09 maio, 2007

Benfica – A campanha Europeia de 1987-88

Após a dobradinha do ano anterior, 87-88 foi uma época esquisita com a equipa, orientada por um conceituado técnico dinamarquês, a entrar muito mal no campeonato perdendo os dois primeiros jogos em casa (ambos por 1-0) contra Setúbal e Marítimo.
Com os desaires a sucederem-se a direcção entregou a equipa ao adjunto Toni ainda antes do final da 1ª volta. As melhorias foram evidentes, mas actual campeão europeu, Futebol Clube do Porto, não deu hipóteses a nível interno, vencendo o campeonato com 15 pontos de vantagem (sobre o Benfica) e a taça de Portugal (1-0 frente ao Vitória de Guimarães com golo de Jaime Magalhães).
Na Europa lavou-se de certa forma a face com o Benfica a voltar, 20 anos depois, à final da Taça dos Campeões Europeus.
O 1º adversário foi o Partizani Tirane, numa eliminatória atípica, sendo os albaneses punidos e impedidos de disputar o 2ª jogo após os incidentes na Luz onde o placard registou 4-0 para o Benfica.
Segui-se o AGF Aarhus que se mostrou um osso duro de roer. Na Dinamarca, Silvino foi crucial ao defender uma grande penalidade mantendo o 0-0 final. Na Luz o médio Adelino Nunes marcou o tento solitário que valeu a passagem.
Nos 4ºs de final, tivemos a oportunidade de nos vingar do Anderlecht. 2 a zero na Luz com golos de Rui Águas e Chiquinho Carlos e derrota em Bruxelas com um golo bastante semelhante ao do Manchester United em Lille.
Nas meias finais o adversário foi o Steua de Bucareste de Hagi, Marius Lacatus e Piturca, campeão europeu 2 anos antes.
Uma vez mais os encarnados deram-se bem com os ares da Roménia, conseguindo um precioso empate sem golos. No final o cumprimento entre Silvino e Mozer era o espelho da alegria da nação benfiquista.
Ficam alguns videos da partida que encontrei no youtube: aqui e aqui e aqui).
15 dias depois, Rui Águas com uma excelente exibição marcou os 2 golos da vitória (1º golo), ante uns romenos que mostraram pouco.
O plantel entrou então em gestão de esforços com a equipa a renunciar por completo ao campeonato lançando vedetas militaristas como Tueba, Hajry ou Augusto.
No ensaio geral para Estugarda a equipa demonstrou estar em grande forma manietando o europeu Vitória de Guimarães por 3-0. Perto do final a mancha, Diamantino foi carregado por Adão lesionando-se gravemente. O capitão fez muita falta.
A final realizou-se no Neckarstadium de Estugarda, perante 68 mil espectadores e com a arbitragem do italiano Luigi Agnolin. As equipas alinhado com:
Benfica: Silvino, Veloso, Mozer, Dito, Álvaro, Elzo, Shéu, Chiquinho, Pacheco, Rui Águas (Vando aos 57 min) e Magnusson (Hajry aos 111 min)
Treinador: Toni
PSV Eindhoven: Hans Van Breukelen, Van Aerle, Eric Gerets, Ronald Koeman, Ivan Nielssen, Heintze, Vanenburg, Linskens, Soren Lerby, Kieft e Gilahus (Janssen aos 1007)
Treinador: Guus Hiddink

O jogo foi fraquinho (podem ver o resumo aqui), mas a equipa portuguesa continuou em maré de azar ao perder no incío da 2ª parte, Rui Águas, o seu melhor avançado. Magnusson apesar de ser do melhor que havia para jogar contra as equipas pequenas eclipsava-se por completo nos grandes jogos.
Um factor engraçado foram as botas dos jogadores do Benfica que insistiam em saltar. Num lance caricato, Pacheco ia-se a isolar, mas a malvada bota saiu no pior momento provocando uma aparatosa queda ao rápido extremo esquerdo.
Com o 0-0 a manter-se teimosamente ao fim de 120 minutos de jogo, tudo se decidiu na 6ª grande penalidade quando Veloso (eleito o melhor benquista em campo) falhou. Van Breukelen benzeu-se e o PSV venceu a taça dos campeões no ano de ouro do futebol holandês.

