29 março, 2006

Campeonatos do Mundo - França 1938


Quando já pairava no ar o fantasma da II Grande Guerra, a França acolheu o 3º Mundial de Futebol. Selecções como a Polónia, Cuba e as Índias Orientais Holandesas fizeram a sua estreia na prova, enquanto grandes potências como Uruguai ou Argentina não participaram. Passo a explicar: convencidos de que o certame seria organizado de forma alternada entre Europa e América do Sul, os argentinos apresentaram a sua candidatura, de forma a jogar em casa, estando plenamente confiantes de que a FIFA lhes daria essa possibilidade. Porém, o organismo máximo do futebol mundial não correspondeu ao pedido. Estavam ainda na memória as dificuldades de deslocação que afastaram os países europeus do Mundial organizado no Uruguai, para além do facto da esmagadora maioria de países filiados serem representantes do velho continente. A França foi, assim, a escolhida, estando aqui patente uma prova de lealdade para com Jules Rimet, o pai da prova.
Portugal, mais uma vez, foi derrotado no jogo de qualificação, desta feita pela Suiça, por 2-1.A primeira eliminatória foi sinónimo de equilíbrio e dificuldades para os favoritos. A Roménia, depois de ter empatado 3-3 com Cuba, perdeu o jogo de repetição por 2-1. A Checoslováquia bateu a Holanda por 3-0, mas para inaugurar o marcador foi necessário um prolongamento. De mais 30 minutos para vencer precisaram, igualmente, Brasil(6-5 com a Polónia!), único representante do continente sul-americano e Itália (2-1 com a Noruega). Os transalpinos foram salvos pelo guarda-redes Olivieri que, em cima do minuto 90, executou uma grande defesa. Depois, Piola (melhor jogador do torneio) resolveu. Em Estrasburgo, num relvado enlameado, a Polónia recuperou de uma desvantagem de 3-1 e causou calafrios ao “escrete”. Willimowski fez um “poker”, marcando por 4 vezes, mas o “artilheiro” do Mundial, Leónidas(na foto), igualou o registo e o Brasil seguiu em frente.
A França beteu a Bélgica por 3-1, a Hungria ganhou às Ilhas Orientais Holandesas por “escassos” 6-0 e a Suiça, depois do resultado de 1-1 no primeiro jogo, impôs-se com um 4-2 à Alemanha.

Os quartos-de-final ficaram marcados pelo embate entre Checoslováquia e Brasil. O futebol canarinho começava a afirmar-se no panorama internacional, sendo para isso fundamental a vitória por duas bolas a uma, no 2º jogo, frente à poderosíssima equipa de leste, finalista vencida quatro anos antes. O primeiro jogo tinha terminado com um empate a 1-1 no “placard”. Nos outros jogos, a Hungria(2-0 com a Suiça), Suécia(8-0 com Cuba) e Itália(3-1 com a França) levaram de vencida os respectivos oponentes.
Nas meias-finais, Guiseppe Meazza, que já tinha sido campeão em 1934, foi decisivo, ao apontar o penalty que deu a vitória à Itália sobre o Brasil. O já referido goleador Leónidas ficou de fora da equipa com o propósito de estar a 100% na final, numa decisão muito controversa do treinador.
A Suécia, depois de golear o país de Fidel Castro, estava confiante de que nada podia correr mal frente à Hungria. A verdade é que os magiares humilharam os nórdicos por 5-1, tendo Zsengeller apontado um hat-trick. No jogo de apuramento do 3º lugar, foram mais uma vez vencidos, desta feita pelo Brasil, com Leónidas, o “criador” do pontapé de bicicleta, a apontar 2 golos.
Após a eliminação da França, o entusiasmo do público diminuiu. Não foi, portanto, de estranhar o facto do Estádio Colombes não estar cheio para acolher a final entre Itália e Hungria. Porém, esse entusiasmo foi suficiente para o mestre da táctica Vittorio Pozzo, treinador transalpino, adiar a saída do autocarro para o jogo crucial, uma vez que as ruas se encontravam sobrelotadas.
A Itália adiantou-se no marcador por intermédio de Colaussi, que bateu Szabo aos 6 minutos. 2 minutos volvidos e Titkos, que viria a treinar a selecção nacional da Hungria, empatou com um remate poderoso. Piola apontaria o 2º golo e Colaussi bisava perto do intervalo. Com 3-1 no marcador, Sarosi ainda reduziu para os magiares. Piola fez novamente o gosto ao pé, após passe de Biavati.
Vittoria Pozzo, Ferrari e Meazza conquistavam o seu 2º troféu e Foni, Rava e Locatelli acrescentavam mais um título à sua medalha de ouro dos Jogos Olímpicos. O Campeonato Mundial só regressaria em 1950, após tempos muito conturbados.


