24 outubro, 2005

Sá Pinto, o Enganador

O Sporting é um clube engraçado. Às vezes hilariante mesmo. Se não existisse, teria de ser inventado, pelo que José Alvalade, há 99 anos, 3 meses e 23 dias, não fez mais do que concretizar algo de inevitável, que aconteceria mais cedo ou mais tarde. Eu gosto de ser sportinguista e não me consigo imaginar noutra pele. Mas que há (muitas) coisas que me fazem espécie, lá isso... Uma delas chama-se Ricardo Manuel da Silva Sá Pinto, a quem vou dedicar as próximas linhas.

Sá Pinto, também conhecido por muitos adeptos leoninos por Ricardo, Coração de Leão (!), é, para mim, um dos maiores equívocos que o Sporting já viveu (sim, eu lembro-me de Waseige, Peseiro, Missé-Missé ou Balajic, entre outros). Como é sabido, Sá Pinto é, desde há longos anos, um dos grandes ídolos da massa adepta sportinguista, com destaque para esse grupo iluminado chamado Juventude Leonina. Porquê? Não faço a mínima. Alegadamente, Sá Pinto é um verdadeiro sportiguista, que dá tudo dentro de campo, possui garra leonina, etc, etc. Para mim, em português corrente, isso é uma tanga gigantesca. Sá Pinto é dos jogadores que menos merece o estatuto de ídolo em Alvalade. Vou recordar alguns episódios que me levam a esta declaração, não diria de ódio... ou melhor, diria, diria.

Chegado ao Sporting em 94/95, vindo do Salgueiros (onde se especializou a fazer a vida negra ao... Sporting), Sá Pinto não se tornou titular indiscutível imediatamente. No entanto, as saídas de Figo, Balakov, depois Amunike, foram permitindo-lhe ganhar espaço na equipa. Até que resolveu estragar tudo, em 96/97. Espetou umas bolachadas em Artur Jorge, então seleccionador nacional, e foi castigado por um ano. Foi a primeira que ele aprontou ao Sporting. Mas tivemos sorte, encontrámos um asilo para ele, no País Basco. Na Real Sociedad cumpriu um contrato de três anos: no primeiro ofereceram-lhe uma Game Box para poder ver os jogos todos da equipa, no segundo calçou as chuteiras e fez umas coisas bonitas (já que falei no poeta, acho que ele merece uma citação) e no terceiro atrapalhou mais do que ajudou. Pelo que não renovou contrato.

Sem clube, Sá Pinto deu uma bela entrevista, onde revelou o que lhe ia na alma. Estava sentido com o Sporting por ainda não o ter contratado e, com uma chantagem psicológica de amador, recordou que era portista desde pequenino e que podia ter ido para as Antas em 94, mas, contra o seu coração, veio aterrar em Alvalade. Por incrível que pareça, o Sporting mordeu o isco e voltou a contratá-lo. Daí para cá tem sido o que se vê. Primeiro lesões, depois um visível (para quem quer ver) factor de impedimento de uma boa manobra colectiva, com uns golos pelo meio, claro. A última situação que me convenceu ainda mais que Sá Pinto é mais dado à sua causa do que à causa leonina aconteceu o ano passado, na recepção ao Rio Ave: penalty a favor do Sporting, Liedson prontificou-se a marcar, visto que era uma tarefa sua, mas o grande Ricardo não deixou. Ele sim, merecia marcar o penalty! Claro que tudo passou incólume, Peseiro, interrogado sobre o tema, limitou-se a mostrar o seu famoso sorriso amarelo. E hoje lá está Sá Pinto em grande, titular, às vezes capitão... E sempre, sempre, a atrapalhar o trabalho dos companheiros, como se viu esta noite em Barcelos.

Na cidade minhota, um lance definidor de Sá Pinto ficou na minha memória. Wender estava preparado para entrar, quando há uma falta favorável ao Sporting perto do local da substituição. Sá Pinto marca a falta rapidamente, mas o árbitro já tinha dado ordens para a alteração. O número 10 (!) protesta ferozmente, volta a pegar na bola, coloca-a no sítio e volta a marcar o livre. O árbitro volta a interromper e o Sá a refilar. Só então se apercebe da substituição, que ia decorrer dois metros atrás de si. Resultado, cerca de um minuto perdido quando o Sporting perdia por 1-2. Para mim, este lance resume o que é Sá Pinto: pouco inteligente, precipitado, refilão... Tudo o que um jogador modelo não pode ser.

Tantas vezes me revoltei eu em Alvalade ao ouvir os adeptos leoninos a chamarem tudo ao Pedro Barbosa, sempre que este perdia uma bola, e a aplaudirem Sá Pinto quando fazia o mesmo. Segundo a mole humana, o primeiro perdia a bola por ser um “chulo que não se mexe”, o segundo por “ter muita garra e dar tudo em campo”. Pedro Barbosa, um jogador com cérebro, que só queria ser apreciado dentro do campo (alguém sabe quem é a mulher dele?, quantas vezes o viram em revistas do coração?) saiu entretanto de Alvalade, sem honra nem glória, depois de dois títulos de campeão nacional, uma Taça e três Supertaças. Já o Sá, que de vez em quando lá aparece com a sua Frederica nas revistas cor-de-rosa (pelos vistos já desistiu de ser modelo), lá continua a contaminar o grupo de trabalho. Vale que apenas por mais uns meses (espero que não haja reviravoltas de última hora). Mas se for preciso ainda lhe dão um cargo qualquer no clube e teremos de o continuar a gramar...

