19 outubro, 2006

Longe do topo

Depois de uma vitória justa sobre o Inter Milão e um empate sofrido contra o Spartak, em Moscovo, o Sporting voltou ontem à sua realidade com a derrota caseira frente ao Bayern, na terceira jornada da Liga dos Campeões.

Por muito que me venham falar em infelicidade, falta de sorte e azar (são sinónimos, mas reforçam melhor a ideia), penso que se viu bem em Alvalade a diferença que separa o Sporting das grandes equipas europeias. Tal como já aconteceu inúmeras vezes esta temporada (incluindo pré-época), o Sporting começou muitíssimo mal o jogo. E, normalmente, quando o Sporting começa mal um jogo, sofre sempre um golo, sobretudo frente a equipas mais fortes (Boavista, Spartak, Bayern, para não falar do Sevilha, no Torneio do Guadiana). Parece que os leões não só começam mal, como estão mesmo ausentes do campo.

Ontem não foi por falta de avisos que o Bayern chegou ao golo. Antes do golo de Schweinsteiger, aos 19 minutos, os bávaros já tinham ameaçado com dois ou três remates de fora da área e nem mesmo assim os jogadores sportinguistas tiveram capacidade para tentar evitar esses remates. O golo de “Schweini” leva-me a pensar que nenhum jogador do Sporting deve ter assistido ao Alemanha-Portugal do último Mundial. É natural, férias são sagradas, e mesmo a selecção tuga entrou de férias a seguir ao jogo com a Holanda, pois não voltou a ganhar na prova. Antes do golo já o Bayern se podia queixar de um penalty por marcar, por falta de Caneira sobre Pizarro. E depois do golo o mesmo Pizarro podia ter feito o 2-0, mas cabeceou à rede lateral depois de uma saída disparatada do Labreca.

A partir dos 25 minutos, o Sporting dominou o jogo. Só que, ao contrário do que aconteceu nos jogos atrás referidos, desta vez não conseguiu remediar o mal. Ainda teve uma mão cheia de boas oportunidades, mas a este nível isto não chega. É preciso metê-la lá dentro. E, ao contrário do que os portugueses muitas vezes gostam de fazer crer, falhar oportunidades não é uma questão de sorte ou azar, mas sim de treino e de concentração.

Por vários motivos o Sporting não chegou pelo menos ao empate, a meu ver:
- Kahn, apesar de tudo, continua a ser o “Titã” e a fazer a diferença; aquela defesa ao remate do Liedson foi assombrosa.
- Enquanto esteve 11 contra 11, o Sporting até reagiu bem, mas alguns jogadores estiveram longe do esperado. Nani nunca apareceu no jogo e Carlos Martins continua a não mostrar regularidade nenhuma (será o novo Sá Pinto?). Os avançados continuam sem acertar na baliza.
- Depois da expulsão de Schweinsteiger, o Sporting não soube aproveitar a superioridade. Jogou como o Bayern queria, com um futebol demasiado lento e pensado. Para desmontar esta equipa, o Sporting teria de jogar em velocidade, tanto pelo centro, como pelas alas, com bolas rasteiras. Mais ou menos como o Spartak jogou contra o Sporting, principalmente nos primeiros minutos. Agora tentar construir jogo a partir dos defesas, de forma muito pensada, permite aos defesas alemães posicionarem-se como querem. E aí a diferença de estatura faz a... diferença.
- Para além disso, foi visível a diferença de maturidade táctica na hora de defender. Enquanto estiveram 11 contra 11, o Bayern conseguia muitas vezes colocar dois ou três homens a pressionar o transportador da bola. O Sporting nunca o fez, pelo que mesmo contra 10 tinha dificuldade em tirar a bola aos bávaros.
- Finalmente as substituições. Yannick esteve melhor que Carlos Martins, mas tem que ser muito mais decidido a finalizar; não serve de nada passar por toda a gente e depois oferecer a bola ao guarda-redes. Entre Alecsandro e Bueno não se notou nenhuma diferença, se bem que o primeiro pareça ser melhor que o segundo. A perder ficou o Sporting com a troca de Veloso por Paredes. O paraguaio fez um jogo horrível e foi a partir da sua entrada que o Sporting baixou o ritmo e deu logo a entender que não ia marcar. Não acertou um passe, jogou muito lento e na única vez que subiu para rematar fê-lo de forma ridícula. Pré-reformados não, obrigado.