Itália:
Olivieri, Foni, Rava, Serantoni, Andreolo, Locatelli, Biavati, Meazza, Piola, Ferrari, Colaussi.


Hungria:
Szabo, Polgar, Biro, Szalay, Szücs, Lazar, Sas, Zsengeller, Sarosi, Vincze, Titkos.


Marcadores: Colaussi(6 e 35); Piola(15 e 80);Titkos(8); Sarosi(70)

55.000 espectadores
Árbitro: Georges Capdeville(França)

Os Galos do Botaréu

Actualmente nos distritais, o Recreio de Águeda teve uma passagem meteórica (tal como Vizela, Covilhã, Alcobaça, Amora,..) pela divisão maior do futebol português.
Foi em 1983 que um célebre jogo frente ao sempre complicado Peniche, a contar para a 2ª divisão zona centro, ditou a subida dos aveirenses.
5 a 2 foi o resultado, com um jovem guiniense de nome Mamadu Bobo a encher o campo e a apontar 1 tento.
Seguiram-se as férias, os reforços, a pré-época e o ataque à 1ª divisão com o objectivo único de garantir a manutenção. Objectivo que não passou disso mesmo, tal a pobreza do futebol apresentado pelos galos do botaréu.
Para a posteridade fica a saudosa equipa do Recreio de Águeda que recebeu o Benfica, em Fevereiro de 1984.
Perante a maior enchente de sempre no Municipal, esmagaram os galos com uns contundentes 4-1.Com 6 aninhos de idade eu estive lá... e vi Nené fazer o primeiro, aos 26 minutos de grande penalidade. Fiquei petrificado e a gaguejar quando César empatou ainda antes do intervalo. No 2º tempo Nené, Diamantino e Álvaro fixaram o resultado final, dando-me um sorriso de orelha a orelha.

De notar na foto a presença de Jorginho, que haveria ainda de passar por Desportivo de Chaves, Sporting e Beira Mar; de Tibi, o guarda redes que chegou a representar o nosso Porto e do avançado Flávio (2º em baixo a contar da esquerda), ex Marítimo e pós Associação Desportiva de Fafe.
Da presença do Águeda na 1ª divisão destacamos igualmente os 6-0 enfardados nas Antas, a 1ª vitória no campeonato ante o Varzim (1-0 com golo de César) e o jogo de despedida em Vila do Conde, derrota por 5-1.
E pronto, foi a nossa homenagem à simpática colectividade que é o Recreio de Águeda. Um grande bem haja às suas gentes e um muito obrigado à Soberania do Povo pelas informações prestadas.
http://campeoesdeagueda.blogspot.com/

26 março, 2006

Aos pontapés ao Português

Os jogadores e treinadores de futebol são, é sabido, um tratado na arte ou na ciência de mal falar Português. Desde não querer falar de assuntos do “forno interno do clube” até alguém se recusar a ser o “bode respiratório” de uma derrota, ouvimos de tudo. O mister Jorge Jesus, para mim um dos melhores treinadores do nosso país, é, por si só, um génio na arte de inventar novo vocabulário. Mas, ao menos, não é um ingrato, como mostrou há uns anos ao agradecer o apoio dado ao Estrela pelos “motocards da Amadora”. Curiosamente, uma outra expressão do cabeludo treinador que à primeira vista me pareceu disparatada, acabou por se revelar correcta. Efectivamente, garantir que a equipa está “embebida no espírito de vitória” é perfeitamente certo, pois embeber é um sinónimo de imbuir, o verbo que normalmente é utilizado nesta frase.

Mas o “cherne da questão”* deste post é o facto de, pelo menos nos últimos tempos, também os jornalistas desportivos estarem a contribuir para a evolução da língua portuguesa. Só nas últimas semanas tive o prazer de ler nos nossos jornais e sites desportivos expressões tão geniais e imaginativas como “pousar para a fotografia”, “couro de assobios” e “assento tónico”, para não falar num desgraçado qualquer que se lesionou no “calcanhar de Aquiles”. É compreensível: à falta de talento para dar pontapés numa bola, pontapeia-se outra coisa qualquer. Porque não a língua portuguesa?

