04 abril, 2006

Campeonatos do Mundo - Brasil 1950

Depois da II Guerra Mundial, o Brasil acolheu o Mundial. O país foi o único candidato à organização do evento, sendo considerado uma boa escolha, pois o entusiasmo pelo futebol estava a aumentar progressivamente na Pátria de Pelé e os países da Europa apresentavam ainda marcas visíveis da Grande Guerra. A Inglaterra fez a sua primeira participação, a Argentina recusou-se a jogar no país rival, enquanto Checoslováquia e Escócia não quiseram participar.
O formato teve semelhanças com aquele utilizado no Uruguai 1930, ou seja, a primeira fase foi disputada em grupos. Porém, estes não apresentavam um número igual de equipas. Os grupos 1 e 2 continham 4 equipas cada, enquanto o terceiro tinha 3 e o 4 somente duas equipas.
Os anfitriões venceram o México, por 4-0, a Jugoslávia(2-0) e cederam um empate a duas bolas frente à Suiça, qualificando-se no seu grupo. No último agrupamento, em que apenas se apresentavam duas formações, o Uruguai manietou a Bolívia por 8-0.
Nos grupos 2 e 3, Itália e Inglaterra não confirmaram o seu favoritismo.
Os britânicos tinham derrotado uma selecção do Resto da Europa, por 6-1, o que lhes conferia importante estatuto. Começaram por vencer o Chile(2-0) e o jogo contra os E.U.A., em Belo Horizonte, parecia destinado a novo triunfo. Apesar disso, os americanos conseguiram facturar aos 37 minutos. Gaetjens respondeu, de cabeça, a um cruzamento de Bahr. Os ingleses tudo fizeram para promover a reviravolta no marcador, mas o guarda-redes contrário mostrou-se intransponível. Os “bifes” viriam a ser eliminados, após derrota por 1-0 frente à Espanha, vencedora do grupo.
A Itália teve o seu momento fatídico frente à Suécia. Os transalpinos até começaram bem, com um golo de Riccardo Carapellese aos 7 minutos. Ainda antes do fim dos primeiros 45 minutos, os suecos marcaram por duas vezes, por intermédio de Jeppson e Sune Andersson. Jeppson viria a bisar, com Muccinelli a fixar o resultado em 3-2 a favor dos nórdicos.
Brasil, Uruguai, Suécia e Espanha formaram um grupo final, do qual sairia o vencedor da prova e, por isso, é correcto afirmar que este Mundial não teve uma final propriamente dita, mas antes um jogo claramente decisivo.
Os canarinhos venceram os dois primeiros jogos, com claros 7-1 frente à Suécia e 6-1 contra a Espanha. O Uruguai venceu a Suécia(3-2) e cedeu um empate frente à Espanha(2-2). Os dois países sul-americanos eram, portanto, as únicas equipas que podiam chegar ao título.
Os canarinhos lideravam o grupo final com 4 pontos, necessitando apenas de empatar com os uruguaios(2 pontos) para manter o caneco em casa.
Perto de 200 mil pessoas assistiram de perto à partida, num Maracanã sobrelotado.
Mesmo precisando apenas de um empate, os brasileiros atacaram mais e encostaram o adversário às cordas. O tridente atacante Ademir, Zizinho e Jair bem tentava inaugurar o marcador, mas o “keeper” Maspoli fez o jogo da sua vida. Dois minutos após o inicio da 2ª parte, Friaca marcou, a passe do goleador Ademir. Os anfitriões faziam a festa.
O treinador Flávio Costa, em posição privilegiada para conquistar o troféu, mandou Jair jogar perto da defesa. O avançado ignorou o treinador e o Brasil não alterou o seu sistema de jogo. O experiente capitão uruguaio Varela não atirou a toalha ao chão e levou a sua equipa à vitória. O ala direito Ghiggia não deu descanso ao lateral brasileiro Bigode e , aos 66 minutos, cruzou para a estrela da companhia, Schiaffino(na foto), que facturou de cabeça.
O Brasil procurava nova vantagem, mas o Uruguai equilibrou a partida. A vitória podia pender para qualquer um dos lados. Ghiggia continuava a fazer o que queria do defesa-esquerdo do “escrete” e, quando todos esperavam um cruzamento, o extremo, com um remate em corrida, colocou a bola entre o poste e o guarda-redes Barbosa. 10 minutos depois o árbitro apitava para o final. 1-2 era o resultado final.
O impossível tinha acontecido. Num nobre gesto de “fair play”, os ainda atarantados adeptos da casa aplaudiram os vencedores. Foi o renascer da maior competição mundial de futebol, após um período negro para o globo.


Brasil: Barbosa, Augusto, Juvenal, Bauer, Danilo, Bigode, Friaca, Zizinho, Ademir, Jair, Chico.


