01 dezembro, 2005

Vitória de Setúbal: Qual o segredo?


E já cá cantam mais 3 pontos! Quando os adeptos do Vitória já saíam do estádio e alguns já despediam Norton de Matos(!!!), Auri cabeceou para o 4º lugar. O clube do Sado, que não tem dinheiro para mandar cantar um cego( os nossos leitores Stevie Wonder e Andrea Bocceli que me perdoem) , é, pela 2ª época consecutiva, uma das grandes revelações. Estrelinha? É essencial, mas não explica tudo.
Após os “golden years” do Vitória( compreenda-se as épocas mágicas de José Maria Pedroto ou o “drible macumba” de Jacinto João), em que os sadinos lutavam assiduamente pelas posições cimeiras(2º posto foi a melhor posição), o clube quedou-se por classificações a meio da tabela, com descidas pelo meio . Os últimos 9 anos são exemplo disso: 12º em 96/97; 13º em 97/98; 5º em 98/99; 16º em 99/00; 3º da II Liga em 00/01; 13º em 2001/2002; 18º em 2002/2003; 2º na II Liga em 2003/2004 e 10º na pretérita temporada. De destacar a presença na Taça Uefa após o 5º lugar em 99 ( derrota por 7-0 com a Roma fora e vitória por 1-0 no Bonfim), com uma descida dramática no ano seguinte, em casa aos pés do Leiria, enquanto o Salgueiros, que seria despromovido em casa de vitória sadina, era cilindrado em Paranhos por um Sporting a fazer a festa do título.

Mas concentremo-nos nas últimas três temporadas. Em 2003/2004, a direcção aposta em Carlos Carvalhal, um jovem técnico que dava nas vistas no Leixões, tendo levado os homens da Matosinhos à final da Taça de Portugal, onde complicou a vida ao Sporting de Boloni. A última época tinha sido simplesmente desastrosa, com uma descida prematura sob a batuta desse maestro que é o desaparecido Luís Campo: 6 vitórias, 13 empates e 15 derrotas levaram o Vitória à posição de laterna vermelho. Carvalhal não alterou radicalmente a espinha dorsal da equipa e são apenas necessárias referir as aquisições do esquerdino Bruno Ribeiro(de volta a casa) e do sempre influente Manuel José, formado no Porto e que viria a ser decisivo. O Vitória foi a Alvalade eliminar da Taça o Sporting de Fernando Santinho, com um golo de Orestes, e subiu de divisão, classificando-se entre Estoril(1º) e Penafiel(3º). A equipa que venceu 18 jogos, empatou 10 e perdeu os outros 6 era sensivelmente: Roberto Tigrão, Costa, Bruno Ribeiro, Orestes, Auri, Zé Pedro, Hélio, Sandro, Manuel José, Jorginho e Meyong.