PS - Não quero ser injusto e reconheço que tenho algo a agradecer a Sá Pinto. Lá para 1996, dois golos seus permitiram uma vitória por 3-0 sobre o FC Porto, em Paris, na finalíssima da Supertaça dessa época. Nove anos depois, ainda não percebi que mais fez ele de bom pelo clube.

13 Comments:

At 10:40 da tarde, Anonymous Anónimo said...

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At 12:32 da manhã, Blogger André S. Machado said...

Subescrevo todas as linhas deste excelente post! Eu, tal como o Gilberto, tenho vindo a ter debates acesos sobre a qualidade do Sá Pinto com um sujeito um pouco atrasado que conheço. Sá é, sem dúvida, o pior jogador que podíamos ter no balneário devido à sua falta de talento, mas também à sua capacidade de destabilizar o balneário... Exceptuando, claro, o Miguel Garcia, esse mito do futebol, que consegue ser titular mesmo fazendo jogos miseráveis!!!

 
At 1:09 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Não terei o jogador Sá Pinto em tão má conta quanto tu, Kataklinsmann, mas também a mim me faz alguma confusão haver tanta massa verde a idolatrar este queque-guerreiro do Douro.

É verdade que estamos perante um jogador abnegado que mete a cara onde outros não põem os pitons, mas daí até ser o menino bonito de tantos adeptos do Sporting...

Que fez ele, afinal, de tão transcendente? Só me ocorre mesmo a aparição do pastorinho no Jamor, com uma uma blusa verde e uns calções da Nike, ensaiando milagres na cara do Artur Jorge.
Um episódio que, atendendo, principalmente, à diferença de idades dos intervenientes, não deveria abonar a favor do cromo.

Mas foi a partir daí que Ricardo se tornou no Coração de Leão, numa espécie de mártir de um sistema que o obrigou a emigrar para um país horroroso, a dar pró Basco, pejado de terroristas, onde o seu salário se resumia a vinte senhas de uma cantina de antigos mineiros. Tempos difíceis os do exílio.

No fundo, é como escreveu um amigo meu sobre outro Sá (o Carneiro): a única coisa que fez foi morrer.

Foi um pouco como este Sá (o Pinto): deu nos cornos ao Artur Jorge, embrulhou-se com o Rui Águas, com direito a fotografia, e tornou-se numa t-shirt da Juve Leo.

 
At 5:50 da tarde, Blogger José Cavra said...

Não considero Sá Pinto tão mau como o Jorge o está a pintar, mas daí até ser craque?! daí até ser o ídolo da Juve Leo?

 
At 7:00 da tarde, Blogger Jota said...

Caros colegas, obrigado por fomentarem a discussão, é esse o objectivo do blog, no fundo. É óbvio que já vi muitos jogadores piores que Sá Pinto no Sporting. A minha animosidade contra ele tem a ver, sim, com o facto de muitos sportinguistas o escolherem como símbolo do clube. Tendo o Sporting uma tradição de futebol espectáculo, símbolos devem ser jogadores como Pireza, Peyroteo, Travassos, Osvaldo Silva, Yazalde, Balakov, Figo e, mais recentemente, Pedro Barbosa, entre outros. Sá Pinto não faz claramente parte dessa tradição, à qual se junta a fama e o proveito de ser arruaceiro e conflituoso. Ídolos destes dispenso no meu clube. Mas a Juve Leo é que sabe, afinal são eles que têm audiências com dirigentes, treinadores e jogadores...

 
At 8:46 da tarde, Blogger José Cavra said...

Nunca entendi mto bem, o pk dessas audiências da Juve Leo com presidentes e dirigentes do scp.
Clarificaste a situação.
Sá Pinto é um bom jogador, mas nunca um símbolo. nunca poderá ser uma bandeira do scp.
Ps: é impressão minha ou este blog está a ganhar demasiados contornos verdes e brancos?

 
At 1:05 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Ve-lo a chorar numa derrota do Sporting em Viena foi, para mim, o momento mais importante para se tornar uma figura do Sporting. mas isto sou eu

 
At 1:51 da tarde, Anonymous Anónimo said...

O facto do talentoso Moutinho o tratar por Sr. não revela apenas respeito. Revela temor.

 
At 4:26 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Se fosse integração, nunca os trataria por senhor...

 
At 3:01 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Nem tenho palavras!! Que excelente post!!!
Sou Sportinguista, tenho exactamente a mesma opinião que Kataklinsmann e já fui inúmeras vezes "crucificado" por outros Sportinguistas por dizer ou escrever exactamente o que aqui está escrito. O Sá Pinto é um jogador mediocre que só se destaca por correr muito. Correr muito e ganhar a bola para depois não saber o que lhe fazer, não serve de muito numa equipa como o SCP.

Vou ser "cliente" assiduo deste blog! Podem ter a certeza! Um abraço!

 
At 5:21 da tarde, Anonymous Anónimo said...

"Sem respeito pelos colegas e sem reconhecimento da experiência dos mais velhos não é possível construir espírito de equipa..."

Sem dúvida... Mas uma equipa tem de ser uma família... Numa equipa todos devem ser como irmãos... E eu não trato os meus irmãos por senhor... Nem sequer o meu pai!

 
At 2:50 da tarde, Blogger José Cavra said...

O meu pai, esse expoente da pos modernidade que um dia chegou a defender a ida de Rogério Matias para o Benfica, diz que o Eusébio tratava o Coluna e o José Águas por senhores.

 
At 6:21 da manhã, Anonymous Anónimo said...

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