02 dezembro, 2006

Grupo de rapazinhos

E a minha brilhante série em derbies continua. Assisti ao vivo ao sétimo Sporting-Benfica da minha vida e a desgraça não tem fim: 7 jogos, 1 empate e 6 derrotas. E a taxa de insucesso só não é de 100% porque em 2001/02, aos 90 minutos, o grande Armando Sá resolveu cortar com a mão uma bola que ia sair pela linha de fundo e permitiu a Jardel empatar, de penalty.

Em relação à exibição do Sporting esta noite, ajusta-se o epíteto de Luís Filipe Orelha: um grupo de rapazinhos. Se no final dos anos 80 e início dos anos 90 eu admitia as derrotas frente ao Benfica com algum conformismo, devido à clara superioridade dos plantéis lampiões de então, já as derrotas sofridas nos últimos 10/12 anos custam muito mais a engolir, precisamente devido à falta de qualidade por que se têm pautado as equipas benfiquistas neste período. Penso mesmo que se trata de um caso psiquiátrico, já que não há outra forma de explicar o complexo que atinge os jogadores verde-e-brancos quando jogam com este adversário, ao passo que equipas à partida mais fracas o vencem com uma perna às costas (Boavista, Braga, Celtic, só este ano). Recordo-me ainda de outras derrotas: 1-4 em 97/98, frente ao Benfica de Souness, Deane, Saunders e Cia; 0-1 em 99/2000, no que podia ser o jogo do título; 0-3 na Luz em 2000/01, ano em que o Benfica foi 6º; 0-1 em 2003/04, quando bastava o empate para irmos à Liga dos Campeões. Não há explicação.

Quanto ao jogo desta noite, a explicação é simples. Paulo Bento queria controlar o jogo todo, mas o Sporting não esteve em campo nos primeiros dois minutos. Neles criou o Benfica metade das suas ocasiões de golo; na segunda marcou. Depois o Sporting atacou mais, teve mais hipóteses para criar perigo, mas falhou sempre, ao passo que o Benfica só lá foi mais três vezes: uma deu golo, outra uma bola na trave, outra ainda um livre perigoso. Na segunda parte os encarnados abdicaram de atacar, excepto nos minutos finais, enquanto o Sporting fez o jogo que mais convinha ao rival. Algumas notas individuais: Quim desta vez esteve melhor que Ricardo; Miguel Garcia voltou a mostrar a sua falta de categoria; os centrais estiveram muito inseguros; Nani tem de limpar a cabeça, pois julga-se o maior e continua a sua péssima série de jogos; Moutinho tem de escolher se quer ser um jogador pendular ou um jogador decisivo (recordo que no último jogo do Chelsea, o comentador da SportTV passou o tempo todo a criticar a actuação de Ballack, mas o alemão resolveu o jogo); Bueno foi o avançado mais perigoso do Sporting, o que mostra bem o momento de Liedson. O árbitro podia ter estado quase perfeito; bastava-lhe não pactuar com o anti-jogo e as fitas do Benfica, mostrando 2 ou 3 amarelos (Quim abusou) e dando mais 1 ou 2 minutos de compensação em cada parte. Não devia alterar nada, mas sempre acalmava mais a mole sportinguista. Mas continua a não haver vontade para acabar com isto, o que importa sermos dos futebóis com menos tempo útil de jogo?

Como já escreveu Gilberto Mandamil, Paulo Bento precisa de começar a pensar num esquema alternativo de jogo. Por muito bom que este 4x4x2 seja, há sempre momentos em que não basta trocar as pedras para as coisas melhorarem. Por vezes é mesmo preciso mudar o sistema. E restam poucas dúvidas de que a alternativa é o 4x3x3. Mas para isso era preciso ter extremos no plantel. Se em vez de nove médios tivéssemos sete e dois extremos se calhar o plantel ficaria mais equilibrado.

No fim do jogo ouvi algumas vozes contra Paulo Bento. Por mim, continuo a ser um acérrimo defensor do Risca ao Meio. Tem cometido alguns erros, é certo, mas ainda penso que é o homem certo. Por um lado, gosto do discurso dele. Por outro, é certo que, com ele, o Sporting nunca teve uma grande série de maus resultados, ao contrário do que aconteceu com os antecessores. Mostra que ele sabe recuperar a equipa. Por último, não quero vê-lo sair pela porta pequena e quando der por isso estar ele a treinar o Benfica ou o Porto, com sucesso, que, acredito, vai ter mais cedo ou mais tarde.

