Grandes antes de tempo

Esta introdução serve para demonstrar que, muitas vezes, a fama e a obscuridade, a glória e a desgraça, a riqueza e a pobreza, devem-se a acasos, a sortes e azares que não se podem controlar. O mesmo se passa no futebol. Uma das minhas maiores tristezas enquanto sportinguista é o meu clube nunca ter sido campeão europeu, ao contrário dos seus dois rivais históricos. E ninguém me tira a convicção de que só não conseguimos isso por azar. Mais concretamente, pelo azar de termos sido grandes antes de tempo. Como toda a gente sabe, a melhor equipa da História do Sporting foi a dos Cinco Violinos, que jogaram juntos entre 1946 e 1949. Nessas épocas o Sporting ganhou os três campeonatos disputados e uma Taça de Portugal. Noutra época a Taça não se disputou e noutra o Sporting cometeu a proeza de ser eliminado pelo Tirsense, então na III Divisão. Foi a sempre existente excepção à regra. Nessa altura, aliás, a pergunta que se fazia não era “Quem vai ganhar?”, mas sim “Por quantos vai ganhar o Sporting?”.
Mas faltou algo ao Sporting para um grande reconhecimento internacional: um título europeu. Por uma razão simples, não havia competições europeias. A Taça dos Campeões, a primeira a surgir, só nasceu em 1955. Aliás, a prova de que o Sporting era o clube português mais prestigiado na altura é que foi convidado para ser o primeiro representante luso na competição, quando o campeão era o Benfica. Só que, então, os leões já eram uma equipa em quebra e dos cinco violinos só restavam dois, Vasques e Travassos. Daí que o Sporting tivesse sido eliminado logo à primeira, pelo Partizan Belgrado. Daí que nunca saberemos se o Sporting dos Violinos era ou não a melhor ou das melhores equipas europeias. Apenas alguns jogos particulares deixam antever isso. Ficaram famosas as vitórias sobre o Lille, campeão francês, por 8-2 e sobre o Atlético Madrid, campeão espanhol, por 6-3, na capital do país vizinho.
Hoje em dia todos sabemos citar de cor os maiores clubes europeus e os maiores de cada país. Mas há alguns clubes que, tal como Elser, tiveram azar temporal e hoje caíram na obscuridade ou, pelo menos, já não têm a aura de outros tempos. Nesta posta vou recordar alguns desses clubes, em forma de homenagem singela (como fica sempre bem dizer).
Espanha:

Itália:

Torino Calcio: Um dos clubes mais lendários do futebol italiano. Foi sete vezes campeão e dominou o Calcio nos anos 40 (1928, 1943, 1946, 1947, 1948, 1949, 1976). Venceu a Taça em cinco ocasiões (1936, 1943, 1968, 1971, 1993). Participou apenas numa final europeia, a da Taça UEFA em 91/92, perdendo para o Ajax devido à regra dos golos fora (2-2, 0-0). Em 1949 viu a sua época de ouro terminada da forma mais brutal. Depois de um jogo particular em Lisboa com o Benfica, o avião que transportava a equipa colidiu com a colina de Superga, já em Turim, e 18 jogadores perderam a vida, bem como a equipa técnica e alguns dirigentes. E o Torino nunca mais foi o mesmo, só festejando mais um título, 27 anos depois. Hoje está na Serie B, depois de ter sido recusado o regresso à Serie A, devido a problemas financeiros.
Bologna FC: Foi um dos grandes do Calcio até aos anos 40. Conquistou sete títulos de campeão (25, 29, 36, 37, 39, 41 e 64) e duas Taças (70 e 74). Tem algumas presenças nas competições europeias, mas sem proezas de registo. Esta época regressou à Serie B, depois de alguns anos no escalão mais alto do futebol italiano.
US Pro Vercelli Calcio: Clube completamente desconhecido da maioria dos adeptos de futebol, foi o segundo dominador do Calcio a seguir ao Genoa. Foi campeão sete vezes (1908, 1909, 1911, 1912, 1913, 1921 e 1922). Praticamente desapareceu do mapa, pois a última época em que participou na Serie A foi em 1934/35! Hoje joga na Serie C2, a quarta divisão do futebol transalpino.
Inglaterra:

