HISTORIAS DO BESSA - O Mito do Erivan de Glasgow
Caro povo, estou de volta após a minha demorada ausência, da qual me desculpo desde já. Os deveres como Assistente Secundário de Pré-Preparação de Estágios das Camadas Jovens do Padroense FC têm sido uma constante, e tenho tido pouco tempo para as andanças jornalísticas.
Como havia prometido, na 2ª das Historias do Bessa, trago-vos a lendária e inesquecível história... do Erivan de Glasgow! É uma história longa, mas vale cada bocadinho!
Erivan, jovem lateral esquerdo brasileiro, assinou pelo Boavista na histórica época de 2000/01, e com a lesão de Quevedo, cedo garantiu o lugar na equipa de Jaime Pacheco... visto que não havia mais laterais esquerdos...
Entre os adeptos axadrezados, Erivan ganhou a carinhosa alcunha de “O Buraco”, devido á sua incrível capacidade de falhar qualquer bola aérea que se cruzasse para o lado esquerdo da defesa. Desenvolveu também ao longo das épocas ao serviço do BFC uma impressionante habilidade em atrasar a bola perigosamente para o Ricardo, fazer preciosas assistências para os avançados contrários, e acima de tudo, uma noção de posicionamento digna dos melhores amadores do sec.XIX.
(podemos vê-lo nesta foto escondido atrás de Frechaut, aquando a imposição das faixas de campeão de 2001)
Envergando o dorsal numero 6, parecia já não haver esperança para este jovem brasileiro, que a cada semana, parecia criar novas formas de golos adversários, sendo que eu acredito mesmo que com tanta criatividade ele daria um excelente nº10... sorte do Sanchez de ninguém mais se ter lembrado disso na altura...
Numa altura em que o Boavista começava a somar participações historicas nas competições europeias, não deixava de ser cómico ver o Erivan disputar lances com jogadores como Cafu ou Steven Gerrard...
Mas então... porque raio merece o Erivan um post n’o blog da Malta? Simples...
A historia remonta a 2002/03, quando o Boavista heroicamente disputava a meia final de uma histórica taça UEFA com o Celtic de Glasgow comandado por Martin O’Neil, que viria a perder a final com o FC Porto de José Mourinho (sabem quem é, não sabem?). A primeira mão foi agendada para o Celtic Park, cuja lotação esgotada previa um verdadeiro espectáculo de futebol. O Celtic cintilava com estrelas como Vargas, Baldé, Lennon, Hartson e o invevitável Henrik Larsson (...there’s only one...), que disputava a liderança da lista de marcadores com Derlei do FC Porto.
Para o Boavista foi um grande dia da sua história, pois nunca havia atingido tal feito numa competição europeia. Os jornais enchiam-se de entrevistas a jogadores como Pedrosa ou Filipe Anunciação. O clima era de expectativa e nervosismo.
Minutos antes do inicio do encontro foi divulgado o 11 inicial... e o mundo axadrezado gelou...
Na baliza Ricardo, os centrais Turra e Pedro Emanuel, Frechaut do lado direito e Pedro Santos do lado esquerdo... os Boavisteiros respiravam de alívio... até ao momento em que é anunciado, que o meio campo que apoiaria a dupla ofensiva Silva/Duda era composta nem mais, nem menos, que por Ávalos, Filipe Anunciação, Pedrosa e.... ERIVAN! Sim! No dia do jogo europeu mais marcante da historia do clube, Pacheco decide adaptar Erivan médio centro!
Pânico, sufoco, loucura, fala-se até mesmo de suicídios enquanto a equipa entrava em campo e o Erivan se dirigia para o meio campo. Os boavisteiros interrogavam-se sobre o prazer que Pacheco teria em oferecer uma vitória aos escoceses sem nada em troca... Eu interrogava-me se os Deuses do Futebol estariam loucos, ao que o Pelé me respondeu “Eu tou bem, cara, mas aquele Maradona não sei não...”
...Mas naquele dia... Naquele dia algo era diferente...
Acredita-se que naquele dia os planetas se alinharam e o inferno gelou... O que vos vou contar, maus amigos, está na historia do oculto, do indesvendável da realidade humana...