* Naturalmente que eu sei distinguir “cerne” de “cherne”, mas não quis deixar de entrar no espírito do post.

24 março, 2006

O Eterno Mal-amado


2 anos, 1 Taça de Portugal e outra final, boas classificações no campeonato. O tal clube que não era exemplo para nenhum outro vive um período invejado por muitos. Não tem a capacidade financeira de uma Académica, não tem a simpatia dos jornalistas de um Belenenses nem consegue mover molduras humanas como o Gumarães( apesar de ser dos melhores nesse capítulo), mas fez mais que todos eles juntos nos últimos tempos. O Vitória de Setúbal foi "vítima" de muita pressão e maledicência por parte da comunicação social, até porque nunca foi dos clubes com mais ordenados em atraso, apesar de uma situação frágil, como é óbvio. É assim o clube, mal-amado por todos, à imagem da cidade. Um bem haja ao Vitória!

22 março, 2006

Jogos Eternos: Real Madrid 7-3 Eintracht Frankfurt

Diz-se que um jogo de futebol dura 90 minutos (ou 120, se for necessário recorrer a um prolongamento). Pois bem, essa não é uma verdade absoluta. Há jogos que não terminam nunca. São aqueles jogos que ficam na História, que quem assistiu nunca há-de esquecer, que quem não assistiu daria tudo para poder ter lá estado. Tivemos alguns casos desses no nosso futebol. Quem não se recorda (com maior ou menor vontade) de um Sporting 7-1 Benfica, um Sporting 3-6 Benfica, um Benfica 0-5 FC Porto, um Vitória de Setúbal 5-2 Benfica? Neste blog vou tentar recordar e resumir alguns desses jogos que merecem capítulos especiais na grande História do futebol.

Para iniciar a série escolhi um jogo que foi para muitos o melhor jogo do século XX. No mínimo, terá sido a melhor final de sempre da Taça dos Campeões Europeus. Realizou-se a 18 de Maio de 1960, no Hampden Park, de Glasgow, e colocou frente a frente o tetracampeão europeu, o Real Madrid, frente ao campeão alemão, o Eintracht Frankfurt. Perante 127.621 espectadores, a maior assistência de sempre na prova, os espanhóis conquistaram o seu quinto título europeu consecutivo. O resultado foi um fantástico 7-3 e, apesar de o jogo ter ficado decidido no início da segunda parte, ninguém foi capaz de abandonar o estádio antes do apito final, tal era a qualidade do futebol apresentado pelas duas equipas.

Quem tem pachorra para ler os meus posts conhece o meu sportinguismo. Mas o Eintracht ocupa praticamente tanto espaço no meu coração como o clube de Alvalade, apesar de ter o encarnado no equipamento e de ter como símbolo uma águia (!). Tudo começou no início dos anos 90, quando o Eintracht lutava pelo título da Bundesliga e praticava o melhor futebol da Alemanha, apelidado de “Fußball 2000”, tal a espectacularidade que apresentava. O título esteve quase a aparecer em 1992, mas uma arbitragem deplorável na última jornada, em Rostock, deu o campeonato ao Estugarda. Até o árbitro veio mais tarde reconhecer que tinha prejudicado decisivamente o Eintracht. As semelhanças entre o Eintracht e o Sporting da época (futebol muito bonito e ofensivo, zero títulos) levou-me imediatamente a simpatizar com o clube de Frankfurt. Depois veio a decadência, iniciada em 1994/95 com a inestimável ajuda do então treinador Jupp Heynckes e culminada com a primeira descida de divisão da história do clube, na época seguinte. A partir daí o clube entrou num sobe e desce constante e só agora parece reencontrar o caminho da estabilidade e, quem sabe, do regresso às grandes lutas do futebol alemão.

Regressando ao tema do post, o Real Madrid participou na edição 1959/60 da Taça dos Campeões como (tetra)detentor do troféu, já que o título nacional tinha fugido para o Barcelona nas duas épocas anteriores. Nas quatro finais anteriores, os merengues foram vencendo o Stade Reims (França), por 4-3, a Fiorentina (Itália), por 2-0, o AC Milan (Itália), por 3-2, e novamente o Stade Reims, agora por 2-0. Já o Eintracht, que era a primeira equipa alemã a chegar a uma final europeia, entrou na prova depois de na temporada anterior ter conquistado o seu primeiro (e único, até hoje) campeonato nacional. Na final, as “águias” tinham derrotado o seu grande rival Kickers Offenbach por 5-3, após prolongamento.

