21 março, 2006

Campeonatos do Mundo - Itália 1934


Mussolini viu no futebol uma forma de fazer propaganda às suas ideias fascistas e conseguiu trazer o Mundial de futebol para o continente europeu. Foi realizada pela 1ª vez uma fase de qualificação, disputada por 32 países (22 da Europa, 8 da América, 1 de África e outro da Ásia).
Agastado com a fraca adesão por parte dos países do velho continente à 1ª edição da prova, para além de problemáticas greves de jogadores, o Uruguai não aceitou defender o título, não participando neste Mundial.
Como é conhecimento do leitor, a selecção tuga não participou no certame, tendo efectuado uma fase de qualificação a roçar o brilhantismo. Calhou-nos em sorte a Espanha, sendo que na primeira mão fomos derrotados em Madrid por 9-0. Em Lisboa, a equipa das quinas “vingou-se”, pois ,apesar de nova derrota, o resultado ficou selado com meros 2-1. Vítor Silva foi o autor do tento solitário da formação treinada por Ribeiro dos Reis, que carimbou a qualificação da Espanha por “sofridos” 11-1. E ainda falamos nós mal do Scolari…
A 1ª etapa da fase final da competição não foi jogada em grupos mas sim num só jogo de “mata-mata”. A anfitriã Itália fez os Estados Unidos atravessarem o Atlântico mais cedo, de regresso a casa, com esclarecedores 7-1. Outra das selecções favoritas, a Áustria, bateu a França após prolongamento, por 3-2.A Bélgica era derrotada pela Alemanha por 5-2 e o Brasil voltava a desiludir em Mundiais após perder 3-1 com a Espanha (“nuestros hermanos” eram bons de bola). A grande revelação da prova Checoslováquia (2-1 com a Roménia), Suiça(3-2 com a Holanda), Suécia(3-2 com a Argentina) e Hungria(4-2 com o Egipto) passavam à 2ª fase.
Um dos confrontos mais espectaculares da prova envolveu as equipas espanhola e italiana. 1-1 foi o resultado de um jogo que nem no prolongamento se resolveu e, como os jogos não eram resolvidos em penaltys( que azar tiveram Veloso, Baggio e Miguel Garcia por não terem jogado nesta época!), foi disputada nova partida. O mítico Giuseppe “Peppino” Meazza(na foto), o melhor avançado italiano da década de 30 que passou por Inter e A.C. Milan, resolveu a questão com um golo solitário e colocou os transalpinos nas meias-finais. A Áustria seguiu-lhe as pisadas, ultrapassando a Hungria após sofridos 2-1.
No estádio San Siro,num campo que mais se assemelhava a um batatal, só comparável ao saudoso Adelino Ribeiro Novo em Invernos rigorosos ou à praia de “Stamford Beach”, em Londres, Itália e Áustria decidiram a passagem à final da prova. Guaita fuzilou o guarda-redes Platzer aos 18 minutos e, para agrado do ditador Benito “Il Dulce” Mussolini, a Itália obtia visibilidade na final.
Os Checoslovacos começavam a ganhar fama no panorama internacional. Despacharam primeiro a Suiça(3-2) e depois a Alemanha, por 3-1. Oldrich Nejedly era o goleador e estrela da comapanhia, sendo o melhor marcador da prova com 5 golos, à frente de Schiavio(Itália) e Conen(Alemanha).
No estádio PNF, antecessor do Olímpico, em Roma, sob o olhar de 55 mil pessoas, o sueco Ivan Eklind dirigiu a 2ª final de um Campeonato do Mundo. Os homens do leste dominaram grande parte do encontro, demonstrando-se especialmente motivados. Realce para os interessantes duelos entre o médio criativo checo Cambal e o italiano Monti. Só aos 70 minutos é que se pôde ver o esférico tocar a rede. Antonin Puc agarrou na bola que tinha sobrado após a marcação de um canto e, de ângulo apertado, não teve piedade para com o “keeper” dos homens da casa, Combi, facturando a 20 metros da baliza. O jogo podia ter ficado resolvido nos minutos seguintes e tal só não aconteceu devido às constantes perdidos por parte de Sobotka e Svoboda. Mas nos últimos 10 minutos de jogo tudo mudou de figura. Raimundo Orsi aproveitou um passe do influente Guaita e, depois de passar toda a defensiva checa, simulou um remate com o pé esquerdo e finalizou com o direito. Chegava ao fim o tempo regulamentar.
A Itália parecia estar destinada a morrer na praia, tendo em conta a lesão de Meazza, que jogava infiltrado.Mas foi isso mesmo que decidiu o jogo. Os jogadores da Checoslováquia deixaram de se preocupar com o histórico atacante, abdicando da marcação cerrada. Aos 95 minutos, Meazza apanhou a bola na ala e fez um passe fatal para Guaita. Este só teve de encostar para Schiavio, que ultrapassou um defesa e bateu Planicka. A Europa ganhava um Campeonato do Mundo pela 1ª vez…
Curioso ainda o facto do médio-centro Luís Monti se ter sagrado campeão do mundo 4 anos após perder a final para o Uruguai…sim, o italiano naturalizou-se depois de ter envergado a camisola da Argentina.