Uma das diferenças entre o Sporting e os seus rivais, e penso que decisiva, tem mesmo a ver com treinadores. Ao contrário de Benfica e Porto, o Sporting nunca teve um treinador que tivesse marcado profundamente o clube. Nenhum Béla Gutmann, nenhum Otto Glória, nenhum Pedroto, nenhum Mourinho. Talvez essa instabilidade explique o menor sucesso leonino em relação aos rivais. Por exemplo, quantos sportinguistas saberão qual é o treinador com mais títulos de campeão pelo clube? Será que toda a gente conhece Randolph Galloway, tricampeão entre 1951 e 53? Tirando ele, houve dois que bisaram, Josef Szabo em 41 e 44 e Cândido de Oliveira em 48 e 49. Outros nomes ficaram na memória, como Allison, Inácio ou Bölöni, mas nenhum deles teve sucesso consistente. Por isso, que tal deixarmos Paulo Bento ter a oportunidade de ser o nosso Alex Ferguson? Eu sei que Filipe Soares Franco já disse isso, mas sabe-se a facilidade com que os dirigentes mudam de teorias. E se a Juve Leo já impediu um tal de vir, pode bem ter poder para mandar este embora. Espero que não, continuo convicto de que Paulo Bento tem “qualquer coisa” que o recomenda.

12 Comments:

At 12:07 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Nunca pensei rir-me com uma derrota do Sporting, mas o teu primeiro parágrafo teve esse efeito :)

Devo dizer que a minha estatística pessoal não anda muito melhor, se bem que os dois últimos anos em Alvalade (2-1 e 2-1) tenham ajudado a equilibrar a coisa.

Parece-me que no derby há um claro confronto de estilos em que nós ficamos realmente a perder.

Nos últimos anos, o Sporting vive de jogadores e equipas tecnicistas, de posse de bola, futebol pausado e ataque continuado. Muito volume de jogo, escassa eficácia.

O Benfica, pelo contrário, costuma apostar em avançados rápidos e frios a finalizar, que se sentem como peixe na água a jogar em contra-ataque.

Está bom de ver que o Estádio de Alvalade é o local ideal - na perspectiva encarnada - para jogar este derby.

Mesmo nas duas vitórias com Peseiro (2-1 e 2-1) o Benfica empatou quando estava a ser dominado e numa saída esporádica de contra-ataque.

 
At 12:12 da tarde, Anonymous Anónimo said...

E estou perfeitamente de acordo com o que dizes sobre o Paulo Bento.

 
At 2:01 da tarde, Blogger Tiago Gonçalves said...

Foi a pior 1ª parte da era Paulo Bento. Notou-se a falta de um lateral direito de maior qualidade, como é o caso de Caneira ou Abel. Custódio esteve mal no lance do golo: só pensou em atacar a bola quando Simão sprintou para a área e ai teve de ficar quietinho, sob pena de ser expulso se cometesse uma infracção. Realce ainda para a falta de Nuno Gomes sobre Moutinho: como é que um jogador que está a ganhar por 2-0 em cima do minuto 90 faz uma entrada daquelas na área contrária, quando nem sequer havia risco de contra-ataque?

 
At 2:09 da tarde, Blogger Tiago Gonçalves said...

E já agora: obrigado, Carlos Freitas. Com 6 milhões de euros, recebidos pela venda do Deivid, é um golpe de génio ir encontrar aquele Bueno, que nem para imitar o Ronny tem capacidade.

 
At 5:33 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Já que o Gilberto colocou o dedo na ferida, à excepção do Liedson, Carlos Freitas só trouxe barretes para Alvalade. Mota, Koke, Pinilla, Bueno,...

 
At 11:22 da tarde, Blogger Jota said...

Gilberto, estás um bocado confundido em termos temporais. O Bueno já cá estava quando o Deivid foi vendido. Quem veio substituí-lo foi o Alecsandro. O problema não é só o Bueno. O problema é três dos quatro pontas-de-lança serem novos e aquele em quem pensávamos poder confiar ainda continua de férias. Barretes aparecem em todo o lado. O que são Fonseca e Sektioui, por exemplo? Bueno é internacional uruguaio e tem uma média de golos razoável, pela selecção: 9 em 15 jogos. Não há-de ser assim tão pior que Recoba, Forlán ou Chevantón.

