30 janeiro, 2006

Superliga Europeia: para quando?

A temporada 2005/06 está a ser muitíssimo curiosa. Estamos apenas sensivelmente a meio da época e chegamos à conclusão de que os campeões daqueles que são os campeonatos mais competitivos da Europa já estão encontrados, a não ser que aconteça algum cataclismo. Será que começa a ser tempo de se pensar a sério numa Superliga Europeia?

O ranking da UEFA é, penso que é pacífico admitir, o grande medidor da qualidade dos vários campeonatos europeus. E esse ranking diz que Espanha, Itália, Inglaterra, França e Alemanha possuem, por esta ordem, as ligas mais fortes do Velho Continente. Mas será que uma liga pode ser forte e interessante quando no final da primeira volta o campeão já está praticamente encontrado? Senão vejamos:

Espanha: Ao fim de 21 jornadas (17 por disputar), o Barcelona lidera a classificação com 52 pontos, mais 12 que o Valência e mais 13 que o Real Madrid.

Itália: Com 22 rondas realizadas (a 16 do fim, portanto), a Juventus já soma 59 pontos, oito a mais que o Inter e 12 a mais que o AC Milan.

Inglaterra: À 23ª jornada (15 para o final), o Chelsea tem 62 pontos, mais 14 que o Manchester United e mais 18 que o Liverpool. Os “reds” têm dois jogos em atraso, mas mesmo que ganhem, ainda ficam a 12 pontos dos “blues”.

França: Disputadas 24 jornadas (restam 14 para disputar), o Lyon, mesmo com um jogo em atraso, já tem 54 pontos, nove de avanço sobre Bordéus e 12 sobre o Auxerre.

Alemanha: Realizadas 18 jornadas (faltam 16), o Bayern Munique leva 47 pontos somados, mais oito que o Werder Bremen e mais nove que o Hamburgo.

O mais curioso é que todos estes líderes são os actuais campeões dos respectivos países. Ou seja, estes campeonatos parecem estar a tornar-se marchas solitárias rumo ao título, ficando a emoção para as restantes lutas: Liga dos Campeões, Taça UEFA, Taça Intertoto e manutenção. A juntar a isto, tenho um certo “feeling” de que o actual modelo da Liga dos Campeões ainda não é a fórmula ideal para a UEFA. Ou alguém acredita que o organismo que rege o futebol europeu tenha ficado encantado com uma final FC Porto-Mónaco? Como é sabido, a UEFA tem feito tudo para que a liga milionária seja um grande despique entre os grandes tubarões da Europa. E o modelo actual ainda não garante isso.

Para mim, como adepto de futebol, a Superliga europeia seria uma opção extremamente interessante. Quem não gostaria de ter todas as semanas um Real Madrid-Juventus, um Manchester United-Barcelona, um Bayern-Inter, um Milan-Chelsea, etc? O problema é que esta competição seria o fim dos campeonatos nacionais tal como os conhecemos. Mas seria também a evolução natural do futebol.

Recordo que o futebol, pelo menos em Portugal, começou por ter como provas mais importantes os campeonatos regionais, no início do século XX. Mais tarde, em meados dos anos 30, surgiu o campeonato nacional (primeiro conhecido por I Liga). Para essa prova apuravam-se os melhores classificados de cada regional, todos os anos, isto é, não havia subidas nem descidas de divisão. As equipas classificadas a seguir iam para a II Divisão e assim sucessivamente. Só em 1946/47 é que o sistema foi alterado e passou a haver subidas e descidas. Os campeonatos regionais passaram então a albergar equipas sem lugar nos nacionais. Mais tarde surgiram as provas europeias, para as quais o apuramento era feito a partir das classificações nos campeonatos nacionais e nas taças. Mais tarde a UEFA alterou o modo de funcionamento dessas provas, extinguindo a Taça das Taças e abrindo a Liga dos Campeões a várias equipas do mesmo país.

