26 dezembro, 2006

Balanço invernal

Durante muitos anos venderam-me a ideia de que Portugal era um país de clima temperado, com estações do ano agradáveis, se em comparação com muitos outros países. Raros são os fenómenos atmosféricos extremos, como nevões, ciclones e outros. Afinal, descobri este ano que somos um país do norte da Europa, com um clima terrível no Inverno. Foi isso que me ensinou a nossa Liga de Futebol Profissional, ao instituir uma pausa de Inverno na principal competição do nosso futebol. Entre a 14ª e a 15ª jornadas passam exactamente quatro semanas, quase um mês sem campeonato. Acho bem, isto de jogar com neve é muito perigoso.

Agora sem ironia, admito ter-me enganado quando pensei que a redução do número de equipas nos campeonatos profissionais ia trazer melhorias. Nem pensar. Infelizmente o futebol português tem pouquíssimos clubes capazes de garantir competitividade ao mais alto nível. Por isso, ou se fazia um campeonato com 6 ou 8 clubes (e se calhar já eram muitos), ou deixava-se estar nos 18. A qualidade seria a mesma, ou seja, baixa, mas pelo menos teríamos mais quatro jornadas de pé na bola e mais duas cidades na Liga Bine. Seja como for, já é possível fazer um balanço das primeiras 14 jornadas da prova, equipa a equipa:

1º FC Porto, 37 pontos: Como se esperava, o líder incontestável. Tem o orçamento maior e o plantel mais forte e isso tem bastado e deve continuar a bastar para manter a liderança. Se Jesualdo Ferreira é um óptimo treinador é difícil dizer. Com estas condições, difícil seria não ser campeão. Co Adriaanse conquistou os seus primeiros títulos no Dragão e Jesualdo vai conseguir o mesmo. Paulo Bento e Fernando Santos também o conseguiriam, estou certo. Mas o Porto tem mostrado fragilidades, por vezes. A derrota em Braga foi justa e o empate em Alvalade foi lisonjeiro. Das 12 vitórias, cinco foram pela margem mínima e três delas (Benfica, Académica e Nacional) perto do fim. Tal mostra força mental, mas também algumas dificuldades. Helton, Pepe, Lucho, Quaresma e Postiga têm sido das maiores figuras do campeonato e permitem disfarçar algumas deficiências (Bruno Alves, Cech...).

2º Sporting, 32 pontos: Ao nível esperado. Com o orçamento mais baixo dos três grandes e o treinador e o plantel mais inexperientes, o Sporting é o principal candidato ao terceiro lugar. Não brilha muitas vezes, mas joga quase sempre de forma segura, na sequência do que fez na época passada. Empatou com o Porto quando merecia ganhar, mas perdeu bem com o Benfica. Perdeu com o Paços com um golo ilegal, mas devia ter dado a volta facilmente, tantas as oportunidades que criou na segunda parte. Em Aveiro teve o jogo mais ridículo, deixando-se empatar duas vezes nos minutos finais. Esse jogo pode ter sido decisivo na luta pelo título. Nenhum jogador tem brilhado a grande altura (Moutinho tem de ser mais decisivo, senão não vai passar da cepa torta) e as decepções têm sido as do costume (Carlos Martins, Romagnoli e um avançado, este ano é Bueno). O título vai ser difícil e o segundo lugar também, pois a segunda volta será mais complicada que a primeira.

3º Benfica, 29 pontos: Irregularidade a mais. Tem o segundo maior orçamento e um plantel com algumas vedetas, mas não consegue fazer mais que dois jogos seguidos de jeito. Faz lembrar o Sporting dos anos 90. Ninguém sabe qual é o verdadeiro Benfica. O que goleou em Leiria e ganhou em Alvalade ou o que saiu trucidado do Bessa e de Braga. Escusado será dizer que assim não se fazem campeões. Com uma segunda volta mais leve, é bem capaz de ainda garantir o segundo lugar, o que também é difícil dizer se é bom se é mau. Por um lado garante a Liga dos Campeões e é um lugar melhor que na época passada. Por outro é muito mau para quem já devia ser o maior clube do mundo nesta altura. A grande surpresa tem sido Katsouranis, que se integrou de imediato e tem marcado que se farta (era isto que eu pedia aos médios sportinguistas...). De resto, tudo normal: Simão ao seu nível, Nuno Gomes voltou à sua média de golos habitual, Miccoli vai alternando entre relva e enfermaria... Nada de novo.