 
At 11:58 da manhã, Blogger Jota said...

Além do mais, os adeptos de futebol normalmente só gostam de ídolos instantâneos. Se um gajo estrear-se a marcar na primeira jornada é logo craque, se demorar algum tempo é um péssimo jogador. Eu gostava do Deivid e tenho a certeza de que iria este ano marcar pelo menos o dobro dos golos da época passada (marcou 6). O problema é não haver paciência, hoje em dia, para esperar pela evolução e adaptação de um jogador.

Recordo a evolução dos golos de Yazalde e Acosta, ao longo dos anos em que jogaram no Sporting.
- Yazalde: 9 + 19 + 46 + 30
- Acosta: 3 + 22 + 14

Se fosse hoje ninguém se lembrava deles em Alvalade, pois teriam sido despachados no fim da primeira época. E se calhar o Sporting teria menos 2 títulos de campeão no seu palmarés. Já para não falar do que se fez ao Peyroteo, que acabou a carreira aos 30 anos porque o jogo de homenagem lhe ia render mais dinheiro do que o salário que o Sporting lhe queria pagar.

Mudam dirigentes, mudam treinadores, mudam jogadores, mas os erros continuam os mesmos.

 
At 3:11 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Parabéns pelo Fair Play. Concordo com quase tudo o que dizes, inclusivamente com a parte da fita dos jogadores do Benfica. Acho que houve 2 penaltys por assinalar, um para cada lado, mas eram de análise difícil.

 
At 4:38 da tarde, Blogger Mats Jagunço said...

Excelente análise. Só vi a 1a parte com atenção. A 2a fui vendo de longe, mas ainda que o sporting tenha dominado o jogo, parece-me que o benfica o controlou dando a iniciativa ao adversário e apostando no contra-ataque e ataque rápido. Num desses lances o benfica obteve o 2º golo. É verdade que o Custódio foi um bocadinho "pato", mas também o é que estava sozinho para o Simão (ainda por cima em velocidade) e que ir pra cima dele ia dar no mesmo. Mérito neste caso para o Simão que depois teve a frieza suficiente que (muitas vezes não se vê) para desviar do GR e encostar no poste mais longe.

Nuno Gomes? O que é isso? Marca de rebuçados? O Benfica começa sempre com 10... Sinceramente até agradecíamos que levasse 5 ou 6 jogos. Num campeonato decente e evoluído era o castigo mínimo.

A fita de Quim fez-me lembrar Paulo Santos... Ridículo!!! Será que aprendem juntos na selecção?

Penaltys? Não me parece...

 
At 7:41 da tarde, Blogger José Cavra said...

Dizia o meu amigo Xavier Macedo, nosso leitor assíduo e portista dos 7 costados: "O Benfica vai ganhar de certeza. o SCP está a ser levado ao colo pela comunicação social. eles não têm um 11, 12, 13 ou 14 definido. Os Martins, Custódio, Nani, Yanick ainda têm mto a provar."
... e não é q o rapaz tinha razão?

O Benfica acabou por ter a fortuna do jogo. No lado do Sporting foi mta alma mas pouco coração.
São 2 equipas idênticas, que não podem aspirar a mais dq lutar pelo 2º lugar.

Fair Play: Ficou um pk por marcar contra o Benfica.

 
At 7:44 da tarde, Blogger José Cavra said...

Falando de Guarda-redes.
o Quim smp me irritou com as demoras nas reposições da bola em jogo.
Num empate a 2 do Braga em Aveiro eu e o amigo Materazzi quase fomos ao desespero. dassse!
Aquilo era gozar com o dinheiro da malta.

Já agora... pq razão o Pacheco nao mete o guarda-redes do Lichenstein? certamente é melhor dq o Khadim.

 
At 11:04 da tarde, Blogger Mats Jagunço said...

Não concordo com o pk Cavra. Ainda que admita que o árbitro pudesse ser bem enganado e que houve contacto, esta mania dos jogadores (sim, os do benfica tb o fazem) se deixarem cair e esperarem o contacto levando o árbitro a apitar irrita-me! É nestas alturas que me dá gozo treinar e ver jogar as camadas jovens em pelados... Eles querem é jogar inocentemente à bola e mais nada... Isso sim, é o verdadeiro futebol - o prazer em jogar à bola!!!

 

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