Plantel
Silvino Louro: Quis o destino (cruel) que um guarda redes mediano defendesse a baliza do Benfica em duas finais europeias.
A lesão de Bento no México 86 deu a titularidade a um guarda-redes que havia defendido as cores do Desportivo de Aves, já na altura era orientado pelo professor Neca.
Saiu em 94 e ainda representou o Setúbal, o Porto e o Salgueiros.
Com o emblema de Paranhos conseguiu a sua ultima internacionalização, foi nesse célebre Alemanha – Portugal da fase de qualificação para o Mundial de França.

António Veloso: Ficará para sempre ligado à final fruto do penalty falhado.
2 anos mais tarde viu um amarelo na meia final que o impossibilitou de jogar a final, numa altura em que jogava a lateral esquerdo.
Foi o capitão da última grande equipa do Benfica, aquela que conquistou o título em 94.

José Carlos NEPOMUCENO Mozer: Um grande jogador com um nome mega pós moderno. Patrão da defesa, era exímio no jogo aéreo.
No ano seguinte formou com Ricardo Gomes aquela que é na minha opinião uma das melhores duplas de sempre do futebol português.
Em 1989, foi para Marselha, mas voltou em 1992 ainda a tempo de conquistar um campeonato e uma taça.

Eduardo Dito: Estava muitos furos abaixo do seu companheiro de sector.
Discreto, causou espanto quando rumou ao Porto na companhia de Rui Águas. Aí eclipsou-se.
Samuel e Edmundo completavam o quarteto de centrais.

Álvaro Magalhães: O raçudo lateral esquerdo estava a viver os últimos dias de glória de águia ao peito.
Uma lesão salvo erro na época seguinte, acabou por fazê-lo perder a titularidade para um tal de Fonseca que era bem limitado.

Elzo: Internacional brasileiro esteve presente no México 86, tendo actuado por exemplo nesse estonteante França – Brasil.
Tinha qualidade mas creio que no Benfica nunca atingiu o seu verdadeiro potencial.

Tueba: Um militarista, cuja carreira pode ser revista aqui.

Augusto: Um hiper, mega, super pós moderno proveniente do Varzim. Pouco ou nada sei sobre ele. Lembro-me actuou sobretudo nas vésperas dos confrontos europeus e o Benfica não ganhava.

Shéu: Um senhor. Discreto, não sabia jogar mal. Numa escala de 0 a 10, Shéu nunca tinha o 10, mas tiraria sempre 7. De uma regularidade impressionante era adorado pelos treinadores.
Retirou-se no ano seguinte, tendo recebido uma merecida e bela homenagem no jogo da consagração, contra o Boavista.

Adelino Nunes: Um carregador de piano. Como focado anteriormente foi nuclear na eliminatória contra o Aarhus. Também me recordo de um golo que valeu uma vitória contra o Sporting na época 86-87.
Jogou ainda no Setúbal e posteriormente na mítica selecção de futebol de praia.

Carlos Manuel: O herói de Estugarda sairia pouco depois para o Sion da Suiça. Seguiu-se o Sporting (equipa que chegou a capitanear), o Boavista e o Estoril Praia.

Pacheco: Foi a grande surpresa da época, tornando-se rapidamente na coqueluche da equipa. Se não estou errado que era proveniente do Portimonense.
Muito rápido e tecnicamente evoluído fazia a cabeça em água aos laterais direitos na época. Para mal dos seus pecados ocupava a mesma posição que Futre, pelo que a titularidade na selecção era-lhe constantemente vetada.
Traiu o clube no Verão Quente de 93, rumando juntamente com Paulo Sousa a Alvalade. Como mais tarde o veio a admitir, foi o seu maior erro a nível profissional.

Hajry Redouane: Teve poucas oportunidades no Benfica, mas este marroquino (utilizado na final, sobretudo para marcar o penalty) foi em 1987 o melhor jogador do torneio de Toulon tendo superado estrelas como Kristo Stoichkov, Penev, Kostadinov, Paul Gascoigne e David Ginola.
Saiu para o Farense onde permaneceu 11 épocas. Também actuou uma época no União da Madeira.

Chiquinho Carlos: Recebeu honras de recentes que podem ser vistas aqui.

Vando: Médio ala brasileiro proveniente do Sporting de Braga, chegou ao clube já com a época a decorrer.
Suplente utilizado na final, criou o lance de maior perigo da equipa com um remate cruzado a passar perto do poste esquerdo da baliza contrária.