No ano seguinte, Carlos Carvalhal foi aliciado pelo ambicioso projecto do Belenenses e deixou o Bonfim. José Couceiro foi o sucessor. Uma aposta de risco, visto que no currículo do jovem técnico apenas constava uma descida de divisão pelo Alverca, para além de experiências como dirigente. O início de campeonato foi fantástico: goleada em Penafiel por 4-1; vitória sobre o Sporting por 2-0 e triunfo em Braga por 3-2, para além dos 6 pontos conquistados ante Guimarães e Académica. E tudo até à 8ª jornada.
Em finais de Janeiro, após um empate em Alvalade, Couceiro sucede ao malogrado Víctor Fernandez no comando do Porto. Chumbita Nunes escolhe José Rachão, treinador do Torreense e seu amigo, por sinal, para técnico. Uma aposta clara na Taça de Portugal leva o clube à conquista do troféu, com vitórias sobre Braga, Boavista e Benfica, com uma estabilização no 10º posto da Superliga.
Na equipa titular eram presenças habituais: Moretto, Éder, Auri, Hugo Alcântara, Nandinho, Sandro, Ricardo Chaves, Manuel José, Bruno Ribeiro, Jorginho e Meyong.
Mas o destino de Rachão, conhecido como “viking” pelo seu peculiar visual enquanto jogador, estava traçado. Luís Norton de Matos, há muito muito tempo sondado para o cargo, era o próximo.
À 12ª jornada a soma já vai em 23 pontos, mais 3 do que o técnico havia estabelecido como meta até à 17ª jornada! Mais fascinante é esta classificação inserida na conjuntura actual: o presidente admite receber 6000 euros por mês + 2000 euros para despesas( sem atrasos, é claro), apesar de ser proibida a remuneração a administradores, segundo uma acta de 2004. Os jogadores têm de esperar ao regularização de salários e o treinador tem de ficar de bico calado. Esteve muito bem, Norton, ao dar relevância ao espírito de grupo quando apelou ao cumprimentos dos compromissos, após o jogo com o Gil Vicente.
3 anos, 4 treinadores bem sucedidos em Setúbal. Carvalhal e Couceiro não conseguiram cumprir os objectivos nos clubes para os quais saíram, enquanto Rachão continua desempregado.
Como conseguiu o Vitória transformar Carvalhal, Couceiro, Rachão e Norton de Matos em figuras consideradas, unanimemente, competentes, enquanto antes eram vistos com desconfiança? Couceiro era um técnico derrotado por uma descida de divisão na última jornada, Rachão foi olhado de lado na chegada a Setúbal e saiu com o 1º titulo da carreira e Norton, visto como um menino bem que só queria festas e capas das revistas cor-de-rosa, é actualmente um dos treinadores mais admirados da Liga.
Se a direcção não ajuda, alguma cara deverá estar por trás. E, como já foi dito por todos, o plantel não é formado por craques e não se pode dizer que seria qualquer um a realizar um bom trabalho nestas circunstâncias.
Quinito, conhecido técnico que treinou Porto, Guimarães, Estrela da Amadora e que subiu de divisão com o Setúbal há 10 épocas, ocupa actualmente o cargo de director desportivo. É um dos mais criticados pela má-lingua, que insiste em dizer que o seu trabalho é nulo e o ordenado avultado. Mas não será Quinito um elo de ligação entre a administração e o balneário? Seria possível realizar uma época como esta se equipa técnica e jogadores estivessem em completa rotura com a direcção? Não se pode esquecer que o homem que não sabia se havia de treinar ou pedir autógrafos ao Porto campeão da Europa é uma personalidade muito respeitada pela mais importante instituição de Setúbal.
Por mais que os problemas financeiros ou a irresponsabilidade do presidente afecte o Vitória, o clube continua a ser uma rampa de lançamento não só para jogadores mas também para treinadores. Segredos do sucesso? Existem, certamente.

3 Comments:

At 3:46 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Pois é.. Concordo plenamente com tudo o que foi dito mas, apesar de tudo...a parte que fala tão bem de Quinito deixa um pouco a desejar, não digo que este não seja um importante elo de ligação balneário/administração, mas Quinito aufere de um ordenado muito elevado e tem um contrato que quase pode ser considerado vitalício, uma vez que para o despedirem teriam que lhe pagar 10 anos de ordenados. Quinito apesar de consagrado conhecedor do futebol, podia muito bem baixar o seu ordenado para ajudar o seu(será?) VITÓRIA.
Ainda assim, é sempre muito bom ler comentários deste tipo do mágico VITÓRIA, mais uma época de sucesso com jogadores que ninguém conhecia e que mais pareciam no inicio de época, terem sido "repescados" numa rede de pesca com peixe morto.

O VITÓRIA não é grande, é ENORME! Só pedimos respeito!

ULTRAS VIII EXÉRCITO, sempre presentes, sempre Fiéis!

 
At 1:25 da manhã, Blogger boloposte said...

Desculpem estar a usar a caixa de comentários passando completamente ao largo do post.

É só para vos informar de que o vosso blog já se encontra cadastrado na lista de blogs federados e, ao mesmo tempo, agradecer-vos a adesão à iniciativa.
Felicidades.

 
At 12:20 da tarde, Blogger José Cavra said...

Isso é muito sério!
Como sérios são os jogadores do Vitória.
Parabéns ao nosso Blog e ao vitória!

 

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