24 janeiro, 2006

Deixem treinar o Paulo Bento!

Tenho lido e ouvido nos últimos tempos muitas críticas de sportinguistas em relação à escolha, primeiro, e à sua prestação no cargo, depois, de Paulo Bento para treinador principal do Sporting. O maior argumento utilizado nessas críticas é o da falta de experiência. Paulo Bento não é, obviamente, uma velha raposa do futebol, pelo menos enquanto treinador, mas, na minha opinião, não só não merece as críticas, como merece a oportunidade para mostrar o que vale. E isso só poderá acontecer se se mantiver no cargo na próxima época, o que espero que aconteça.

Paulo Bento, para já, tem um currículo impressionante como treinador. Uma época, uma prova disputada, um título. Cem por cento de eficácia. Claro que foi apenas um título nacional de juniores, mas não deixa de ser um bom começo. E o Sporting, apesar de ter claramente a melhor escola portuguesa de jogadores, tem menos títulos nas camadas jovens que Benfica e FC Porto. Como treinador principal, Paulo Bento não pode fazer mais do que tentar salvar o que for possível, isto é, tentar ficar entre o 3º e o 5º lugares, conseguindo o apuramento para uma prova europeia, e começar a preparar a próxima época.

Para já, posso dizer que estou satisfeito com o trabalho de Paulo Bento à frente da equipa principal do Sporting. Tanto em termos estatísticos, como de atitude. Fiz uma pequena e rápida pesquisa estatística, para comprovar que o ex-trinco internacional português, em termos de resultados, não se tem saído assim tão mal quanto isso. Para tal comparei o seu rendimento com o de José Peseiro no Sporting e com o de José Mourinho no Benfica e no FC Porto, quando teve pegar nas equipas com a temporada em andamento.

José Peseiro, na época passada, somou 61 pontos em 34 jogos, o que dá uma média de 1,79 pontos por jogo. No período em que dirigiu a equipa nesta temporada, o campino ainda fez pior: 12 pontos em 7 jogos, média de 1,71 por jogo. Paulo Bento, para já, somou 22 pontos em 12 jogos, o que dá uma média de 1,83 pontos por encontro. Em todo o caso, melhor do que Peseiro. Em termos classificativos, Paulo Bento encontrou o Sporting em 7º lugar e colocou-o, para já, em 5º, apesar de a diferença para o líder ter aumentado entretanto de 5 para 9 pontos. Convém não esquecer que, neste período, os leões jogaram no Bessa, no Dragão e em Braga, tendo perdido apenas um desses jogos. As nódoas foram mesmo a derrota com o Estrela e o empate com o Marítimo.

Em 2000/01 José Mourinho chegou ao Benfica à 5ª jornada, substituindo Jupp Heynckes. Orientou a equipa em 9 jogos da I Liga, somando 17 pontos, média de 1,88 pontos por jogo. Apenas mais 0,05 que Paulo Bento, actualmente. O Special One chegou à Luz com o Benfica em 7º lugar e deixou-a com a equipa em 6º, mas a distância pontual para o líder aumentou entretanto de 5 para 7 pontos. Além disso, também foi sob a orientação de Mourinho que o Benfica foi eliminado da Taça UEFA. Ainda com Heynckes, a equipa encarnada tinha perdido por 1-2 fora com o Halmstads, mas a eliminação consumou-se já com o actual treinador do Chelsea no banco, após um empate 2-2 na Luz. Nas Antas, Mourinho entrou à 20ª jornada de 2001/02, substituindo Octávio Machado. Somou 35 pontos em 15 jogos, uma média bastante razoável de 2,33 pontos por jogo. Conseguiu levar a equipa do 5º ao 3º lugar, mas a diferença pontual para o líder e depois campeão Sporting nunca foi encurtada: 7 pontos à chegada, 7 pontos no final da prova. Pelo meio ficaram alguns deslizes, como a derrota caseira com o Beira Mar e o empate com o Alverca, a juntar à derrota no Restelo por 0-3.

