03 fevereiro, 2006

Domingo é dia de São Super Bowl

Realiza-se este domingo, dia 5 de Fevereiro, o Super Bowl XL, isto é, a 40ª edição da final do campeonato dos EUA de futebol americano. Para mim, se não existisse o futebol de 11, este seria, sem dúvida, o maior espectáculo desportivo do Mundo. A grande final realiza-se este ano em Detroit e tem início às 18h00 locais (23h00 em Portugal, felizmente com transmissão na SportTV) e opõe os Pittsburgh Steelers aos Seattle Seahawks.

Modo de funcionamento

A National Football League (NFL), tal como acontece nas outras modalidades mais populares nos EUA (basquetebol, basebol, hóquei no gelo e até futebol), é uma liga profissional fechada, sem subidas nem descidas de divisão. Actualmente, a NFL é constituída por 32 equipas, divididas em duas conferências, a American Football Conference (AFC) e a National Football Conference (NFC), com 16 equipas cada. Cada conferência está ainda dividida em quatro divisões (Norte, Sul, Este e Oeste), com 4 equipas cada.

Ao contrário do que acontece nas outras modalidades, disputam-se poucos jogos em cada época de futebol americano, que dura sensivelmente cinco meses (entre Setembro e Janeiro). Enquanto no basquetebol e no hóquei no gelo a fase regular tem 82 jogos e no basebol 162, no futebol americano cada equipa realiza apenas 16 jogos, oito em casa e oito fora. O esquema é o seguinte: seis jogos contra as equipas da mesma divisão, mais seis contra equipas da mesma conferência, mas de divisões diferentes, mais quatro contra equipas da outra conferência. Cada conferência apura seis equipas para os playoffs: os quatro vencedores de cada divisão, mais as duas equipas melhor classificadas a seguir.

Os playoffs realizam-se em apenas um jogo, ao contrário do que acontece nas outras modalidades, que se decidem à melhor de cinco ou de sete. Primeiro realizam-se os Wild Cards, uma pré-eliminatória entre as equipas classificadas entre o 3º e o 6º lugares da fase regular. Depois vêm as meias-finais de conferência, onde entram as duas melhores equipas da primeira fase. A seguir disputam-se as finais de conferência. De referir que os jogos são sempre disputados no terreno da equipa melhor classificada na primeira fase. Por fim, o desejado Super Bowl, disputado em campo neutro e que decide qual a melhor equipa do Mundo de futebol americano (ao contrário do que possam pensar, o futebol americano já tem alguma implantação na Europa, existindo vários campeonatos nacionais e até uma Liga dos Campeões e uma espécie de Taça UEFA, para além de uma filial da NFL, chamada NFL Europe).

Um histórico e um novato

A final deste ano opõe duas equipas com historiais distintos na competição. Os Seattle Seahawks, fundados em 1974, chegam pela primeira vez à grande final, depois de uma época soberba. Já os Pittsburgh Steelers têm um palmarés muito rico, com quatro títulos de campeão (1974, 1975, 1978 e 1979) e uma final perdida (1995). Pelo que me tenho apercebido, os americanos, na sua maioria, não estão a torcer pelo menos cotado, claramente os Seahawks. Isto porque os de Seattle são vistos como “engenheiros informáticos”, enquanto Pittsburgh é a equipa dos “operários metalúrgicos”.

Apesar da desvantagem histórica, a equipa de Seattle é considerada favorita para esta final. Na fase regular, os Seahawks foram a melhor equipa da NFC, com 13 vitórias e 3 derrotas. Além disso, conseguiram o melhor ataque de toda a NFL, com 452 pontos marcados (média de mais de 28 por jogo). Nos playoffs, Seattle, beneficiando sempre do factor casa, eliminou convincentemente os Washington Redskins (20-10) e os Carolina Panthers (34-14).

Já Pittsburgh teve uma caminhada mais complicada até ao jogo decisivo. Os Steelers foram apenas a quinta melhor equipa da AFC, na fase regular, com 11 vitórias e 5 derrotas. O seu ponto forte é a defesa, que, com 258 pontos consentidos (cerca de 16 pontos por jogo), foi a terceira melhor de toda a NFL. Nos playoffs, os Steelers, sempre jogando fora de casa, deixaram pelo caminho os Cincinatti Bengals (31-17), os Indianapolis Colts (21-18) e os Denver Broncos (34-17).

Jogo de contacto e estratégia

Para quem vê um jogo de futebol americano pela primeira vez, e mesmo em comparação com o seu primo râguebi, a ideia mais forte é: “Que raio, este jogo está sempre parado?!”. Não deixa de ter razão, até pelo que se vê na duração do jogo. Cada jogo de futebol americano tem uma duração de 60 minutos, divididos em quatro períodos de 15. No entanto, entre o apito inicial e o final nunca passam menos de três horas.

Tal como no “nosso”, cada equipa de futebol americano é formada por 11 jogadores. No entanto, cada plantel possui normalmente mais de 70 jogadores e para cada jogo são convocados cerca de 50. Para além disso, o staff técnico é composto por cerca de 20 treinadores. Isto explica-se pelo grau de especialização que este desporto exige. Cada jogador raramente desempenha mais de uma posição e para cada posição existe um treinador especializado.

Existem três sectores diferentes numa equipa de futebol americano: Ataque, defesa e equipas especiais.

