09 julho, 2006

Itália ganha em toda a linha

A Itália venceu esta noite a França, nos penalties, e conquistou o seu quarto título mundial, quebrando um jejum de 24 anos. Foi um Mundial curioso. Muitos dos candidatos ao título abdicaram das suas características de jogo e adoptaram uma filosofia italiana, isto é, raramente assumir o jogo, mantendo a rectaguarda segura e esperando que um golpe de sorte permita chegar à vitória. Curiosamente, todas essas equipas se deram mal com esse sistema e o título acabou por ir para o “pai da criatura”, que já desesperava por este título. Entre as equipas que optaram por esse esquema tivemos o Brasil, a Argentina, a França (excepto na final) e até Portugal, que, ao contrário de outras provas anteriores, não colheu grande simpatia dos espectadores. Das selecções grandes só a Alemanha apresentou um futebol positivo e virado para a frente, o que lhe valeu o 3º lugar - num ano em que ninguém dava nada por ela -, o melhor ataque e marcador da prova e ainda a reconciliação com o próprio país.



Recapitulando a prova desde o início, a primeira fase não trouxe grandes surpresas. Apenas os apuramentos de Gana e Austrália em detrimento de República Checa e Croácia abriram algumas bocas de espanto. Quanto a jogos, e reconhecendo que falhei alguns, o que mais me entusiasmou foi o Suécia-Inglaterra, que terminou 2-2.

Nos oitavos-de-final, houve duas meias supresas. A Ucrânia bateu a Suiça nos penalties, mandando os helvéticos para casa sem sofrerem um único golo durante a prova. Maior destaque merece a eliminação da Espanha pela França. Os gauleses tinham sido o “grande” que maiores dificuldades tinha revelado para passar a primeira fase, enquanto os nuestros hermanos andavam eufóricos e já falavam no título. Mas, mais uma vez, tiveram que recorrer àquele célebre provérbio futeboleiro castelhano: “Jogámos como nunca, perdemos como sempre.” Os restantes favoritos seguiram em frente, com maior ou menor dificuldade. Intragável foi a forma como os italianos seguiram em frente: um penalty inventado pelo árbitro em tempo de compensação permitiu-lhes eliminar a Austrália. Se a expulsão de Materazzi tinha sido um pouco dura, isto foi um crime contra o futebol. Quanto a Portugal, eliminou a Holanda. Nada de novo, como demonstra o historial entre as duas equipas.

Nos quartos-de-final começaram a cair os favoritos. A Argentina, para muitos a equipa que estava a jogar melhor, caiu aos pés da Alemanha, nos penalties. Os sul-americanos viram um golo cair-lhes do céu e depois só quiseram segurar o resultado. Os alemães não desistiram e chegaram ao empate. Na absurdamente chamada lotaria, os teutónicos levaram a melhor, mantendo um registo de cem por cento de apuramento em Mundiais por este sistema. Mais que sorte, é uma questão de nervos e confiança. O Brasil, que nunca apresentou um futebol decente, caiu aos pés da França, cada vez em melhor forma. A Itália, com mais um adversário fácil, venceu a Ucrânia por 3-0, não sem ter passados por uns sustos. Portugal deixou para trás outro pseudo-favorito, a Inglaterra. Mais uma vez, os tugas honraram a sua história recente. Portugal não jogou bem, mesmo com mais um homem durante 60 minutos quase não criou perigo, mas nos penalties o factor psicológico favoreceu claramente a equipa de Scolari. Aos ingleses, tal como aos espanhóis, aconteceu-lhes o mesmo de (quase) sempre: regressar a casa com um enorme melão. A verdade é que os ingleses, inventores do futebol e fanáticos pela modalidade, como mostram os milhares de adeptos que sempre acompanham a selecção, raramente vão longe. Em 30 grandes competições (18 Mundiais e 12 Europeus), os “bifes” apenas chegaram a uma mísera final, no Mundial de 1966, a jogar em casa. E só venceram a Alemanha graças a um golo fantasma no prolongamento. Que raio de candidato é este?



Nas meias-finais, a tradição falou mais alto. A Alemanha, mesmo a jogar em casa, não conseguiu ultrapassar o trauma de não vencer os italianos em Mundiais. O jogo foi muito equilibrado, mas, à medida que se aproximava do fim, os teutónicos começaram a pensar nos penalties, onde são imbatíveis até hoje, enquanto os italianos arriscaram como quase nunca se lhes vê. Marcello Lippi acabou por ser recompensado, ao ver a sua equipa marcar a um minuto e meio do fim do prolongamento. Depois ainda chegou outro golo. No outro jogo, Portugal perdeu com a França, como manda a tradição. Tudo parecia equilibrado, mas Henry, num golpe de génio, partiu Meira e Carvalho e ganhou um penalty, que Zidane aproveitou. A partir daí, os tugas tentaram reagir, mas apenas uma rotação de Pauleta e uma cabeçada de Figo por cima, de baliza aberta, assustaram os galos. De resto, Portugal dedicou-se a dar razão aos seus maiores críticos, com alguns meninos a tentarem ganhar penalties de forma absurda e, ainda por cima, incompetente.