Pelos números, e parafraseando o nada saudoso ex-treinador do Sporting, Paulo Bento ainda merece ter crédito junto dos sportinguistas. Para além disso, Bento ainda pode queixar-se de ter herdado um dos piores plantéis leoninos dos últimos anos. Hugo Viana, Rochemback, Enakarhire, Rui Jorge e Pedro Barbosa, indiscutíveis na época passada, deixaram o clube, por diferentes razões. Já com o actual treinador, o Sporting sofreu mais duas baixas, Rogério e Beto, que saíram de Alvalade por vontade própria. Ao todo, são sete titulares, ou no mínimo, jogadores bastante utilizados. É certo que Paulo Bento abdicou de outros jogadores, como Wender, Paíto, Edson, Pinilla, Silva e Varela, que, ao todo, somaram 586 minutos no relvado para a Liga, esta época. Ou seja, nenhum destes jogadores se conseguiu impor no Sporting, com ou antes de Paulo Bento.

Em comparação com, por exemplo, José Peseiro, o actual técnico tem, pelo menos, duas vantagens. Por um lado, na imposição da disciplina, coisa que, como é sabido, não existiu em Alvalade durante os 16 meses de reinado do coruchense. Não me parece que um jogador que mande Paulo Bento “tomar” num certo sítio tenha muita sorte. Não sei se o afastamento de Beto do onze terá a ver com disciplina, mas concordei com ele. Beto, alegadamente grande sportinguista, não tardou a querer fugir assim que perdeu o seu lugar cativo na equipa. Se calhar foi esse lugar cativo que o levou a estagnar enquanto jogador, há alguns anos. Pensando bem, as únicas épocas decentes que Beto fez no Sporting foi com parceiros experientes ao lado, nomeadamente Marco Aurélio e André Cruz. Quando foi ele a ter de comandar a defesa, as coisas raramente correram bem. Eu ainda penso que Beto é melhor que Polga, mas não fico chocado com a sua saída. A única situação que não compreendo e na qual não apoio Paulo Bento é na sua insistência em Sá Pinto. O agora capitão tem um rendimento fraquíssimo e até perigoso para a equipa, como se viu nos dois últimos jogos. É um mistério que gostava de ver esclarecido. A outra vantagem de Paulo Bento é a forma como fala na Comunicação Social. Ao contrário de Peseiro, que aparecia inchado quando ganhava e se engasgava quando perdia, Bento mantém sempre a mesma atitude confiante e só responde ao que lhe interessa e da forma que lhe interessa. Um pouco à Mourinho, salvo seja.

Muitos adeptos do Sporting exigem ter um treinador de renome internacional. Parece-me mal pensado. Para já, existem poucos nomes que dão garantias de sucesso, isto é, que tenham um currículo totalmente à prova de desconfianças: José Mourinho, Rafa Benitez, Arsene Wenger, Alex Ferguson, Fabio Capello, Marcello Lippi, Guus Hiddink, Otmar Hitzfeld, Otto Rehhagel e poucos mais. Estes estão claramente fora do alcance do Sporting, nesta altura. Outros há que têm currículos impressionantes, na América do Sul, por exemplo, mas que falharam rotundamente na Europa. Os casos mais recentes foram os de Wanderlei Luxemburgo e Carlos Bianchi, recém-demitidos dos dois maiores clubes de Madrid. Portanto, e para evitar fiascos como estes e como Waseige, Materazzi, Souness, Heynckes, Del Neri e Fernandez, porque não deixar Paulo Bento mostrar o que vale no início de uma época, com um plantel formado por ele? Até pode dar certo!

10 Comments:

At 5:40 da tarde, Blogger José Cavra said...

Sinceramente gosto de Paulo Bento. É disciplinador. Não tem medo de punir. Todos sabemos k o SCP tinha alguns jogadores que faltaram ao respeito a Peseiro. Lamentável!
A disciplina é meio caminho para o sucesso de uma equipa.
COntudo, não nos podemos esquecer que o plantel do SPorting tem carências ao´nível da qualidade, nomeadamente nas alas (à frente e atrás) e no centro da defesa.
A próxima época terá q ser rigorosamente planeada.
Benfica e Porto parecem em clara vantagem.