4º Braga, 24 pontos: Alguma decepção. O Braga nunca partiu com tanta ambição como este ano, com um plantel reforçadíssimo e um treinador que se valesse tanto como as palavras caras que usa estaria no top mundial. Mas desde o início mostrou-se muito irregular, com belas vitórias frente a Porto e Benfica e derrotas claras frente a Sporting e Marítimo, por exemplo. Já está a 13 pontos da liderança, pelo que o desejado título para o Minho terá de esperar. Carvalhal bateu com a porta e Rogério Gonçalves comanda agora um navio depois de apenas ter capitaneado traineiras. Vamos ver como prossegue a campanha bracarense em 2007, com um plantel ainda mais reforçado. Adriano e Edgar estão garantidos.

5º Marítimo, 22 pontos: Salto qualitativo. Depois de um sensaborão 10º lugar na época passada, o Marítimo parece estar de volta às lutas europeias. Não é ainda uma equipa totalmente fiável, como provou na goleada sofrida em casa com o Belenenses, mas nota-se progressão em relação ao ano passado. E, no fundo, é isso que se pede quando se aposta no mesmo treinador. Para já, Ulisses Morais tem justificado a confiança de Alberto João Jardim, perdão, Carlos Pereira.

6º U. Leiria, 21 pontos: Normal. A União de Leiria, dando seguimento às suas excelentes e, aparentemente, até promíscuas relações com o Porto, apostou este ano numa antiga estrela das Antas, Domingos Paciência. Os resultados têm sido positivos, com a equipa do maior estádio do país a apenas um ponto da Europa. A continuar assim, Domingos pode orgulhar-se do seu ano de estreia como treinador de uma equipa profissional.

7º Nacional, 20 pontos: Ainda a tempo. Depois de na época passada ter assegurado uma presença europeia pela segunda vez na sua história, pela mão de Manuel Machado, o Nacional tenta agora não fazer pior. É Carlos Brito que tem a responsabilidade de não defraudar o presidente menos egocêntrico do futebol luso. Para já não vai mal, apenas a dois pontos de um lugar europeu, ocupado pelo rival Marítimo. Promete uma luta interessante para a segunda volta.

8º Naval, 20 pontos: Agradável. Na época passada salvou-se da descida à última hora. Este ano começou o campeonato de forma exemplar e não vacilou muito quando perdeu Rogério Gonçalves para o Braga. Se fizer mais 10/12 pontos garante a permanência e fica livre para fazer uma gracinha na luta pelo 5º lugar. Sem estrelas, mostra que é possível fazer uma equipa competitiva com capacidade de trabalho. Marca poucos golos, mas também não sofre muitos. Só Porto e Sporting têm defesas melhores.

9º Belenenses, 20 pontos: Outra das grandes surpresas. O Belenenses, como toda a gente sabe, devia estar a disputar a Liga de Honra, onde previa um ano de grandes dificuldades. Mas com um plantel limitado e sem avançados de qualidade, está a fazer um campeonato de qualidade, terminando a primeira volta em grande estilo (ou melhor, espero que não, pois ainda vai receber o Sporting na primeira volta). José Pedro tem sido a alma da equipa, a construir e a marcar, e Jorge Jesus mostra que é possível ter qualidade sem saber falar português.

10º P. Ferreira, 18 pontos: Dentro do esperado. O Paços é dos clubes mais previsíveis do futebol português. Luta sempre para não descer, nunca consegue fazer um brilharete. Só resulta com José Mota e José Mota só resulta no Paços. Gosta sempre de lixar o Sporting. Cumprida a tradição, nada mais se exige (e se espera) da equipa da Mata Real.