Na primeira ronda da competição, o Real Madrid ficou isento, uma benesse alcançada por ser o campeão em título. Ao Eintracht caberia defrontar o Kuopio PS. Mas o campeão finlandês resolveu desistir da prova antes de ela começar, pelo que os alemães seguiram em frente sem calçar as chuteiras. Na segunda eliminatória, correspondente aos oitavos-de-final, os espanhóis encontraram uma pêra doce, o Jeunesse D’Esch, do Luxemburgo. As vitórias por 7-0 e 5-2 mostram a facilidade da vida merengue. O Eintracht teve de se haver com o campeão suíço, o Young Boys. Os alemães resolveram a eliminatória em Berna, ao vencer por 4-1. O 1-1 de Frankfurt confirmou o que já se sabia. Nos quartos-de-final, o Real teve pela frente o Nice, então campeão francês. Os espanhóis ainda perderam na Riviera Francesa por 2-3, mas resolveram o assunto em casa, com um 4-0 peremptório. A equipa de Frankfurt encontrou o campeão austríaco, o Wiener SC. Foi um duelo equilibrado, com os alemães a levarem a melhor com uma vitória caseira por 2-1 e um empate 1-1 em Viena.

Nas meias-finais, o Real Madrid teve de defrontar o seu grande rival Barcelona, então campeão espanhol. Esperava-se uma grande batalha, mas os merengues acabaram por não sentir muitos problemas para deixar pelo caminho o inimigo catalão. Duas vitórias por 3-1 serviram de vingança pelo facto de o Barça ter voltado nesse ano a sagrar-se campeão espanhol, com uma escassa vantagem de dois... golos sobre os madridistas. O outro confronto opunha o Eintracht ao campeão escocês Glasgow Rangers. Toda a Grã-Bretanha, confiante na superioridade do seu futebol, esperava uma tarefa fácil para os escoceses. Mas tudo ficou decidido na primeira mão, no Waldstadion de Frankfurt: 6-1 para o campeão alemão. Ficou na lenda o telefonema de um jornalista escocês para a sua redacção, perto do fim do jogo: “5-1! Yes! No, not for the Rangers! Eintracht, 5 - Rangers, 1... Oh, no! Eintracht, 6 - Rangers, 1!” Mesmo com semelhante desvantagem, os escoceses encheram o Ibrox Park para a segunda mão, talvez para confirmar se a qualidade do Eintracht correspondia ao que tinham lido do primeiro jogo. Pois bem, os alemães não os quiseram desiludir e aplicaram novo correctivo ao Rangers: vitória por 6-3.

E foi Glasgow que teve a honra da grande final. Desta vez não o Ibrox, mas sim o Hampden Park, o estádio nacional escocês. Quase 130 mil espectadores tiveram o privilégio de assistir a um espectáculo único. O Eintracht começou melhor e dominou os primeiros 25 minutos. E foi sem surpresa que inaugurou o marcador aos 18 minutos, por Kreß. O 2-0 esteve à vista, mas foi o Real a chegar ao empate aos 27 minutos, por Di Stefano. O argentino-espanhol aproveitou o choque alemão e fez o 2-1 dois minutos depois. Quando o resultado ao intervalo parecia feito, Puskas fez o 3-1 em cima do apito e mostrou o que estava para vir na segunda parte. O Major Galopante marcou mais três golos consecutivos e decidiu o encontro. O 4-1 surgiu aos 56, na marcação de uma grande penalidade duvidosa. Mais dois golos aos 60 e 70 minutos e o húngaro fechou a sua loja. Com 6-1 no marcador, o Eintracht não desanimou e dedicou-se a aproveitar a oportunidade de estar naquele palco. Aos 72 minutos, Stein reduziu para 2-6. No minuto seguinte Di Stefano fez o seu terceiro golo e aumentou para 7-2. Mais dois minutos passaram e Stein bisou. Até final muitas mais oportunidades houve, para ambos os lados, impedindo os espectadores de irem mais cedo para casa. Mas o 7-3 manteve-se, honrando vencedores e vencidos. Não foi a final mais imprevisível de sempre, mas foi seguramente a mais bem jogada. Bobby Charlton resumiu assim o desafio: “O meu primeiro pensamento foi que este jogo era uma mentira, um filme, porque estes jogadores fizeram coisas que não são possíveis, não são reais, não são humanas!”