Diamantino: Lesionou-se antes da partida para Estugarda. Os colegas ressentiram-se e de que maneira. Era o motor da equipa.
Depois da lesão nunca mais foi o mesmo.

Rui Águas: Filho do mítico José Águas e irmão da bela Lena D’Água era muito forte no jogo aéreo.
A sua lesão na final pesou nas opções de Toni que perdeu uma referência na área.
Espantou tudo e tudo quando traiu o clube de sempre rumando ao Porto, onde permaneceu por 2 épocas.
“Arrumou” o bi bota de ouro Fernando Gomes da selecção nacional e do Porto.
Apesar de ser um goleador nato, apenas por 1 vez (com as cores do Benfica) venceu a bola de prata.

Mats Magnusson: O 3º nórdico do clube, depois de Stromberg e Michael Maniche.
Era muito forte contra as equipas chamadas pequenas, mas eclipsava-se nos grandes jogos. Nas finais contra o PSV e contra o Milan foi uma autentica nulidade.
Valia mais de 20 golos por época pelo que era de grande utilidade. Não me importava nada de ter um Magnusson no plantel actual.

5 Comments:

At 9:25 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Quando os meus amigos lagartos se lamentam da desgraça que foi (para eles) a derrota na final da Uefa em 2005, costumo tentar consolá-los dizendo que todo aquele percurso até à derrota final valeu a pena porque, no caminho até lá, seguramente terão nascido novos e verdadeiros sportinguistas.

É com conhecimento de facto que falo, porque foi nesta campanha de 87/88 que me deixei agarrar.

O Benfica não ganhou taça nenhuma. Mas eu ganhei uma doença vermelha. Passei a adorar o pontapé na redondinha e a amar o (chamado) Glorioso.

Os meus preferidos eram o Diamantino, o Águas e o Mats.

A nostalgia que sinto é tal que estava capaz de jurar que o Luís Piçarra está, neste momento, aqui, numa sala ao lado, a cantar o "Ser Benfiquista". Juro que está.

 
At 11:49 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Oh amigo Porfírio, o que eu lamento foram as opções do pior treinador de sempre do meu Sporting e do futebol português: José Peseiro (ainda hoje estou traumatizado).
Quanto a esta equipa do Benfica de 1987- 88 possuia grandes jogadores, mas não me parece ter sido tão boa como a de 82/83.
As botas da final de 87/88 salvo erro eram da Adidas (passe a publicidade).

 
At 3:49 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Todos os clubes têm na sua história pelo menos um ou mais momentos traumatizantes e para mim o do Sporting foi esta final perdida. Simplesmente não podíamos perder esta final. Fomos a primeira equipa a perder uma final europeia em casa (se exceptuarmos a derrota da Roma frente ao Liverpool nos penalties numa TCE nos anos 80), permitimos a primeira vitória de uma equipa russa nas provas europeias, etc. Sabendo que no futebol tudo é possível, o Sporting não podia desejar condições mais favoráveis para disputar essa final. Perdeu-a por pura incompetência, como disse a nossa Heidi, do pior treinador da história do clube, um homem nascido para perder. Admito que a derrota benfiquista frente ao PSV tivesse sido frustrante, mas o futebol holandês era uma potência e nessa altura quase todas as vedetas jogavam no seu país, daí que não tenha sido nada de inadmissível.

 
At 9:53 da tarde, Anonymous Anónimo said...

É frustante perder uma TC nos penaltys, qdo a percentagem fica 50-50 e sonho ganha mais força.
O PSV era superior e acabou por fazer-se justiça pois foi a melhor equipa ao longo dos 120 minutos.

A final do Sporting foi estranha!
Ás vezes o Sporting e o Benfica têm "brancas" nas competições europeias que não lembra a ningém.
Quando o Rogério fez 1-0, pensei q a taça nao fugiria, mas uma 2ª parte ridícula deitou tudo a perder.
Tb houve azar. Antes do 1-3, o Rogério falhou um golo de forma tão escandalosa como a do Nuno Gomes contra o Espanhol.
Perdeu-se uma excelente oportunidade para ganhar um trofeu europeu.

 
At 10:06 da tarde, Blogger José Cavra said...

Meti agora o vídeo da final.
Não deixem de ver está engraçado e tem comentários de Gabriel Alves.

 

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