11º Boavista, 16 pontos: De volta à mediania. Se alguém esperava que o Boavista se tornasse num grande após o título de 2001, enganou-se bem. Se calhar para dar mais emoção à luta com o Belenenses pelo posto de quarto grande, os axadrezados imitam o seu rival: pouco público no estádio, resultados modestos, futebol pouco interessante. Mesmo assim, a seis pontos do 5º lugar, o Boavista ainda pode chegar à Europa. Veremos se consegue, pois Jaime Pacheco parece também já não ter o élan de 2001.

12º E. Amadora, 15 pontos: Porreiro. Normalmente não tenho grande simpatia pelo Estrela, mas este ano é excepção. Depois do excelente 9º lugar da época passada, este ano a tarefa era mais complicada. Para além de ter de jogar fora os jogos em casa, o Estrela apresentou um treinador novo. Acompanho a carreira de Daúto Faquirá há uns anos e simpatizo com ele. No entanto, sempre foi alvo de um certo escárnio, não sei se pelo nome exótico, se por ser preto, se por ambos os dois... Mas já tinha mostrado competência no Sintrense, no Odivelas, no Barreirense e no Estoril, pelo que a oportunidade é merecida. Começou muito mal, mas começou a ganhar pontos discretamente e neste momento já tem quase o dobro dos dois últimos.

13º Académica, 13 pontos: Decepção. A Académica é hoje um clube de boa capacidade de investimento e que não tem hesitado em fazê-lo. Já era tempo da Briosa regressar às lutas europeias, mas continua agarrada à segunda metade da tabela. Com um treinador de provas dadas, Manuel Machado, tem sido uma desilusão. A segunda volta só pode ser melhor.

14º V. Setúbal, 9 pontos: De esperar. Depois de duas épocas muito boas o Vitória regressa à sua realidade actual. Sem conseguir segurar os melhores jogadores, resta apenas lutar para não descer. Quando o plantel é limitado, resta a atitude para tentar alcançar melhores resultados. Mas o Vitória, com uma cultura de futebol bonito, não tem jogadores comedores de relva. Se a permanência acontecer, a capela do Senhor do Bonfim vai encher, bem mais do que tem acontecido no estádio, cada vez mais frio e abandonado.

15º Aves, 8 pontos: Sem nível. Neca voltou a trazer o Aves para a I Liga e, provavelmente, vai levá-lo de volta para a II. Com um plantel fraco, um futebol defensivo, mas nem por isso eficaz, quase sem adeptos, o Aves é daqueles clubes que não faz falta nenhuma ao escalão principal. Há outros, é certo.

16º Beira-Mar, 8 pontos: Inesperado. Com vedetas como Jardel e Danrlei e um treinador campeão como Inácio, esperava-se, no mínimo, um campeonato tranquilo. Mas uma única vitória em 14 jogos mostra que algo vai mal para os lados da ria. É outro clube a viver acima das possibilidades, com um estádio gigantesco e jogadores com nome, mas sem rendimento. Saiu Inácio para o último da liga grega (aqui se vê como a qualidade de vida em Portugal é grande), chegou Carvalhal, mas a incapacidade continuou. Mas não seria de admirar que conseguisse a manutenção, até porque parece uma equipa melhor que Setúbal e Aves.

2 Comments:

At 12:48 da tarde, Blogger Hugo said...

Bom post. Concordo plenamente que a redução para 16 náo trouxe nenhumas melhorias ao nosso futebol.
Com menos jogos(receitas) e as mesmas despesas, os nossos clubes caminham para a falência...

 
At 2:33 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Excelente post.
Concordo contigo qdo dizem q a redução para 16 clubes em nada abonou a SL.
Para haver competitividade teriam q ser praí 8 ou 10, a 4 voltas.

Qto à luta pelo título, há um momento q marcou a época.
O golo de Bruno Moraes já nos descontos contra O benfica. Catapultou o Porto.

 

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