Ficha do jogo:

Local: Hampden Park, Glasgow.
Espectadores: 127.621.
Árbitro: A. Mowat, Escócia.

Real Madrid: Dominguez; Marquitos e Pachin; Vidal, Santamaria e Zarraga; Canario, Del Sol, Di Stefano, Puskas e Gento.

Eintracht Frankfurt: Loy; Lutz e Höfer; Weilbächer, Eigenbrodt e Stinka; Kreß, Lindner, Stein, Pfaff e Meier.

Golos: 0-1, Kreß (18m); 1-1, Di Stefano (27m); 2-1, Di Stefano (29m); 3-1, Puskas (45m); 4-1, Puskas (56m, g.p.); 5-1, Puskas (60m); 6-1, Puskas (70m); 6-2, Stein (72m); 7-2, Di Stefano (73m); 7-3, Stein (75m).

21 março, 2006

Campeonatos do Mundo - Itália 1934


Mussolini viu no futebol uma forma de fazer propaganda às suas ideias fascistas e conseguiu trazer o Mundial de futebol para o continente europeu. Foi realizada pela 1ª vez uma fase de qualificação, disputada por 32 países (22 da Europa, 8 da América, 1 de África e outro da Ásia).
Agastado com a fraca adesão por parte dos países do velho continente à 1ª edição da prova, para além de problemáticas greves de jogadores, o Uruguai não aceitou defender o título, não participando neste Mundial.
Como é conhecimento do leitor, a selecção tuga não participou no certame, tendo efectuado uma fase de qualificação a roçar o brilhantismo. Calhou-nos em sorte a Espanha, sendo que na primeira mão fomos derrotados em Madrid por 9-0. Em Lisboa, a equipa das quinas “vingou-se”, pois ,apesar de nova derrota, o resultado ficou selado com meros 2-1. Vítor Silva foi o autor do tento solitário da formação treinada por Ribeiro dos Reis, que carimbou a qualificação da Espanha por “sofridos” 11-1. E ainda falamos nós mal do Scolari…
A 1ª etapa da fase final da competição não foi jogada em grupos mas sim num só jogo de “mata-mata”. A anfitriã Itália fez os Estados Unidos atravessarem o Atlântico mais cedo, de regresso a casa, com esclarecedores 7-1. Outra das selecções favoritas, a Áustria, bateu a França após prolongamento, por 3-2.A Bélgica era derrotada pela Alemanha por 5-2 e o Brasil voltava a desiludir em Mundiais após perder 3-1 com a Espanha (“nuestros hermanos” eram bons de bola). A grande revelação da prova Checoslováquia (2-1 com a Roménia), Suiça(3-2 com a Holanda), Suécia(3-2 com a Argentina) e Hungria(4-2 com o Egipto) passavam à 2ª fase.
Um dos confrontos mais espectaculares da prova envolveu as equipas espanhola e italiana. 1-1 foi o resultado de um jogo que nem no prolongamento se resolveu e, como os jogos não eram resolvidos em penaltys( que azar tiveram Veloso, Baggio e Miguel Garcia por não terem jogado nesta época!), foi disputada nova partida. O mítico Giuseppe “Peppino” Meazza(na foto), o melhor avançado italiano da década de 30 que passou por Inter e A.C. Milan, resolveu a questão com um golo solitário e colocou os transalpinos nas meias-finais. A Áustria seguiu-lhe as pisadas, ultrapassando a Hungria após sofridos 2-1.
No estádio San Siro,num campo que mais se assemelhava a um batatal, só comparável ao saudoso Adelino Ribeiro Novo em Invernos rigorosos ou à praia de “Stamford Beach”, em Londres, Itália e Áustria decidiram a passagem à final da prova. Guaita fuzilou o guarda-redes Platzer aos 18 minutos e, para agrado do ditador Benito “Il Dulce” Mussolini, a Itália obtia visibilidade na final.
Os Checoslovacos começavam a ganhar fama no panorama internacional. Despacharam primeiro a Suiça(3-2) e depois a Alemanha, por 3-1. Oldrich Nejedly era o goleador e estrela da comapanhia, sendo o melhor marcador da prova com 5 golos, à frente de Schiavio(Itália) e Conen(Alemanha).
No estádio PNF, antecessor do Olímpico, em Roma, sob o olhar de 55 mil pessoas, o sueco Ivan Eklind dirigiu a 2ª final de um Campeonato do Mundo. Os homens do leste dominaram grande parte do encontro, demonstrando-se especialmente motivados. Realce para os interessantes duelos entre o médio criativo checo Cambal e o italiano Monti. Só aos 70 minutos é que se pôde ver o esférico tocar a rede. Antonin Puc agarrou na bola que tinha sobrado após a marcação de um canto e, de ângulo apertado, não teve piedade para com o “keeper” dos homens da casa, Combi, facturando a 20 metros da baliza. O jogo podia ter ficado resolvido nos minutos seguintes e tal só não aconteceu devido às constantes perdidos por parte de Sobotka e Svoboda. Mas nos últimos 10 minutos de jogo tudo mudou de figura. Raimundo Orsi aproveitou um passe do influente Guaita e, depois de passar toda a defensiva checa, simulou um remate com o pé esquerdo e finalizou com o direito. Chegava ao fim o tempo regulamentar.
A Itália parecia estar destinada a morrer na praia, tendo em conta a lesão de Meazza, que jogava infiltrado.Mas foi isso mesmo que decidiu o jogo. Os jogadores da Checoslováquia deixaram de se preocupar com o histórico atacante, abdicando da marcação cerrada. Aos 95 minutos, Meazza apanhou a bola na ala e fez um passe fatal para Guaita. Este só teve de encostar para Schiavio, que ultrapassou um defesa e bateu Planicka. A Europa ganhava um Campeonato do Mundo pela 1ª vez…
Curioso ainda o facto do médio-centro Luís Monti se ter sagrado campeão do mundo 4 anos após perder a final para o Uruguai…sim, o italiano naturalizou-se depois de ter envergado a camisola da Argentina.

