26 abril, 2006

O 21º Título do FC Porto


Apesar de para a história isso pouco contar, o recente título do FC Porto não foi, nem de perto nem de longe, dos mais brilhantes do seu palmarés.

Com um futebol bastante ofensivo e dinâmico, o Porto de Co Adriannse cedo conquistou os adeptos nortenhos, ávidos de bom futebol e vitórias. Mas cedo também se notou que essa superioridade era ilusória – Se por um lado a equipa exibia classe frente a adversários mais fracos, contra adversários menos fracos (Rangers, Artmédia, etc) demonstrou uma debilidade preocupante.

Mais evidentes se tornaram estes problemas com a escandalosa eliminação na liga dos campeões, com um grupo extremamente acessível. No jogo contra o Artmédia, em casa, quando a equipa vencia por 2-0 e que acabou por perder por 3-2, ficou bem patente o lado mais negro da equipa: Ingénua, fraca psicologicamente e desequilibrada tacticamente.

Por estranho que pareça, esta forte machadada nas ambições desportivas acabaram por trazer consequências muito positivas. Co Adriannse (qual Scolari) apercebeu-se (Finalmente!) que jogar contra o Setúbal e Gil Vicente é bem diferente de jogar contra outros clubes, e adoptou uma postura de jogo mais rigorosa e competitiva – ajustando por vezes a equipa nos jogos mais importantes (como o fez contra o Sporting).

Curiosamente, e depois de ter sido acusado de não conseguir vencer nenhum dos embates contra adversários da mesma dimensão, é em dois destes jogos que o FC Porto ganha a época; é certo que foram os dois contra o Sporting (já destinado a estas coisas), mas, se no primeiro, para a taça, o Porto teve a sorte do jogo – num jogo em que, na minha opinião os Leões foram muitas vezes superiores – No jogo para o campeonato, em que o Sporting tinha obrigatoriamente de vencer, vimos um Porto extremamente sólido que, sem deslumbrar, não permitiu, sequer, que o adversário se acercasse da sua grande área.
Pela primeira vez na época, num jogo a doer, os dragões deixavam de lado os sentimentos nostálgicos e paravam finalmente de sonhar com Mourinho, Deco & Companhia.

O Porto conquistara em Alvalade, não só os 3 pontos mais importantes do campeonato e consequentemente o título, mas também a maioridade.


Depois de uma relação extremamente atribulada, e sabemos como estas coisas sempre serão extremamente voláteis, esta equipa (treinador incluído) conquista, com todo o mérito, o coração dos adeptos.

E se, como disse inicialmente, apesar deste não ter sido o título conseguido com maior brilhantismo (o Porto não foi, ao contrário de outras épocas, inequivocamente superior aos seus adversários directos ou jogou um futebol espectacular) este foi, no entanto, um dos mais importantes títulos conquistados nos últimos anos.

Porquê?

A exemplo de alguns clubes europeus de média dimensão (quando comparados com Reais Madrid´s, Chelseas e que tais) às grandes conquistas seguem-se períodos de seca. Isto deve-se ao facto de não conseguirem manter as suas principais estrelas, vendo-se assim obrigados a vendê-los aos gigantes. Natural. O Ajax, há anos que fornece os grandes europeus, e se a nível externo o clube funciona por ciclos, internamente, nunca deixa de lutar pelo título, mais, a saída das estrelas da equipa representa sempre a entrada de novos e talentosos jogadores formados no clube.

No Porto, esta transição não foi feita. Comprou-se mal, geriu-se mal, esbanjou-se muito. Ainda de bicos de pés pelas duas fabulosas e incontestáveis vitórias conquistadas em duas épocas o Porto julgou que poderia manter esse nível competitivo nos anos seguintes. A uma enxurrada de jogadores, de qualidade muito duvidosa e comprados a preços astronómicos (recordo-me, por exemplo, de Luis Fabiano) até à mudança de treinadores (3 numa época, nunca antes visto num clube que é também conhecido por ser extremamente protector dos seus treinadores) os erros foram mais que muitos e a estratégia aparentemente inexistente.

