09 abril, 2006

Justo


Como já todos esperávamos antes de Paulo Bento ter oleado a máquina sportinguista e recuperado uma série de pontos, só um gigantesco hecatombe poderá impedir o Porto de ser campeão. Co Adriaanse deixa para trás o fantasma de, em muitos anos de carreira, nunca ter ganho nada e vence pela 1ª vez um clássico em tempo regulamentar. Os embates contra rivais não são especialidade do holandês (enquanto treinador do Ajax só ganhou uma partida em seis, contra o Feyenoord, em Roterdão), mas desta vez conseguiu demonstrar a superioridade da sua equipa em relação aos mais directos adversários. A vitória de ontem não deixou dúvidas.
Paulo Bento tem uma atitude ao nível dos grandes técnicos. Não tenho quaisquer dúvidas de que Peseiro, empatando com o Porto 0-0 aos 80 minutos, era capaz de manter Koke no banco e Abel na lateral direita, considerando-se satisfeito com um empate que deixasse o Sporting à mercê de uma escorregadela do dragão. O ex-trinco dos leões quis decidir o campeonato no seu estádio. E todos os factores apoiavam a sua decisão: a comunicação social apontou durante a semana o encontro como “o jogo do título”; o Porto dificilmente perderá pontos até final do campeonato(só a deslocação ao Bessa poderá complicar a vida a Pinto da Costa); o ambiente em Alvalade era fantástico para os jogadores do Sporting e… os vencedores gostam de depender apenas de si na hora dos triunfos. Muitos apontaram e apontarão a ambição de Bento como bode expiatório do desaire, mas o homem do risco ao meio fez o que devia: arriscou para tentar dar uma grande alegria a milhares de sportinguistas. "Medo" não consta no seu dicionário. E por isso merece que lhe renovem o contrato depressa, estabilidade precisa-se para garantir a entrada directa na Champions.
Depois de ser eliminado por equipas inferiores como Artmedia e Rangers, era difícil encontrar um campeão que não o Porto. O Benfica desistiu da Liga para perseguir um sonho europeu, o Sporting reconstruía uma equipa sem rumo e o Braga, assim como qualquer outro “não-grande”, não tem estrutura para assumir uma séria candidatura. Co Adriaanse não é um génio do futebol mas não é tão mau como alguns o pintavam. O carimbo de campeão chegou pela autoria de dois “patinhos feios”. Jorginho é um excelente jogador, que por acaso adora lixar o Sporting (foi a 4ª vez), incompreendido por parte dos adeptos e Alan, que não vinha a demonstrar futebol suficiente para figurar no onze inicial, conseguiu desiquilibrar.
Sá Pinto (Jorge, o homem deu-te razões para bateres nele de novo) apareceu por 2 vezes em jogo e por 2 vezes varreu o meio-campo azul-e-branco. Porém, a impossibilidade de jogar o esférico valeu-lhe duas cartolinas amarelas. Mau de mais, este último grande jogo da sua carreira. Quaresma passou incólume depois de pisar barbaramente Tonel e saiu assobiado. Pelo meio ainda tentou saber se Co Adriaanse percebe bem a língua de Camões. Com pulso firme não treina, nos próximos tempos, juntamente com o plantel principal. Duarte Gomes mostrou falta de classe e condicionou a beleza do espectáculo. Amarelos a torto e a direito, com faltas a meio-campo ou junto da grande área adversária a valerem admoestações excessivas. Os amarelos a Deivid e Quaresma nascem de faltas perfeitamente normais. Sinal menos para o homem de negro.
A experiência de Lucho e Paulo Assunção, aliadas à grande forma de Raul Meireles, levaram a melhor sobre a irreverência de Moutinho(protagonista da única oportunidade de golo do Sporting), Carlos Martins(os únicos lances de brilho do meio-campo leonino partiram dos seus pés) e Custódio(discreto e eficaz como sempre).
O Sporting morre, mais uma vez, à beira da praia. Porém, desta vez isso só foi possível devido a 10 vitórias seguidas que deram ao clube a possibilidade de lutar até à última hora. O jogo na Reboleira irá traçar o lugar em que a equipa irá terminar.O Porto confirma a supremacia evidenciada desde a pré-época. Tem o melhor plantel e a sua estrutura é a mais estável. E não necessita de golos ilegais para ostentar o escudo na camisola…

5 Comments:

At 10:25 da manhã, Blogger Jota said...

Gilberto, o Sá Pinto não se cansa de me dar razão, o que posso fazer? Como me disse uma vez o meu bom amigo Porfírio, Sá Pinto é muita iconografia (beijos no emblema, camisolas para a Juve Leo no fim dos jogos, esgares e caretas permanentes, esbracejar e gritar com colegas, adversários e árbitros, corridas sem sentido...) e pouco futebol (passes sem nexo, faltas estúpidas, amarelos, vermelhos, castigos, penalties falhados, penalties cometidos, ocasiões claras desperdiçadas...). Mas a Juve Leo adora-o. Há que respeitar, eles são "super sumos" do futebol. Se não fossem eles tínhamos levado com o Mourinho como treinador, imagina. Um bem-haja a esse iluminado grupo.

Colocar Sá Pinto na galeria de ídolos leoninos, ao lado de Peyroteo, Travassos, Damas, Yazalde, Balakov e alguns outros é a mesma coisa que meter Sylvester Stallone entre Dustin Hoffman, Robert de Niro ou Al Pacino, pôr Zé Cabra (sem ofensa, Cavra) no meio de Pavarotti, Carreras e Domingo ou colocar a Maria Rueff ao lado da Charlize Theron, da Monica Bellucci ou da Naomi Watts. Parece impossível, não é? Se este é o melhor ídolo que podemos arranjar, torna-se fácil explicar porque temos ganho tão pouca coisa nas últimas décadas.

 
At 1:09 da tarde, Blogger José Cavra said...

yah.. nem de golos ilegais... nem de 19 pks

 
At 1:47 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Com uma análise tão lúcida, pouco há a comentar. Só que ainda não estou convencida das opções Jorginho e Alan, que o treinador é teimoso o suficiente para insistir em esquemas de jogo interessantes mas perigosos com difícil assimilação pelos jogadores - mas que finalmente parecem começar a funcionar - tendo como problema a própria insegurança (talvez uma dobradinha possa mudar este detalhe).

 
At 12:57 da tarde, Blogger José Cavra said...

Bem-vindo Castro!

 
At 12:24 da tarde, Anonymous Anónimo said...

O lugar do Sá Pinto é na Sibéria...ao lado do Peseiro. J´aghora o Koeman é o Peseiro das águias?

 

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