21 junho, 2006

Campeonatos do Mundo - USA 1994

O cepticismo instalou-se quando a FIFA decidiu atribuir a organização do Mundial de 1994 a um país “estranho” ao futebol. Apesar dos mais pessimistas preverem estádios vazios, o evento foi um sucesso com uma média recorde de quase 70 mil espectadores por jogo.
Os fãs assistiram igualmente ao ressurgir do futebol de ataque, contrastando com o entediante Itália 90. A nova regra da inibição do atraso ao guarda-redes terá contribuído para tal facto, obrigando as equipas a praticarem um futebol mais ofensivo.
Portugal, com Carlos Queirós no leme, falhou a qualificação por pouco. Foi por uma unha negra que Paulo Futre e Cª não estiveram nos Estados Unidades.
Inseridos no Grupo 1 da zona europeia, tivemos como adversários a Itália, Suiça, Estónia, Escócia e Malta.
No final, 6 vitórias, 2 empates em Glasgow e em Berna (na estreia de Abel Xavier, então um jovem parecido com o Michael Jackson dos Jackson 5) e 2 derrotas ante a poderosa Itália.
No jogo decisivo perdemos 1-0 , no Giuseppe Meazza, quando era imperativo ganhar. Foi pena! Ficámos em 3º a 1 ponto da Suiça e 2 da Itália.

Os moldes de Mundial continuavam a ser os mesmos desde 86. 24 Selecções distribuídas por 6 grupos.

Grupo A: USA, Roménia, Suiça e Colômbia
A Colômbia era considerada pela crítica como um dos grandes candidatos à vitória final. Com um conjunto muito forte onde pontificavam Valderrama, Asprillia, Freddy Rincon entre outros, os colombianos venceram facilmente o seu grupo de apuramento, tendo inclusive cilindrado a Argentina em Buenos Aires por 5-0.
Nos Estados Unidos tudo foi diferente. Ficaram em último lugar no grupo A, com 3 pontos fruto de uma vitória contra a Suiça na 3ª jornada.
Na derrota por 3-1 com a Roménia, Andreas Escobar fez o único auto-golo do torneio. Mais tarde no regresso a casa viria a pagar com a vida!
A Roménia com Georgi Hagi em grande forma venceu o grupo com 6 pontos.
Suíça e Estados Unidos com 4, foram 2º e 3º respectivamente. Os americanos conseguiam o seu objectivo de não serem o primeiro país organizador a ficar fora da 2ª fase.

Grupo B: Brasil, Rússia, Suécia e Camarões
Após perderem com a Bolívia o primeiro jogo numa fase de qualificação, muito se especulou sobre a capacidade do Brasil. Parreira montou uma equipa pragmática (talvez o Brasil mais europeu de sempre) suportada em 2 médios defensivos e com a frente de ataque entregue a Romário e Bebeto.
Cedo se percebeu que o escrete era um forte candidato à vitória final, podendo pôr fim ao jejum de 24 anos.
Os canarinhos venceram o grupo com 7 pontos.
Após o desaire 4 anos antes, a Suécia apresentava-se bem melhor conseguindo o apuramento para os oitavos de final ao ser segunda com 5 pontos.
Rússia e Camarões desiludiram.
Os leões indomáveis foram uma sombra da fabulosa equipa que encantou o mundo em Itália, enquanto os russos só deram um ar da sua graça quando golearam os africanos na 3ª jornada por 6-1. Um jogo curioso com Oleg Salenko a fazer 5 golos e Roger Milla a tornar-se aos 42 anos no jogador mais velho a marcar numa fase final do Campeonato do Mundo.

Grupo C: Alemanha, Espanha, Coreia do Sul e Bolívia
Após o discurso do Presidente Clinton, Alemanha e Bolívia abriram o Mundial.
O veterano Klinsmann apontou o tento solitário com que os germânicos venceram a partida.
Os campeões mundiais pareciam uma equipa cansada. Nos jogos seguintes empataram 1-1 com a Espanha e quase desperdiçaram uma vantagem de 3-0 no jogo contra a Coreia.
Apesar de um início algo comprometedor, com um empate a 2 bolas com a Coreia a Espanha passou à fase seguinte com 5 pontos.
Os coreanos despediram-se com 2 pontos mas deram muitas dores de cabeça aos adversários.
Depois de uma estrondosa fase de qualificação, a Bolívia de Erwin “Platini” Sanchez e Marco Etcheverri desiludiu.

