19 novembro, 2006

Ninguém põe fim a isto?

O Braga-Benfica desta noite provocou-me sentimentos contraditórios. Por um lado é óbvio que uma derrota do Benfica é sempre bem-vinda, em quase todos os cenários. Há excepções, como no Benfica-Porto de 1999/2000 ou no Benfica-Boavista de 2001/02, em que a vitória encarnada interessava ao Sporting. Mas de resto, confesso o meu sadismo ao ficar contente quando 6 milhões de portugueses e 14 milhões de adeptos espalhados pelo mundo estão francamente tristes. É assim a vida de um adepto de futebol, e amanhã pode calhar-me a mim ficar de trombas.

Mas o que me deixou mal-disposto, embora não surpreendido, infelizmente, foi o que se passou ao minuto 85. O Braga tinha feito o 3-1 pouco antes e a realização da SportTV mostra Rogério Gonçalves no banco. Precisamente nesse momento o novo técnico bracarense ordena a alguém no relvado que se atire para o chão. Segundos depois Paulo Santos fica estendido como se estivesse entre a vida e a morte. Foi fácil de perceber que nada se passava com o tipo, pois ao mesmo tempo em que ele era assistido o Braga fazia a terceira substituição.

Ninguém tem um pingo de vergonha e de coragem para meter fim a isto? Como será que se sente um médico ao fazer figura de urso, ao participar em todo aquele teatro plenamente consciente do que está a acontecer? Como será que se sente uma pessoa gravemente doente ao ver aquilo? O futebol é um espelho da sociedade e isto mostra muito do que eu detesto no povo português: a tendência para o chico-espertismo, a imensa lata com que alinha em esquemas.

Há poucos meses conheci um puto de 12 anos, que é familiar de um familiar de um familiar. Ele joga nos iniciados de um clube das profundezas dos distritais na região centro do país. Na época passada o melhor resultado que conseguiram foi uma derrota por 1-3. Ao trocar umas bolas com ele percebi que o talento não é muito, mas as artimanhas estavam todas aprendidas. Até me contou, orgulhoso, como tinha feito expulsar um adversário, simulando uma agressão.

Portugal está no sexto lugar do ranking da UEFA, a nível de clubes, e é presença habitual no top 10 da FIFA, no que respeita a selecções. Até me arrepio ao pensar no que seria se fossemos um país a sério.

4 Comments:

At 3:52 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Muito bem...
Acho que esse é O mal do futebol português.
Ainda este fds vi o feyenoord-AZ e a ganhar o Feyenoord nunca se remeteu à defesa e acabou por ganhar! (mesmo atravessando um mau momento, o que poderia levar a defender a todo o custo)... Acabou por ser um grande jogo de futebol!
Em Portugal, os jogos nunca são grandes jogos de futebol!

 
At 4:20 da tarde, Blogger Mats Jagunço said...

Ainda te esqueces-te de referir um pormenor... O gajo queixava-se da coxa, do joelho ou da anca... qualquer coisa do género. Estava tão lesionado que foi ele próprio a repor a bola em jogo com um pontapé de baliza a baliza...

 
At 9:20 da manhã, Blogger Rotura de ligamentos said...

Excelente post.

 
At 11:17 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Também reparei no taberneiro/mister do Braga a gesticular em desesperado mas estiloso apelo ao mergulho.
(O jogo estava a acabar e o resultado era 3.1 !!!).
Obviamente que o Paulo Santos assumiu com o maior dos gostos aquele papel.

 

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