Agora vêm aí dois jogos fora, frente aos dois favoritos do grupo. Zero pontos é o esperado. Admitindo esse cenário, o jogo com o Spartak, da última jornada, será uma final, para decidir quem vai para a Taça UEFA. Se os russos não ganharem nenhum jogo nas recepções a Inter e Bayern, um empate será suficiente para o Sporting ficar em terceiro lugar.

8 Comments:

At 10:54 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Devo dizer que tenho sobre o Paredes a mesma opinião. Está para me provar que é reforço.

 
At 1:08 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Jorge,

É do fundo do esgoto que te berro com um ponto amealhado ao cabo de três partidas. Ainda assim na esperança de resfriar o teu pessimismo...

Não vejo, sinceramente, por qe te pões, de modo tão definitivo, a fazer cont(inh)as ao terceiro lugar.
Sim, o Inter e o Bayern são equipas mais fortes, mas não vejo que a qualidade do Sporting transforme os próximos jogos em pêras doces para “italianos” (ontem em 18, italianos eram dois) e alemães. Longe disso.

Com excesso de realismo não vamos a lado nenhum e para realidade já me bastam os meus credores.

 
At 2:10 da tarde, Blogger Jota said...

Porfírio, neste momento o meu grande receio não é não me apurar para os oitavos-de-final (ninguém acreditava nisso à partida). Tendo em conta que o Bayern já se apurou e só precisa de mais uma vitória para garantir o primeiro lugar, o meu medo é mesmo que as três restantes equipas se embrulhem de tal maneira que o Sporting ainda acabe em quarto. E se o Bayern ganhar ao Sporting, pode muito bem facilitar nos dois últimos jogos, até porque as coisas não estão assim tão bem na Bundesliga. O meu medo é esse. É a tal história dos pássaros que voam e dos que ficam na mão.

 
At 3:52 da tarde, Blogger José Cavra said...

Bem visto Jorge. Uma excelente análise!
O teu medo é o Bayern facilitar.
A minha esperança é o M.united facilitar qdo receber o Benfica.
Apesar do apuramento de qualquer 1 dos 3 clubes nacionais se afigurar como tarefa hercúlea, o do Benfica é o + complicado.
O meu clube tem q ganhar ao Celtic e ao Copenhaga. Dps é acreditar no milagre.
Nem me passa pela cabeça nao ir à taça UEFA.

Paredes: tem toque de bola. vamos dar-lhe o benefício da dúvida.

 
At 4:20 da tarde, Blogger Mats Jagunço said...

Grande análise, sem dúvida! Quando falas na questão da finalização dizes tudo... Em Portugal ainda continua a haver muita desconcentração na hora do remate, continua-se a rematar por rematar e não a rematar para fazer golo. Continuamos a dar mais importância ao rodriguinho que fazemos para adornar o lance do que à bola entrar. É acima de tudo uma questão de atitude e de mentalidade... E quem dá treinos (no meu caso aos miúdos) constata isso mesmo. É uma "guerra" que já travo à muito, mas difícil de ganhar. De vez em quando lá ganho umas batalhas...

 
At 5:38 da tarde, Anonymous Anónimo said...

A questão da sorte é-me cara.

Reconheço ao acaso o seu peso na vida e é com particular evidência que o factor "vaca"/"azar do camandro" se manifesta no mundo do pontapé na bola.
Mas há que não fazer confusões.
O Polga e o Nuno Assis tiveram algum azar. Se tivessem feito golo verdade seja dita também que teriam tido alguma sorte.
Mas já os falhanços do Katsoranis e do Miccoli foram lances de pura aselhice.

Às vezes peca-se por excesso de concentração. Falta espontaneidade.
Que saudades do desenvergonhado Isaías!

 
At 8:00 da tarde, Blogger José Cavra said...

O grande Isaías... eu costumava dizer q era o Jardel dos médios...

 
At 2:28 da tarde, Blogger Hugo said...

Muito boa análise

 

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