Grupo D: Nigéria, Argentina, Bulgária e Grécia
Maradona, que voltou para disputar o playoff contra a Austrália, marcava presença no seu 4º mundial.
O pequeno génio liderou a argentina à vitória nas duas primeiras partidas.
Depois mais um escândalo com o astro a acusar cocaína e a ser prontamente suspenso.
A Nigéria viria de forma surpreendente a vencer um grupo onde 3 equipas acabaram com 6 pontos.
Quanto à Bulgária de Stoitchkov, Kostadinov, Balakov e tantos outros acabados em “ov” ou “ev”, conseguiram dar a volta depois de um começo atribulado que se saldou por uma derrota por 3-0 com a Nigéria. Num dos momentos mais marcantes de sempre Rashid Yekini, então no Vitória de Setúbal, festejou agarrado à rede o tento obtido com uma reza carregada de simbolismo.
A Grécia foi o bombo da festa (AH AH AH AH!!!) despedindo-se da competição com 0 pontos, 0 golos marcados e 10 sofridos.
Em jeito de brincadeira a malta terá dito: “Qualquer dia estes gajos ainda ganham o Campeonato de Europa”!

Grupo E: Itália, México, Rep. Irlanda e Noruega
O grupo da morte, com todas as equipas a acabarem empatas com 4 pontos.
A Noruega acabou por ficar de fora devido ao goal-average.
Depois de uma derrota por 1-0 com a Irlanda a Itália parecia eliminada quando no 2º jogo o guardião Pagliuca foi expulso logo aos 22 minutos.
Arrigo Sachi chocou o mundo ao prescindir do príncipe Roberto Baggio para fazer entrar o guarda-redes da Lázio de Roma Marchegianni.
Dino Baggio fez o golo que valeu à Itália continuar em prova.
O México venceu o grupo.

Grupo F: Holanda, Bélgica, Arábia Saudita e Marrocos
Tal como no grupo D, 3 equipas fizeram 6 pontos.
Marrocos ficou de fora, contudo desenganem-se aquelas que pensam que os africanos foram o bombo da festa. Os marroquinos perderam os 3 jogos sempre pela margem mínima.
O belga Michel Preud Homme, a meses de ingressar no Benfica, presenteou-nos com excelentes exibições ganhando o estatuto de melhor guarda-redes mundial.
Este grupo ficará igualmente marcado pelo excelente golo de Saeed Owairan. Fazendo relembrar Maradona em 86, o saudita arrancou do seu meio campo, passou por meia equipa belga e picou a bola por cima de Preud Homme.
Depois da Coreia do Norte em 1966, uma equipa asiática passava finalmente à 2ª fase.

Oitavos de final
Num grande jogo de futebol a Alemanha liderada por Klinsmann venceu a Bélgica por 3-2. Foi o melhor jogo dos campeões mundiais em terras do tio Sam.
Suiça, Arábia Saudita e Irlanda, foram presas fáceis para Espanha (3-0), Suécia (3-1) e Holanda (2-0).
Órfãos de Maradona, Caniggia, Batistuta e Redondo tombaram aos pés da Roménia. Em mais um grande jogo de futebol, o Maradona dos Balcãs continuou a fazer das suas. Dumitrescu e um ponta de lança de nome Raducioiu ajudaram igualmente no triunfo por 3-2.
O sonho americano acabou aos 80 minutos quando Bebeto marcou o golo que permitiu a passagem do Brasil aos 4ºs de final.
O Brasil jogou 1 hora com 10 homens, após Leonardo num gesto irreflectido ter agredido com uma cotovelada Tab Ramos.
Aos 89 minutos Roberto Baggio impediu a eliminação da Itália, que perdia por 1-0 com a Nigéria. No prolongamento o príncipe marcou novamente, agora de penalty.
Para finalizar a Bulgária eliminou o México nos penaltys, depois de 1-1 no final dos 120 minutos.
Um jogo no mínimo caricato devido à queda de uma das balizas!