Roma, 10 de Junho
Estádio PNF
Árbitro: Ivan Eklind(Suécia)
55.000 espectadores




Itália:
Combi, Monzeglio, Allemandi, Ferraris IV, Monti, Bertolini, Guaita, Meazza, Schiavio, Ferrari, Orsi

Checoslováquia:
Planicka, Ctyroky, Zenisek, Kostalek, Cambal, Krcil, Junek, Svoboda, Sobotka, Nejedly, Puc

Marcadores: Puc(70);Orsi(82);Schiavio(95)

Reinaldo... outro fenómeno africano

Maurício Zacarias Reinaldo R. Gomes, nasceu em Bissau no dia 2 de Novembro de 1957.
Chegou a Portugal em finais da década de 70, para vestir as cores da briosa de Coimbra.
O poder e a aptidão do para dizimar as defesas contrárias abriram-lhe as portas da Luz.
De vermelho vestido, Reinaldo saboreou a fama, a glória de conquistar o campeonato nacional e o orgulho de ser internacional A por Portugal.
A exigente concorrência no plantel encarnado, levou-o a rumar ao Bessa, numa tentativa de ganhar minutos de jogo. Estavamos em 1982.
No Boavista formou com Palhadores (também ele merecedor de 4 ou 5 posts) uma das piores duplas atacantes de que há memória no clube das panteras.
Subitamente caiu no esquecimento.., tendo sido, anos mais tarde, visto a treinar por um fabricante de ferragens no histórico Recreio de Águeda.

A carreira e vida pessoal de Reinaldo ficariam igualmente marcadas por um famoso incidente envolvendo uma cantora do famoso quarteto "as Doce".
Outros Blogs ordinários, qual TVI, certamente iriam aprofundar a notícia. Contudo, a Malta da Tropa é um espaço sério, onde não pactuamos com notícias brejeiras e ordinárias... mesmo sendo verdade!

15 março, 2006

Quinzinho, o fenómeno africano

Reza a lenda que jamais um jogador foi tão aclamado pelos adeptos e tão incompreendido por um treinador. Normalmente somos deparados com a situação inversa, que o digam Gilberto Galdino (Beto), Jorginho, Michael Thomas...
Quinzinho, possante avançado angolano, chegou ao nosso Porto em meados da década de 90, sendo apresentado como a nova gazela africana ao bom estilo de Mandla Zwane e "The Wind" N'Tsunda. As acções inconsequentes do angolano levavam ao rubro as bancadas do velhinho estádio das Antas, contudo deixavam os cabelos em pé a Sir Bobby Robson (e ao seu tradutor).
Num dos momentos mais marcantes (talvez o único) da sua passagem pelo clube da Invicta, Quinzinho facturou na goleada imposta a um clube que lutava pela manutenção, que por razões éticas vamos ocultar o seu nome. Perante os adeptos em delírio, o ponta de lança festejou, na "bandeirola" de canto, com uma dança africana.
Quando questionado sobre a exibição da "pérola negra" o treinador britânico rematou com: "Quinzinho, gostei do gol, mas não do samba. Faz hat-trick, sim, pode fazer samba. 1 gol só... não samba".
No final da época o angolano foi dispensado rumando a Vila da Conde. Mais tarde foi sambar para Alverca.