Ataque: Existem onze posições, mas normalmente, numa jogada, apenas 3 jogadores tocam na bola. O “center” é quem, por entre as pernas, coloca a bola no “quarteback”. Este, por sua vez, tem que colocar a bola num dos seus colegas, para concluir a jogada ou, no mínimo, conquistar terreno. Os “wide receivers” e os “running backs” são, normalmente, quem tem a obrigação de concluir as jogadas. Os primeiros começam a correr sem bola e têm de conseguir recebê-la à distância, enquanto os segundos recebem a bola em mão do “quarterback” e têm depois de furar a defesa contrária. Por vezes é o próprio “quarterback” que tenta progredir com a bola na mão. Cada equipa possui centenas de jogadas de ataque planeadas e a todo o momento os treinadores decidem qual a melhor a utilizar em determinada situação.

Defesa: Tem como função impedir que o ataque contrário progrida no terreno, através de bloqueios. Tenta também provocar erros no ataque contrário, de forma a voltar a ter a posse de bola e, por vezes, a conseguir pontos em contra-ataque.

Equipas especiais: São os que jogam ao pé. Existem os “kickers”, que têm como objectivo concretizar pontos colocando a bola por entre os postes contrários, e os “punters”, que têm como função chutar a bola o mais longe possível, para que o adversário inicie então o seu ataque longe da linha de golo da equipa que defende.

Algumas regras

O campo de futebol americano tem 120 jardas (110 metros) de comprimento e 53,67 jardas (49 metros) de largura. O campo propriamente dito tem 100 jardas de comprimento, sendo que para lá de cada linha de golo existem mais 10 jardas. Atrás de cada linha de golo existe uma “baliza”, com uma barra horizontal a 10 pés do chão e dois postes separados por 18,5 pés (não sei quanto é isto em metros). O campo está dividido em várias linhas, dando um aspecto de grelha. A linha do meio-campo marca 50 jardas e as restantes vão marcado de 10 em 10 jardas, nas duas direcções, até às linhas de golo.

Em cada jogada de ataque uma equipa tem de progredir, no mínimo, 10 jardas. Para isso dispõe de quatro tentativas (chamadas de “downs”). De cada vez que uma equipa progride 10 ou mais jardas, tudo começa de novo, no local onde a última jogada acabou (a não ser que essa jogada tenha terminado em “touchdown”). Se ao fim dos quatro “downs” a equipa não tiver avançado essas 10 jardas, a bola passa para o adversário. Em cada jogada ofensiva, uma equipa pode fazer apenas um passe para a frente. Passes para o lado e para trás são ilimitados (mas bastante raros). Existem ainda vários tipos de faltas, que são, normalmente, punidas com jardas de penalização.

Quanto à pontuação, existem três tipos:

Touchdown: É a jogada máxima do futebol americano, corresponde ao ensaio no râguebi. Acontece quando um jogador atravessa a linha de golo contrária com a bola na mão ou quando a recebe estando para lá dessa linha de golo. O “touchdown” vale 6 pontos. Segue-se um pontapé de transformação, que vale 1 ponto. As equipas podem optar, em vez do pontapé, por jogar à mão, como num “touchdown”. Essa jogada vale 2 pontos, mas é mais arriscada, pelo que só é usada em casos de desespero.

Field Goal: Acontece quando o “kicker” coloca a bola entre os postes contrários, com um pontapé. Vale 3 pontos. É normalmente utilizada quando a equipa que ataca chega ao 4º “down” e sabe que, se arriscar jogar à mão, pode perder a posse de bola. Se estiver a uma distância não muito grande dos postes contrários, opta pelo pontapé. “Mais vale um pássaro na mão...”

Safety: É muito raro e pode dizer-se que é o “autogolo” do futebol americano. Acontece quando um jogador da equipa que defende é bloqueado para lá da sua própria linha de golo ou quando deixa cair a bola nessa mesma zona. Essas “fífias” valem 2 pontos para a equipa que ataca.

Agora é só esperar pelas 23h00 de domingo para se assistir ao maior espectáculo do desporto norte-americano. Se, entretanto, o Sporting tiver derrotado o Nacional e o Benfica perdido pontos em Leiria, melhor será a disposição para assistir ao mágico Super Bowl.

4 Comments:

At 6:34 da tarde, Blogger José Cavra said...

Meu Deus! Que enormidade de Post.
Obrigado Xico Beck.
Espero pelo rescaldo do jogo.

 
At 6:38 da tarde, Blogger André S. Machado said...

Este blog está cada vez melhor... O futebol é assunto principal, mas as qualidades técnicas e tácticas dos nossos colaboradores não se restringem a este desporto! Com Cavra a postar cada vez mais e melhor sobre basquet e Kataklinsman a postar sobre futebol americano abrangemos um maior numero de leitores e enriquecemos como amantes do desporto!

 
At 1:29 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Este jogo é bastante boçal, como o povo que o pratica.
As jogadas duram 10/20 segundos, sendo interrompidas por 2/3 minutos - i.e., um jogo que podia demorar hora e meia pode levar mais de três horas.
Depois, se bem que apregoem ser tipos tesos e machos, jogam com umas armaduras impressionantes...
Na minha modesta opinião, é um jogo de mariquinhas, quando comparado com o rugby, em que não há protecções e o jogo não pára quando o jogador é placado.
Um tipo deste desporto apanascado não durava 10 minutos a jogar rugby... aliás, os tipos são tão gordos que, se tivessem de correr mais de dois minutos seguidos, morriam logo.
Em resumo, uma boa bosta, tipicamente americana... mas, mesmo assim, sempre é melhor que o basebol e o hóquei no gelo, que esses nem desportos são...

 
At 8:56 da tarde, Blogger José Cavra said...

Amigo anónimo, o seu comentário levou-me ás lágrimas! a sério está de fartar de rir.
Gostei em especial do "aliás, os tipos são tão gordos que, se tivessem de correr mais de dois minutos seguidos, morriam logo."

 

Enviar um comentário

<< Home