Num clube habituado, muito habituado mesmo, a ganhar, mais uma época sem vencer o campeonato, ainda para mais com uma campanha europeia desastrosa, poderia aumentar alguns focos de instabilidade que o clube inéditamente viveu no decorrer deste ano – a separação da SAD com os Super-Dragões e dos adeptos com estes últimos disso é exemplo.


Nota Final:

Não posso deixar de falar aqui no grande Jorge Costa, um verdadeiro símbolo do clube e um modelo de pura raça e coragem. Hoje, se calhar mais do que qualquer um, devias estar aqui a comemorar este título. Espero que voltes rapidamente.

6 Comments:

At 1:10 da tarde, Blogger José Cavra said...

É com desportivismo que te vejo comentar o título conquistado pelo nosso Porto.
Houve mérito, o Porto liderou o campeonato quase de princípio ao fim.
Os grandes clubes caracterizam-se pelos seus períodos de seca, e o Porto não fica mtos anos sem ganhar nada.
Tem uma estrutura irreprensível, o que o torna num clube sem par em Portugal.
Muito se preocupam os lagartos com o Benfica... não tendo a noção que o Porto é o alvo a abatar.
Tal como Lance no Tour, Ali no Boxe, Jordan na NBA, o Porto é em Portugal (a partir de meados dos anos 90) o principal dominador... para não se dizer ó único.

 
At 1:13 da tarde, Blogger Tiago Gonçalves said...

O mister Co não é "o homem que vai revolucionar o futebol português", como muitos diziam. Na minha opinião, é um treinador ao nível de um Vitor Pontes e talvez de um Couceiro, ou seja, banal ou um bocadinho superior ao totalmente vulgar. Se o Benfica não estivesse concentrado na Champions e o Sporting não tivesse começada a época com Peseiro, as dificuldades seriam muito mas muito maiores. Mas o homem está de parabéns, não complicou demasiado.

P.S.: Aproveito o teu primeiro post acerca do futebol nacional pra te dar as boas vindas, Reinaldo "Solteirão" Reles.É necessário alguém que defenda os tripeiros porque isto qualquer dia é um antro de lagartagem.

 
At 5:39 da tarde, Blogger José Cavra said...

Caro Castro, o domínio do porto não começou em 1984. Aliás nesse ano o campeão nacional foi o Benfica de Erickson.
O Porto foi campeao em 85 e daí iniciou um ora ganhas tu, ora ganho eu com o Benfica.
Vai aos registos e verás.
Qto ao Jorge Costa... acho que neste momento não vinha acrescentar nada.
Amigo Mário, Raul Meireles não é acima da média, aliás nem Lucho gonzallez é alguém de classe mundial.
Digamos que o Porto foi regular e teve um enorme Ricardo Quaresma (por favor não se esqueçam dele)..para além de um grande Pepe...
Helton é neste momento um grande guardião mundial. esse sim está nos melhores do mundo.
Para finalizar uma palavrinha para águias e leões... quem quer ser campeão nao se pode dar ao luxo de ficar 3 ou 4 jogos sem ganhar.
Não qdo tens um ríval que dá pelo nome de Nosso Porto.

 
At 6:26 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Muito bem Parabéns ao FC Porto, eu concordo parcialmente quanto à renovação, o jejum normal foi apenas de um ano, o que diz que até foi bem feita, não optima, isso seria ter ganho o ano passado mesmo com os 3 treinadores, mesmo assim ganhou a T. Intercontinental!

Já chamei alguns pasteis por causa do post abaixo do Belém.

 
At 7:14 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Em primeiro lugar não posso deixar de felicitar o nosso Potro por mais um campeonato ganho. Contudo, se no ano passado o Benfica ganhou porque foi o menos mau, este ano a vitória do porto assemelha-se, ainda que ligeiramente mais meritória.