Alemanha:

FC Schalke 04: Depois do Nürnberg nos anos 20, o Schalke 04 assumiu-se como maior clube alemão dos anos 30 e início de 40. Nesse período conquistou o clube de Gelsenkirchen seis dos seus sete campeonatos (34, 35, 37, 39, 40, 42 e 58). Dos clubes que referi, até ao momento, o Schalke é aquele que parece querer levantar-se mais rapidamente. Nos últimos anos ganhou duas das suas quatro Taças (1937, 1972, 2001 e 2002). Além disso, depois de muitos anos obscuros nas provas europeias, o Schalke conseguiu vencer a Taça UEFA em 1997, derrotando o Inter na final (1-0, 0-1, 4-1 g.p.). E hoje em dia participa na Liga dos Campeões.
Holanda:
HVV Den Haag: Com oito títulos conquistados (1900, 1901, 1902, 1903, 1905, 1907, 1910 e 1914), só é ultrapassado no ranking do campeonato holandês pelos três grandes, Ajax, PSV e Feyenoord. O HVV venceu ainda a Taça em 1903. Não foi possível encontrar o rasto deste clube na actualidade, pelo que pode ter sido extinguido ou ter-se fundido com outro(s) clube(s).

Bélgica:
Royale Union Saint-Gilloise: Mais um clube desconhecido da generalidade dos amantes de futebol actuais, é o terceiro maior clube belga, a seguir a Anderlecht e Club Brugge, com 11 títulos conquistados (1904, 1905, 1906, 1907, 1909, 1910, 1913, 1923, 1933, 1934 e 1935). A Union ganhou ainda duas Taças (1913 e 1914). Desde 1973 que não sabe o que é jogar na I Divisão e desde então tem oscilado entre a II (onde joga actualmente) e a IV Divisão belgas.
Nota: Mais alguns clubes mereceriam destaque, mas, para o texto não ficar demasiado longo, optei por nomear apenas clubes dos dez primeiros países do actual ranking da UEFA e que tenham conquistado pelo menos cinco campeonatos nacionais.
4 Comments:
Grande,grande post. Em Portugal o Vitória de Setúbal de Pedroto também esteve perto do título, para além das participações honrosas nas competições europeias nos anos 60 e vitórias em torneios prestigiados.
e porque não os Boston Celtics no campeonato da NBA? ou até mesmo os Knicks de New York q são a unica equipa em 2005 so com derrotas?
agora a serio, Jorge é um regalo ler os teus posts. mtos parabéns.
pena escreveres pouco. nao da para aumentar?
Cavra man...
Qualidade em detrimento de Quantidade man!
O Jorge é um abnegado e mesmo que escreva só uma frase, com certeza, essa frase ficará na história do pós-modernismo.
Caro Solteirão, o critério para a escolha dos clubes referidos foi o de terem vivido os seus grandes momentos antes da existência das competições europeias. O Saint-Etiénne (por acaso o meu clube francês preferido), esteve em grande nos anos 60 e 70, logo teve a hipótese de brilhar na UEFA (ainda chegou à final da Taça dos Campeões). Quanto ao Nottingham Forest, hoje em dia na III Divisão inglesa, cometeu a proeza de ser mais vezes campeão europeu (2) que inglês (1)! A nível de selecções, é certo que a Hungria já foi grande, nos anos 50, tal como a Áustria, nos 30. Mas aí já havia Mundiais, se não aproveitaram foi porque não souberam :-)
Mas eu espero em postas futuras voltar ao tema de gigantes que já foram e já não são, um tema que me apaixona no mundo do futebol.
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