Quartos de Final
7 das 8 equipas presentes nos 4ºs de final eram europeias, algo no mínimo curioso se tomar-mos em conta que Inglaterra, França e Dinamarca (campeão europeu) não se conseguiram qualificar.
Os “Baggios” marcaram os 2 golos com que a Itália bateu a Espanha. Caminero fez o tento de honra dos espanhóis.
Em mais um grande jogo de futebol, o Brasil venceu a Holanda por 3-2.
Marcaram primeiro os canarinhos por Romário. Quando Bebeto fez o 2-0 todos pensavam que o vencedor estava encontrado. Louco de alegria o avançado do Desportivo da Corunha festejou o golo, abanando os braços imitando o embalar de um bebe.
A Holanda contudo, não desistiu e viria e empatar na sequência de 2 pontapés de canto. Winter e Bergkamp foram os marcadores.
Já perto do fim, Branco num pontapé livre fulminante, bateu novamente Ed de Goey.
Apesar de exibições pouco convincentes, todos esperavam que a Alemanha avançasse para as meias-finais. Poucos acreditavam na vitória da Bulgária.
Marcaram primeiro os campeões mundiais de penalty.
Depois veio a reacção búlgara.
Stoitchkov marcou de livre directo e Letchkov fez, de cabeça, o 1-2, superiorizando-se a Thomas Hassler. O pequeno nº 8 da Alemanha foi fortemente criticado após este lance.
No último jogo dos 4ºs de final a Suécia venceu a Roménia, no desempate por penaltys. Com 2-2 no final do prolongamento, os suecos foram mais felizes e venceram por 5-4.

Meias Finais
Baggio aniquilou o sonho búlgaro ao marcar os 2 golos que valeram à Itália a passagem à final.
Hristo Stoitchkov marcou o tento de honra da Bulgaria, alcançando Oleg Salenko no topo da lista dos melhores marcadores.
No outro jogo, a resistência sueca durou sensivelmente 80 minutos. Romário de cabeça carimbou a passagem brasileira à final.
O veterano Thomas Ravelli foi grande neste desafio.

3º e 4º lugar
Depois do fiasco em Itália, 4 anos antes, Dahlin, Brolin, Kenneth Andersson, Thern, Limpar, Ravelli, Stefan Schwartz lideraram a Suécia a uma campanha exemplar.
No jogo da consolação os nórdicos derrotaram copiosamente, por 4-0, uma Bulgária desmotivada.



Final
17 de Julho de 1994
Estádio: Rose Bowl em Los Angeles
Assistência: 94,194














Brasil: Taffarel, Jorginho (Cafu aos 22 minutos), Márcio Santos, Aldair, Branco, Zinho (Viola aos 106 minutos), Mazinho, Mauro Silva, Dunga, Bebeto e Romário
















Itália: Paggliuca, Benarrivo, Maldini, Baresi, Mussi (Apolloni aos 34 minutos), Albertini, Dino Baggio (Evani aos 95 minutos), Donadoni, Berti, Roberto Baggio e Massaro

Num mundial de futebol ofensivo, por vezes espectacular, destoou a final.
120 minutos de flagelo onde recordo somente 3 lances.
Uma falha de Paggliuca com a bola a bater no poste, um remate de Roberto Baggio com Tafarel a desviar facilmente para canto e uma emenda que Romário falhou à boca da baliza.

Nos penaltys o Brasil foi mais feliz e venceu por 3-2, sagrando-se tetracampeão.
Roberto Baggio falhou o penalty decisivo!




Melhores Marcadores:
Hristo Stoitchkov (Bulgária):6 golos, Oleg Salenko (Rússia): 6 golos, Romário (Brasil): 5 golos, Roberto Baggio (Itália): 5 golos, Jurgen Klinsmann (Alemanha): 5 golos, Kenneth Andersson (Suécia): 5 golos

3 Comments:

At 10:48 da tarde, Blogger Tiago Gonçalves said...

Foi a primeira vez que se ouviu em território norte-americano aquele grito tipicamente setubalense "Vai Jéquim! Marrca-me esse gole!".

 
At 9:17 da manhã, Blogger Rotura de ligamentos said...

A foto da Azzurra é de 98, creio.

 
At 3:24 da manhã, Anonymous Anónimo said...

O auto-golo de Andrés Escobar foi no jogo contra os EUA (no Rosebowl, em Pasadena, Califórnia), não contra a Roménia.

 

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