futebol viria a sentenciar a partida aos 55 minutos, dominando a bola com a coxa dentro da área e, depois de passa a bolar por cima da sua cabeça, remata à meia-volta com força. Pelé bisou quase no final. Agne Simonsson, em fora-de-jogo, ainda encontrara uma forma de violar as redes de Gilmar, mas o tento era inconsequente. O melhor jogador do mundo acabava o evento a chorar de alegria. Não havia dúvidas de que o Brasil era a melhor equipa do mundo. Nem tão pouco se desmentiu que seria um dos maiores erros da História do desporto não levar o adolescente criado no Santos à fase final.


Brasil:
Gilmar, D.Santos, N.Santos, Zito, Bellini, Orlando, Garrincha, Didi, Vava, Pelé, Zagalo.

Suécia:
Svensson, Bergmark, Axbom, Börjesson, Gustavsson, Parling, Hamrin, Gren, Simonsson, Liedholm, Skoglund

49.737 espectadores
Árbitro: Maurice Guingue(França)
Marcadores: Liedholm(4);Vavá(9;30);Pelé(55;89), Zagalo(68); Simonsson(80)

Melhores Marcadores:
- Juste Fontaine(França) - 13 golos
- Pelé(Brasil) - 6 golos
- Rahn(Alemanha) - 6 golos
- McParland(Gales) - 5 golos
- Vavá(Brasil) - 5 golos

À direita: O Dream Team do Mundial da Suécia

5 Comments:

At 1:12 da tarde, Blogger José Cavra said...

Muito eu gosto de ler estes posts sobre os mundiais. Grande grande trabalho.

 
At 6:48 da tarde, Blogger Zé Maria (ou não) said...

Sublime!

 
At 7:28 da tarde, Blogger José Cavra said...

Mal posso esperar para ler o proximo post...
1962 foi o ano de Mané Garrincha...

 
At 3:02 da manhã, Anonymous Anónimo said...

ta muito bom so faltava os goleiros e artilheiros da época! + msm assim valew

 
At 3:03 da manhã, Anonymous Anónimo said...

ta 1 merda isso! blag

 

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