 
At 6:56 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Caro Jorge, começo por felicitá-lo por mais um belo "post", coisa que, felizmente, já tem habituado os assíduos leitores do blog, como é o meu caso. Mas passando ao que realmente interessa deixo aqui o meu comentário. Quanto à primeira parte do "post" concordo plenamente que se deva dar tempo ao Paulo Bento e que, para já, tem o mérito de ter disciplinado o balneário leonino. Do que tenho ouvido, arrisco mesmo dizer, que tem também disciplinado alguma comunicação social que estava habituada à conversa empastelada do ribatejano. Tal como o Jorge, também, não concordo com a inclusão na equipa titular do Sá Pinto que tem trazido mais desvantagens do que benefícios à equipa. Se Paulo Bento quer conferir alguma experiência à postura da equipa, esse tiro saiu-lhe muito ao lado. O atitude do Sá só me faz lembrar aqueles arruaceiros que minam os distritais.
Quanto à saída do Beto, e refiro-me à segunda parte do "post", "cheira-me" a uma limpeza de balneário que começou precisamente com... Paulo Bento. Talvez o Beto tenha sido a última peça desmantelada do núcleo duro do balneário, após as saídas de Rui Jorge e Pedro Barbosa. O tempo o dirá...

 
At 4:55 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Caro Gonçalo, discordo por completo com a tua avaliação sobre o Sá Pinto. Ele não transmite nada de bom à equipa: nem liderança, nem garra, muito menos espírito. Um jogador que comete aquele tipo de faltas na área, é um mau exemplo para os companheiros. Nem nos infantis se vêem faltas daquelas. A única vez que o vejo pressionar os árbitros é para justificar a merda que faz. E desde que quando é que um jogador que agride um seleccionador é referência para alguém? Nem para o filho dele deve ser. Líderes são John Terry, Frank Lampard, Luisão, Jorge Costa, Patrick Vieira, entre outros.

 
At 5:26 da tarde, Blogger Jota said...

O Sá Pinto sempre caiu no goto da maioria dos sportinguistas, vá lá saber-se porquê. Tecnicamente já foi um bom jogador, sem dúvida, mas hoje é uma nódoa (como mostram as bolas que perde e os golos que falha). De resto, a garra foi um cliché que lhe foi colado, sem motivos para mim. Garra não é correr que nem um doido, protestar com tudo o que mexe, agredir treinadores-poetas, impedir colegas de marcar penalties, etc. Garra tem o Liedson, que corre, pressiona, desmarca-se, assiste e factura (às vezes também falha). Se todos tivessem esta atitude, bem estaria o Sporting. Um amigo meu, adepto do Rio Ave e portanto com distância para abordar assuntos dos "grandes", aventa a hipótese de o sangue azul do Sá Pinto lhe ser o garante da titularidade. Ou então, sendo ele abonado financeiramente, mesmo sem o futebol, até pagará para jogar no Sporting. Já não digo nada...

 
At 6:23 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Um belo post sem dúvida.
Com Gilberto Mandamil e Francisco Beck. cada vez mais ausentes,Octávio e Alexi a esquecerem-se de escrever e José Cavra numa de falar de Boxe e Basquet e sempre bom ler os teus posts Frank.
Mtos parabéns

 
At 7:05 da tarde, Blogger José Cavra said...

E a antevisão do jogo de sábado?!
não fazem?!

 
At 1:22 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Gonçalo,

Não quero parecer chato neste ponto, mas essa história do "senhor" passou-se entre o João Moutinho e o Pedro Barbosa. Nessa altura, o Sá Pinto estava no ginásio a pedalar com vista para o campo de treinos de Alcochete.

 
At 10:59 da manhã, Blogger Jota said...

O Sá Pinto devia ser tratado por Dom, não por senhor, dadas as suas origens.

Cavra, cá vai a minha antevisão do derby: Benfica-Sporting, 3-1. Talvez 1-0 ao intervalo, na segunda parte 3-0 e perto do fim 3-1. Não arrisco marcadores.

 
At 12:51 da tarde, Blogger José Cavra said...

Eu tb aposto na vitória do Benfica.
Benfica 2 Sporting 0.

 
At 5:38 da tarde, Blogger Jota said...

Só é pena que, tal como os outros dois senhores, o senhor Sá Pinto não tenha sido também posto a andar... Mas enfim, faltam apenas quatro meses para a despedida dessa figura. Espero que não haja retrocesso na decisão de abandonar o futebol. E espero também que não se lembrem de o colocar a treinar as camadas jovens. Uma equipa treinada por ele faria o Boavista de Jaime Pacheco parecer o Coral Luísa Todi...

 

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