Em segundo lugar, permitam-me discordar com algumas ideias aqui expostas que me parecem altamente inverdadeiras:

-> caro gilberto, comparar Co com Couceiro é como comparar água com vinho! E mais, dizer que pontes é "banal" para depois dizer que Couceiro é "um bocadinho superior ao totalmente vulgar", em meu entender, não pode estar mais errado. Couceiro é mau de mais oara ser comparado a qualquer um dos outros dois!

-> papá urso, considerar Pepe de classe mundial parece-me um pouco parcial de mais. Quaresma poderá vir a sê-lo se mudar a sua mentalidade. Neste momento é apenas um jogador acima da média! Lucho terá neste mundial uma oportunidade de mostrar se é realmente de classe mundial ou se fica "só" pelo acima da média. Raúl Meireles não me parece acima da média e Anderson, apesar de prometer, ainda tem muito que mostrar para se confirmar o seu valor (dois ou três jogos não são suficientes).

-> solteirão, não posso discordar mais quando dizes que o treinador pecou por entrar "em conflito com jogadores (caso Jorge Costa, V. Baía, etc) que mereciam maior respeito e/ou pelo menos uma justificação". Os clubes de futebol têm equipas profissionais, logo os seus profissionais têm de o saber ser! Não podem querer sê-lo para umas coisas (ordenados) e para outras não. Numa empresa, se não rendes, se o patrão não está satisfeito contigo, se acha que não és útil para a equipa de trabalho, dispensa-te. No futebol é igual. Ainda mais quando há as quantias exorbitantes que todos conhecemos em jogo! Tanto mais que depois acabas por te contradizer ao afirmar ele conseguiu "o que muitos treinadores não conseguem: Criar uma equipa, na verdadeira acepção da palavra". Como se conseguirá uma equipa? O tempo das vacas sagradas acabou...

 
At 10:37 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Concordo contigo na análise à situação do Baía e do Labreca na Selecção. Para mim, Baía deveria ser o titular da nossa equipa. Tou mesmo a ver o Ricarrdo e o Quim no Mundial... E se virem o Moreira a ser chamado tb não se admirem!

Já no Porto, Co apostou em Baía e qdo este falhou deu oportunidade a Helton e este agarrou-a. Poderá ter falhado qdo voltou a Helton depois deste ter recupedado de uma lesão que o afastou, mas como não sei o que estava "combinado", não posso criticar. Se por outro lado olharmos para o benfica, ainda que eu ache que o Moretto possa ter melhores capacidades que Quim, já teve várias falhas (e aqui pouco importa se sao resultantes da pressão que lhe colocaram em cima ao lançá-lo às feras assim que chegou) mas Koeman, qto mais não fosse para o proteger, não teve coragem de dar o lugar a Quim.

No caso do Jorge Costa não digo que não seja um profissional exemplar. Aliás, se não fosse isso muito provavelmente não teria feito a carreira que fez. Mas também ninguém me garante que o treinador não lhe terá comunicado que não contava com ele no início da época. Penso que o terá feito, mas que ele, precisamente pelo profissional que é, acreditava que poderia convencer o treinador do contrário. Por isso acho que, no fundo, Co acabou por não entrar em conflito com os jogadores pois caso isso tivesse acontecido, não estaria agora a festejar o seu primeiro título! Lembremo-nos do que sucedeu com Del Neri na época anterior e é fácil perceber a diferença!

Resumindo, acho que Co conseguiu uma equipa porque foi coerente!

Ao mesmo tempo, continuo a achar que o futebol português está cheio de "prima donnas" mal habituadas. Bem hajam treinadores como Co capazes de mudar mentalidades!

Para terminar, Costacurta, Cafú, Maldini ou Raúl não se podem comparar com o Jorge Costa (em "mística" até sim, mas em qualidade futebolística para ainda jogarem ao mais alto nível não)! Da mesma forma que nem 51 Brunos Alves chegam aos calcanhares do "Bicho"!

 

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