Penso, sinceramente, que o caminho a seguir é transformar as provas europeias em verdadeiros campeonatos, com pelo menos três escalões. Haveria uma I Liga, com, por exemplo, entre 16 e 20 equipas, jogando todas contra todas a duas voltas. Haveria uma II Liga, dividida em duas séries, também com 16 a 20 equipas. As séries poderiam ser Norte (com Inglaterra, Alemanha, França, Holanda e outros) e Sul (com Espanha, Itália, Portugal, Grécia, Turquia e outros). No final subiam duas equipas de cada série e desciam quatro da I Liga. A III Liga teria quatro séries, igualmente de 16 a 20 equipas, divididas igualmente de forma geográfica, mas de maneira a assegurar competitividade idêntica. Subiriam igualmente duas equipas de cada série, descendo quatro de cada uma da II Liga. Os últimos classificados da III Liga seriam despromovidos aos campeonatos nacionais (que passavam a funcionar como os actuais regionais) e dos nacionais subiria o campeão à III Liga europeia.

Pensando em Portugal (mas também se aplica a outros países), existem obviamente alguns problemas que se colocam:

Primeiro: Duvido que alguma equipa portuguesa pudesse actualmente jogar numa I Liga europeia. Penso que os três grandes andariam pela II Liga. No entanto, como adepto, confesso que preferia todas as semanas ver o Sporting defrontar o Atlético de Madrid, o Sevilha, o Espanyol, a Fiorentina, a Roma, a Lazio, o Olympiakos, etc, do que o Penafiel, o Rio Ave, o Estrela da Amadora e por aí fora. É certo que numa competição europeia haveria muito mais despesas em transportes, mas as receitas seriam igualmente muito maiores, tanto as de televisão como as de bilheteira.

Segundo: Sem os tradicionais grandes, os campeonatos nacionais poderiam perder muito interesse. Não penso tanto assim. Sem grandes, penso que seria uma boa ocasião para as pessoas apoiarem os clubes das suas terras, o Vitória de Setúbal, o Vitória de Guimarães, o Beira-Mar, etc, podendo ainda apoiar um dos grandes na Liga europeia. Haveria, estou certo, grande competitividade na luta pelo título, que daria acesso ao futebol europeu. Se calhar teríamos mais gente nos estádios do que hoje.

Em resumo, penso que este será o caminho correcto a seguir para se transformar o futebol num espectáculo desportivo ainda maior, ao nível das grandes competições desportivas dos EUA (NFL, NBA, NHL e MLB), que movimentam milhões, tanto em termos de dinheiro, como de espectadores e telespectadores.

PS - Sabiam que pelo esquema antigo, de apuramento para os nacionais através dos regionais, o FC Porto deveria ter ficado de fora da I Divisão em duas ocasiões? O distrital do Porto apurava os dois primeiros para o nacional e em 1939/40 e 1941/42 o FC Porto foi apenas 3º classificado. Mas dois oportunos alargamentos, primeiro de oito para 10 equipas e depois de oito para 12 resolveram o problema e lá puderam os dragões competir, somando tantas presenças no primeiro escalão como Benfica e Sporting.

6 Comments:

At 3:47 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Ora aí está uma excelente ideia que devia ser ouvida e aperfeiçoada por quem de direito mas que muito sinceramente duvido que aconteça num futuro próximo pois, como todos sabemos, se há modalidade em que é difícil mudar alguma coisa é no futebol.

Qto aos contras apresentados... Sim, é verdade que as despesas aumentariam com as viagens, mas penso que com uma calendarização adequada como na NBA tudo se ultrapassaria. Já agora, podiam ir buscar mais um belo exemplo à NBA na ajuda ao controlo de custos: os tectos salariais por equipas! Se não estou em erro, na NBA todas as equipas têm um tecto igual para o montante total dos salários dos jogadores. Penso que esta seria uma bela medida a adoptar que ajudaria não só ao equilíbrio financeiro dos clubes mas também ao desportivo! A não ser que muitas vedetas baixassem o churudo (que continuaria a sê-lo, mas de forma mais comedida) salário (estilo Karl Malone aquando da passagem por LA), os monopólios não seriam tão acentuados!