O jogo de apuramento para o terceiro lugar acabou por ser dos mais agradáveis do torneio. Alemanha e Portugal, mesmo algo desfalcados, realizaram um jogo de ataque, com muitas oportunidades. A equipa da casa foi melhor e contou com um Schweinsteiger inspirado, depois de uma prova demasiado discreta. Ricardo deu o seu primeiro e único frango do torneio e Petit marcou um autogolo e ficou mal visto nos outros dois golos, ao não fazer uma cobertura eficiente. Eu também não compreendo como Costinha pôde ser titular indiscutível, mas ao ver Petit achei que até fazia algum sentido. Nuno Gomes entrou e marcou, na última assistência de Figo pela selecção. A verdade é que a Maria Alice é muito mais fiável que Pauleta. Por um lado, participa muito mais no jogo que o açoriano, por outro lá vai marcando a grandes equipas, enquanto o “Brisa dos Açores” (Ciclone é demasiado simpático) vê as balizas diminuirem quando os adversários não se chamam Luxemburgo, Cabo Verde, etc. Do lado alemão, Kahn despediu-se em beleza, com uma grande exibição, e jovens como Lahm, Metzelder, Jansen, Schweinsteiger e Podolski mostraram que a Nationalmannschaft vai continuar a ser um candidato aos títulos das provas em que entra, com ou sem o meu quase homónimo no comando.

A final correu como quase todos os portugueses (eu não incluído) desejavam: a Itália ganhou. O jogo começou de forma aberta, ao contrário do esperado. Zidane marcou primeiro, mais uma vez de grande penalidade, e Materazzi empatou ainda antes dos 20 minutos, pondo a nu o facto de a França possuir o pior guarda-redes de entre as melhores equipas. Depois a Itália foi-se fechando cada vez mais, enquanto a França era a única equipa que queria ganhar nos 90 e, depois, nos 120 minutos. Mas não chegou lá e depois Zidane decidiu acabar a carreira e, quiçá, começar outra noutra modalidade desportiva, ao cabecear Materazzi no peito. A Itália mesmo assim não arriscou nada e lá levou o jogo para penalties, onde só Trezeguet falhou. E os italianos lá foram campeões, para satisfação de muitos portugueses. Incluindo José Peseiro, que não se cansou de vociferar contra os mergulhos dos franceses na primeira parte, mas não abriu a boca contra os dos italianos, em todo o resto do jogo. Parabéns então.

4 Comments:

At 8:33 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Que mau perder, Kataklinsman... só porque a Itália ganhou a RFA??? Nesse jogo, mostraram que eram os melhores... aqui, estavam fisicamente de rastos, mas o cobardolas do dominicano não aproveitou.
Foi pena não termos ido à final. Se desse para ir a penalties, ganhávamos - nisso, o Ricardo é melhor que o Bufão...

 
At 10:18 da tarde, Blogger José Cavra said...

Anónimo, apesar de teres comentado essencialmente para brincar com o Jorge tocaste num ponto fulcral.
O Buffon é um grande GR (para mim o melhor é Peter Cech), mas nos pks é muito pouco eficaz.
Dida, Lehman e Ricardo, são mestres.
Buffon, Barthez e outros... são mediocres.

 
At 11:52 da tarde, Blogger Jota said...

Vamos lá ver, essa história dos penalties depende muito mais de quem marca do que de quem defende. Os penalties não são uma questão de lotaria, como dizem muitos iluminados (lotaria era a moeda ao ar), mas sim de confiança e de nervos. O que aconteceu com o Ricardo foi que os ingleses partiram para a bola todos borradinhos, devido, penso eu, a dois factores: 1) ao jogo de há dois anos, onde Ricardo apenas defendeu um penalty, mas onde se criou uma onda mística à volta dele, por tê-lo feito sem luvas e por ter marcado logo a seguir; 2) os ingleses perdem sempre nos penalties. A verdade é que nas meias-finais da Taça de Portugal da época passada, Porto-Sporting, o Labreca não defendeu um único dos cinco penalties marcados pelos tripeiros. É tudo relativo.

 
At 9:46 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Sem tirar mérito ao Ricardo do Montijo, concordo com o Jorge.
Por exemplo, os penalties da final eram indefensáveis. Especialmente o do Trezeguet. Nem Buffon, nem Barthez, nem Ricardo poderiam defender algum. Já um tal de Silvino Louro...

 

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