Com poucos minutos de jogo, Erivan recebe a bola, e em poucos toques, ultrapassa Lennon com um “lençol”, e faz uma impressionante abertura de passe longo para a ponta direita do ataque, onde Duda ganhou um canto. Perante o olhar incrédulo dos axadrezados que bem o conheciam (ou pensavam que...) Erivan foi fazendo jogada atrás de jogada, trocando os rins aos adversários, ganhando mesmo um lendário corpo-a-corpo a John Hartson, distribuía jogo, recuperava bolas, voluntariava-se para as bolas paradas e criava perigosíssimas situações ofensivas (sim! para o Boavista!)... um verdadeiro Matthaus de xadrez!
O momento chave situa-se pouco depois do inicio da segunda parte, quando no flanco esquerdo do meio campo, Erivan faz passar a bola por cima de Agathe, roda sobre ele próprio, e faz uma impressionante abertura para Filipe Anunciação, que com alguma sorte á mistura abria o marcador. O jogo acabaria por ficar 1-1 (o inevitável Henrik Larsson empataria o jogo minutos depois do lance inspirado de Erivan, e o mesmo Larsson teve tempo ainda para falhar um penaltie, devido a uma soberba defesa de um guarda redes do Boavista chamado Ricardo, actualmente de paradeiro desconhecido...)
Erivan, homem do jogo no Celtic Park. Até o proprio site do clube de Glasgow o confirmava. No dia seguinte os jornais davam algum destaque ao jogo de Erivan, e principalmente a escolha táctica de Pacheco, mas entre os boavisteiros estavam perante uma história surreal, que até aos dias de hoje arrepia contar.
A continuação da história não tem muito de emocionante... Os boavisteiros e o mundo interrogavam-se se estaria ali escondido atrás de um lateral esquerdo lastimável um verdadeiro meio campista de escala mundial. Até mesmo numa edição d’O Jogo da semana desse jogo, Erivan proferiu a célebre “Já me sinto um médio..:”
No sábado dessa semana, Erivan actuou a meio campo contra o Paços de Ferreira, jogo que ficou a zero, e Erivan foi substituido ao intervalo após ter entregue inúmeras bolas ao adversário, e ter rematado uma bola desde a marca de penaltie, que de forma impressionante saíu pela linha... lateral!
Na 4a feira seguinte jogaria apenas 30 min contra o Celtic, na 2ª mão, mostrando uma capacidade de incompetência em campo só ao alcance dos predestinados!
Erivan jogaria apenas mais um jogo pelo Boavista, e seria dispensado no decorrer dessa mesma época. Actualmente cria situações de golo para os adversários do Varzim na II Liga, equipa onde actua.
E com este final feliz me despeço, espero que tenham gostado, embora ainda esteja por desvendar o que realmente aconteceu naquela noite no Celtic Park...
Prometo em breve mais historias e reportagens, cumprimentos.
6 Comments:
Meu Deus, que maravilha de Post.
O Sr Alexi Lilás deveria postar mais vezes, uma vez que os seus 3 únicos artigos foram absolutamente divinais.
Gostei. Muitos Parabéns.
Erivan veio do... Freamunde.
Sem palavras... Lindo! Futebol pós-moderno ao seu mais alto nível!
Três vivas para o Erivan!!!
Grande post... lembra-me os bons velhos tempos em que discutia o pós-modernismo com o Gilberto e com o Zé a beber umas bjecas e a comer uns tremoços no café do Barbas.
Agora... para quando um post sobre o mítico Paulo Santos que passou pelos três grandes e foi desprezado e hoje é alto guardião e defende com unhas e dentes as redes do Braga? Penso que é um assunto do pós-modernismo que deve ser abordado.
Sr Alexi, para quando um post sobre o Boavista - Hertha de Berlim?
Aquele sprint pós moderno do Khiraly para apalpar os tomates do Ricardo...
man, que abnegação, que seriedade! esta épica proeza heróica do Erivnan fez-me arrepiar mais do que ouvir o discurso no Braveheart e do Van Damme como Guile no Street Fighter, viva!
ass: DipZ
Você esta a tirar o mérito a um atleta que pode orgulhar-se da carreira que teve !
Jaime Pacheco teve olho para a coisa sim! Então porque não posta aí a prestação deste Erivan na conquista do titulo nacional 2000-2001 e participação do mesmo na chegada ás meias-finais da UEFA ?!
criticar é fácil ...
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