Uruguai: Maspoli, M.Gonzales, Tejera, Gambetta, Varela, Andrade, Ghiggia, Perez, Miguez, Schiaffino, Moran.

Marcadores: Friaca(47), Schiaffino(66), Ghiggia(79)
Árbitro: George Reader( Inglaterra)
199.854 espectadores

11 Comments:

At 9:12 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Ena, ena! Um espaço futebolisticamente divertido!
Beijinhos!
Daniela Mann

 
At 4:14 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Um artigo interessantíssimo, dou desde já os parabéns.

 
At 1:04 da tarde, Blogger José Cavra said...

Aquelas mãos crueis de Barbosa deixaram escapar o título.

 
At 1:10 da tarde, Blogger José Cavra said...

Belo Post! Estás a fazer um excelente trabalho com a rúbrica "Mundiais de Futebol", contudo já estamos em Abril... pelo que a cadência da mesma tem q ser aumentada.

 
At 1:28 da tarde, Blogger Tiago Gonçalves said...

Se tudo correr bem estará terminada na 1ª semana de Maio.

 
At 1:57 da tarde, Blogger Tiago Gonçalves said...

“Sem esse golo a minha vida teria sido diferente. Jamais o Brasil me deixaria conhecer a fome. Recordo-me do golo como se o tivesse sofrido ontem. Já o revi centenas, milhares de vezes, e tive de me justificar todas essas mesmas vezes. Não posso me sentir responsável pela derrota. Não é por considerarem-me culpado ou não que a história irá mudar. No Brasil só os vencedores ganham a estima, o dinheiro e o respeito de todos. Ser segundo é pior do que não ser nada de nada. Uma vez, nos anos 80, uma velha mulher com o seu pequeno filho pela mão reconheceu-me numa loja e disse-lhe apontando para mim: Olha, foi ele que fez chorar milhões de brasileiros...” Barbosa

 
At 3:11 da tarde, Blogger Jota said...

Não deixa de ser cruelmente irónico. A equipa brasileira de 1982 é recordada por todos com saudade e nem à final chegou. Estes falharam apenas no último jogo e viraram escumalha. Só o pé na bola para gerar sentimentos assim.

 
At 3:19 da tarde, Blogger Tiago Gonçalves said...

Ah,faltou-me dizer que a selecção da Índia cancelou a sua participação nas eliminatórias porque não era permitido aos atletas jogarem descalços...

 
At 2:15 da manhã, Blogger Antão Bordoada said...

Permitam-me acrescentar alguns factóides: o tipo que marcou o golo dos yankees contra os Ingleses era de origem haitiana, trabalhou como lava pratos num restaurante da rua 44 em NY voltou ao seu país e morreu num episódio de vingança privada num dos muitos períodos conturbados da história do seu país de origem. Julgo que foi aquando da ascensão ao poder do terrível Papa Duvalier.

 
At 3:59 da manhã, Blogger Antão Bordoada said...

(Os srs. desculpem mas houve práqui um crash).
Dizia eu que entre as várias histórias absurdas de '50 também se contam estas: o jogo decisivo ficou de tal modo enxertado no imaginário brasuca que além das velhas histórias dos suicídios terem aumentado, da lenda do burro enterrado sob a baliza do Barbosa por um adepto de um clube rival depois dele ter feito uma magnífica exibição contra esse clube (durante muitos anos foi considerado o melhor gr brasileiro até Leão pelos entendidos do meio) que explicou a derrota, da outra sobre os postes que teriam sido queimados num "exorcismo" para se descobrir que tinham sido retirados e vendidos a um macumbeiro (ainda há uns três anos vi um programa da bola da globo sobre isso),ha uma coisa muito mais impresionante. Houve um tipo, montador de profissão (de fitas, rapazes, de suportes audiovisuais) que transpôs o filme para video e o montou com uma jogada da primeira parte, recolhida por uma câmara de uma bancada diferente, mostrando um remate da mesma zona do campo que vai ao poste. Feito isto, o tipo ganhou uma pipa a mostrar isto à velharia que tinha amargado essa derrota e que, não obstante o Brasil ser já tricampeão, não se capacitavam com aquele resultado.

 
At 4:19 da tarde, Blogger Antão Bordoada said...

Isto está mal explicado mas ontem o computador estava a fazer birras; a adulteração do filme do jogo tinha como objectivo mostrar uma "realidade paralela" na qual o jogo acabava empatado (que era o resultado que o Brasil necessitava para ser campeão. É o melhor exemplo de demência futebolística que eu conheço. Só mais um acrescento: a estrela do Brasil era o jogador preferido de Pelé, Zizinho, do qual o próprio diz que era melhor do que ele.

 

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