 
At 3:51 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Amigo octavio, acdredito que nos custe um bocado a mudança, ainda mais uma tão radical. Mas lembremo-nos que cada vez mais somos uns EUE (Estados Unidos da Europa) e que tal como lá, podemos ter campeonatos estatais (os nossos nacionais) e uma liga profissional nacional (no nosso caso europeia). Claro que dificilmente teríamos mais que uma ou duas equipas na principal liga, mas isso revela a nossa pequenez em termos de futebol nacional. Isto só nos obrigaria a tornar-nos melhores e a puxarmos todos para o mesmo lado. Sei que sou um pouco utópico, mas talvez ajudasse a que nos deixassemos de guerrinhas de dirigentes que nada contribuem para a melhoria do espectáculo e consequente aumento do nr de espectadores e receitas!

 
At 8:01 da tarde, Anonymous Anónimo said...

A ideia seria a salvação do interesse do público no pé-na-bola, mein freund, sem falar no $ que movimentaria e criaria. Em termos macroeconómicos (bonito)seria fantástico. Mas o problema são as ambições, como dizia o ex-atleta Mantorras. Será que o amor à Pátria - tão em voga hoje em dia - aguentaria anos e anos a fio sem nenhum campeão português da I Liga europeia, ou mesmo da II Liga? Em termos de "regionais" seria também fantástico. Já falámos das pessoas que são adeptos do Rebimbocas de Baixo e do Benfica e da contradição em que vivem. É por causa das ambições... é como a lenda do "voto vencedor" nas eleições: precisam estar associadas a algo que vença e, obviamente, não seria o Rebimbocas de Baixo, a não ser no campeonato de Damas da freguesia.

Post Scroptum: estou altamente ressentido pelo péssimo tratamento que deste ao Rio Ave no seu bitaite. Fica aqui o triste registo.

 
At 12:30 da manhã, Blogger Jota said...

Dear Silly Nick (Nicolau Estúpido?), tens razão nesse aspecto, a populaça portuguesa convive mal com o insucesso (apesar deste país ser ele próprio um insucesso com I grande). Como tal, seria um rude golpe em muitos adeptos lagartos, lampiões ou andrades verem-se de repente numa II Liga europeia ou numa I Liga a lutar para não descer. Daí que o mais provável fosse vermos grande parte dos adeptos tugas filiarem-se no Real Madrid, na Juventus, no Chelsea, etc. O mesmo se passa por cá, com a maioria dos habitantes de outras cidades, vilas e aldeias a apoiarem os três estarolas e a cagarem no clube da terra. Eu sou um desses casos, embora tenha as quotas do Vitória em dia. Por isso penso que a evolução natural do futebol passa por esta competição, numa altura que a Europa é cada vez mais uns EUE, como disse o caro Rika num comentário em cima.

Peço desculpa pela ofensa ao honrado Rio Ave, mas a culpa é tua. És um dos raros gajos que conheço que puxa por um clube "pequeno", daí que quando penso num clube "pequeno", este vem-me logo à carola...

 
At 4:20 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Mais uma vez fui ofendido pelo amigo. Não me chamo Nicolau Estúpido, mas sim Nicolau Parvo. Lamentável. Mais uma vez, como uma disse o nosso pouco experiente colega Eugénio Q no seu blog, «o Rio Ave é, e sempre será, um pequeno grande clube».

 
At 10:08 da tarde, Anonymous Anónimo said...

concordo. é para isso que estamos a caminhar. obviamente, quem participasse nessa liga abandonava o campeonato nacional.

ninguem teria interesse de disputar 2 jogos por semana durante meses, sendo que a competição que da dinheiro e prestigio seria a superliga.

no caso de descer da 3 divisao, regressaria á 1 divisao do seu campeonato nacional. acho que assim seria possivel termos uma superliga.

 

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