22 março, 2005

Nostalgia. Recuerdos.

De certeza que o amigo leitor já recebeu um daqueles emails carregados de simbolismo onde se fala de como era para quem nasceu antes de 1980. Crianças que nasceram numa época onde não havia playstation, nem x-box (custa a acreditar como o meu amigo Xavier Macedo sobreviveu), nem internet...e que chegaram à idade adulta, sendo neste momento a espinha dorsal do sistemaprodutivo português.
Mas e no mundo do futebol?
Como era a vida dos jovens petizes na época em que António Borges,

Adelino Nunes, Phil Walker, Djão, N'Kama, N'diga, Basaula, Forbs, Chiquinho Carlos,

Bábá, Biri, ou até mesmo Tueba (a gazela africana) eram nomes comuns aos olhosdo cidadão médio?

Os anos 80 foram, sem dúvida a era de ouro marcada por visistas alucinantes deVizela, Ginásio de Alcobaça, Amora, Sporting da Covilhã, Recreio de Agueda, Associação desportiva e Fafe (sob o comando de mister Rachão) e Desportivo de Elvas ao convívio dos grandes.
Lembro-me de jogar futebol com somente uma baliza e guarda redes comum a ambas as equipas, num jogo denominado "o brasileiro".
Jogava-se na terra, no pátio ou na rua com paus espetados, mochilas, pedras ou peças de vestuário a fazerem de poste.
Como não haviam traves, os lances duvidosos sucediam, sendo muito comum ouvir-se: "Não, não foi golo. Ele não chegava à bola." A táctica era jogar sempre com o rapaz mais pequeno à baliza. LINDO!
Rezam as cronicas que Marco Tabuas começou a sua carreira assim.
A paixão pelo futebol era tal, ao ponto de se jogar futebol sem bola, um mix decaça-caça com jogo do mata.
Algo similar pratica-se hoje por muitos misters da super-liga quando decidem retirar as balizas nos treinos.
Quem nao se lembra de jogar à baliza-baliza com o irmão, o vizinho ou até mesmo um primo.
Ninguem fazia virgulas à Ronaldinho, nem fintas à Figo, jogava-se pelo prazer eo craque era quem corria mais.
Era frequente verem-se 30 putos à molhada num campo de batatas (idêntico aovelhinho Adelino Ribeiro Novo) com 20 metros de comprimento por 10 de largura, agladiarem-se pela posse do esférico.
Ninguém jogava com equipamentos oficiais, mas sim de calças de ganga, camisola, camisa, Kispo e sapatos.
O gajo mais forte do grupo, acumulava as funções de ponta de lança com as de árbitro, árbitro auxiliar (na altura "bandeirinha") e ainda tinha tempo para marcar e defender penaltys.
Belos anos, onde Humberto Coelho treinava o Salgueiros, Manuel José o Sportingde Braga, Carlos Cardoso as camadas jovens do Setubal e José Rachão tentava a sorte na Associação Desportiva de Fafe.
Em Trás-os-Montes Raul Águas, projectava um Desportivo de Chaves europeu, ondepontificavam Padrão, Radoslav Zdradkov (Radi), Gilberto, David, Vermelhinho, e tantos outros. Alvalade acolheu-o um ano mais tarde, com um projecto ambicioso que não passou da 10 jornada graças ao estalar do chicote!
No nosso Porto Quinito não sabia se havia de treinar, ou pedir autógrafos aos campeões europeus. 18 anos mais tarde Couceiro viria a sofrer do mesmo mal.