31 março, 2005

A Armada Inglesa

Advertência: Este post foi sugerido pelo amigo Ravel.
Obrigado também a André Machado, de Setubal pelo contributo na procura de imagens.

Graeme Souness, antiga glória do Liverpool, chegou ao Benfica pela mão do não menos glorioso presidente João Vale e Azevedo (em Dezembro de 1997), após ter sentido o sabor do chicote em Turim (no Torino, claro).

A oposição rapidamente o apelidou de perdedor, contudo JVA saiu em sua defesa:
"Este homem é um vencedor, quem consegue manter o Southampton na Premier Leaguetem que ser forçasamente um vencedor" (têm passado pela Premier League muitos vencedores nos ultimos anos).
Os primeiros craques britânicos a chegar à Luz foram Scot Minto, um lateral esquerdo de qualidade razoável

e Brian Deane, um avançado alto e tosto (muitotosco) mas que se revelou de grande utilidade.

Um mister a quem Gabriel Alves se referiu como tendo algumas limitações, conseguiu fazer renascer a nação benfiquistas (os 6milhões) com uma 2ª volta em grande estilo onde se destacam goleadas ao Sporting em Alvalade (1-4) e ao nossoPorto na Luz por 3-0 (com Deane a facturar nos 2 jogos).
No ano seguinte, uma pré época em cheio que culminou com uma goleada à Lazio(4-0) e uma pre eliminatória da liga dos campeões facilmente ultrapassada frente ao Beitar de Jerusalem, fizeram encher de esperança as hostes vermelhas e brancas.
Souness entretanto havia contratado Mark Pembridge, um médio esquerdo galês

e um trinco de renome, ex-Liverpool, rotalado de craque e que se esperava que fosse o professor de José Calado, Michael Thomas.

Cedo se percebeu que Michael teria vida díficil (muito díficil) na Luz, uma vez que a cara dos furiosos adeptos contorcia-se a cada vez que o inglês tocava na bola.
Num jogo contra o PSV para a liga dos campeões, Souness vem em defesa do seupupilo dizendo que: "Michael Thomas has BIG BALLS". O mito tinha acabado denascer.
Mais tarde deu-se "o efeito Thomas" (citação de José Eduardo).
O que era o efeito Thomas?
Este efeito consistia no facto do adversários a ignorarem completamente o inglês, fazendo com que este onseguisse exibições razoáveis, nomeadamente contra o Vitória de Guimarães na Luz (3-1, 1golo do Thomas) e Sporting em Alvadale(1-2, 2 autogolos de Beto).
Anderson Luiz de Sousa (Deco), viria a interpelar João Vale e Azevedo sobre a sua actual situação no clube, sendo prontamente posto no seu lugar com a seguinte afirmação: "Mas tu pensas, que alguma vez jogarás no Benfica? Temos oMichael Thomas que é mil vezes melhor doque tu. Desaparece é do meu gabineteantes que te mande treinar amarrado a uma árvore".
Meses mais tarde, Deane rumou ao Boro por 900 mil contos (que grande barrete), Minto foi para Londres representar o Chelsea, mas foram contratados Gary Charles ao Aston Vila,

Steve Harkness ao Tramiere Rovers da 3º divisão inglesa

e DeanSandeurs não se sabe muito bem a quem.

A armada inglesa teve o seu momento de glória no "jogo do título" em pleno estádio da Luz, contra o Boavista, sendo cilindrados por 0-3 pelos nortenhos.
Paulo Madeira (qual Carlos Secretário) ajudou ligeiramente tendo isolado o ganês Kwayne Ayew logo aos 2 minutos, para o 0-1.
O reinado de Souness é igualmente marcado pela visão pós moderna ao ponto de deixar Karel Poborsky de fora sempre que o clube jogava fora de casa, sob a justificativa de que o campo não era para as características do checo e pela dispensa do Boliviano Erwin Sanchez (mais tarde campeão pelo Boavista).
A meia duzia de jornadas do fim do campeonato e em vésperas de um jogo contra o vitória de setubal (derrota por 1-0) da-se o estalar do chicote para os lados daLuz e Sheu Han assume o comando técnico da equipa.
No final da época os britânicos rumaram à sua pátria, para tristeza de todos, em especial dos amantes do futebol espectáculo em geral, portistas, sportinguistas,...e boavisteiros em particular.
Fica para recordação a equipa tipo no reinado do escocês.
Preud Homme com 39 anos, but fresh as a letuce, na baliza.
A latereal direito Gary Charles; Steve Harkness na esquerda, com a dupla maravilha Ronaldo e Paulo Madeira no centro.
(meu deus que simbolismo, nem sei se prefira esta defesa ou a apresentada um anomais tarde em Vigo).
O trinco era o grande Michael Thomas, o homem do metro quadrado, o homem que jogava ao primeiro toque, o homem com a sua velocidade supersónica causava desiquilibrios (na defesa e no ataque).
Médio direito, mas só para os jogos em casa, Karel Poborsky (Tahar El Kalej surgia sempre que a equipa alinhava fora de portas), Calado a médio Centro e Mark Pembridge na esquerda.
Observem bem, Thomas, Tahar, Calado e Pembridge... um meio campo digno de qualquer grande clube que aspire a subida à 2ª divisão B Zona Sul!
Lá na frente João Vieira Pinto (Dean Sandeurs) e Nuno Gomes.
Vejam os primeiros desentendimentos com o menino de ouro da Luz, que passou a ter que lutar pela titularidade com o galês de 35 anos (que em determinada altura travou um duelo de veteranos interessante contra Beto Acosta).
Era o prenuncio de que algo de muito mau iria surgir ao menino de ouro no ano seguinte.
Como dizia o outro, recordar é viver.
Saudações desportivas a todos