Roma, 10 de Junho
Estádio PNF
Árbitro: Ivan Eklind(Suécia)
55.000 espectadores




Itália:
Combi, Monzeglio, Allemandi, Ferraris IV, Monti, Bertolini, Guaita, Meazza, Schiavio, Ferrari, Orsi

Checoslováquia:
Planicka, Ctyroky, Zenisek, Kostalek, Cambal, Krcil, Junek, Svoboda, Sobotka, Nejedly, Puc

Marcadores: Puc(70);Orsi(82);Schiavio(95)

5 Comments:

At 7:24 da tarde, Blogger Apre said...

Hoje em dia era impossivel um campeão mundial em titulo abdicar por quaiquer razões humanitárias politicas etc!

A Checoslováquia fez nas décadas de 30 a 50 o que a Holanda fez na de 70, o melhor futebol perdeu sempre.

 
At 8:22 da tarde, Blogger José Cavra said...

Mais um grande post!
Mandamil foste uma aposta ganha.
Oa teus relatos dos mundiais de futebol estão a ser divinais.
Fica contudo a promessa de ser eu a postar sobre o méxico 86 e claro... esse grande evento que foi o Coreia/ Japão 2002.

 
At 9:37 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Em 1990, vi uma entrevista de Frantisek Planicka (que alguns dizem ter sido o melhor GR de entre guerras, ainda melhor que Zamora) que, irritadíssimo, dizia ainda afirmava que lhes roubaram um penalty que daria o 0-2 e ter sido carregado no segundo golo italiano, culpando directamente Benito pilamole pelo colo dado à equipa italiana.
Acrescento que, na década de 30, as equipas checoslovacas (juntamente com as austríacas) dominavam as embrionárias competições europeias de então (a pioneira mitropa cup).
O vosso é um dos mais informativos e simpáticos blogs nacionais.

 
At 1:17 da tarde, Blogger José Cavra said...

obrigado pelas palavras carinhosas, amigo Antão.
Realmente diziam q o Planicka era fantástico.
Reza a lenda que foi considerados por muitos mesmo melhor dq o Yashim.

 
At 7:14 da tarde, Anonymous Anónimo said...

MAndamil, viva a seriedade, estou desiludido por nao teres referido a verdade no post. já deu um documentaário em que os responsáveis confessaram..de que na véspera das meias finais Italia - Austria, o Mussolini convidou o arbitro paraj antar em sua casa e chantageou-o em nao deixar a austria vencer, porque a itlaia tinah que vencer. NEssa partida, regista-se agressões dos italianos na ovistas pelo arbitro e lances limpos anulados à austria.. Itália ganhou esse mundial porque mussolini assim o exigiu. (nao sou eu que estou a inventar, existe um documentario disto, mas pronto..como ja foi feito..e na altura nao eraa FIFA que mandava em tudo...ficou assim)
Ass: DipZ

 

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