14 março, 2006

Campeonatos do Mundo - Uruguai 1930


  1. Como o prometido é devido, começamos hoje uma viagem no tempo pelos 17 mundiais de futebol, desde o Uruguai 1930 ao Coreia/Japão de 2002. A arte do italiano Meazza; os lendários magiares mágicos Puskas, Hidegkuti e Kocsis; o aparecimento do eterno rei Pele e do pantera negra Eusébio; o instinto matador de Kempes; a mão divina de Maradona; a irreverência de Higuita; a abnegação de Zidane; as muletas de Toni Oliveirinha: tudo o que de fascinante o mais importante torneio futebolístico nos trouxe ao longo de mais de 70 anos.

    O chamado “futebol internacional” teve inicio em 1872, como o desafio entre a Escócia e a Inglaterra. As primeiras grandes competições internacionais foram o Campeonato das Nações Britânicas , o campeonato da América do Sul, hoje Copa América, a Taça Mitropa( extinta para dar origem à Taça dos Campeões Europeus) e, posteriormente, o Campeonato do Mundo.

    A grande força impulsionadora do Campeonato do Mundo partiu de Jules Rimet, lendário presidente da FIFA e da federação francesa nos anos 20, que deu o nome à Taça atribuída ao vencedor até ao Mundial de 1970, depois do troféu ter ficado com o Brasil, a título definitivo, devido aos 3 mundiais ganhos. Itália, Holanda, Espanha e Suécia eram fortes candidatas à organização da 1ª edição, mas o facto do Uruguai comemorar em 1930 os 100 anos da sua independência foi decisivo para o evento se realizar na América do Sul. O 1º World Cup ficou marcado pelo surpreendente desinteresse das principais selecções europeias que, devido ao cansaço provocado pelas longas viagens de barco, decidiram não se inscrever( sim, não existia uma fase de qualificação). Porém, França, Jugoslávia, Bélgica e Roménia acabaram por se juntar ao Brasil, Argentina, Paraguai, Peru, Chile, Bolívia, México, E.U.A. e ao anfitrião Uruguai.

    Os 13 inscritos foram divididos em 4 grupos encabeçadas pelo Uruguai, Argentina, Brasil e E.U.A. . A 13 de Julho foi realizado o primeiro jogo, entre França e México. Devido à lesão do guarda-redes francês, logo nos primeiros minutos, o médio Chantrel ocupou a baliza, reduzindo a selecção a 10( não haveria lugar a substituições nos 40 anos seguintes). Ainda assim, os gauleses venceram por 4-1! Maschinot bisou, Laurent(não o Robert) e Langiller fizeram os outros dois tentos, enquanto Carreno reduziu para o 1º derrotado de sempre num Campeonato do Mundo. A França acabaria por ser eliminada na 1ª fase pela Argentina, tendo o árbitro acabado o jogo 6 minutos mais cedo, quando os gauleses se preparavam para empatar. No 1º grupo, a Argentina ficou qualificada para as meias-finais(só 1 por grupo segui em frente) e Jugoslávia( que venceu o Brasil), Uruguai e E.U.A. igualaram a façanha em cada um dos seus agrupamentos.

    Nas semi-finais, os E.U.A. não conseguiram surpreender os argentinos com o seu futebol matreiro, baseado no contra-ataque, e saíram vergados por esclarecedores 6-1. O Uruguai bateu a Jugoslávia pela mesma margem, repetindo o feito dos Jogos Olímpicos de 1928.
    Na final, no (então) novíssimo estádio Centenário, construído de propósito para o evento, em Montevideu, Pablo Dorado marcou primeiro num escaldante duelo sul-americano, mas a Argentina iria responder por intermédio de Peucello e do lendário Stábile(na foto), o primeiro “artlheiro”da prova. Reza a história que o 2º golo foi obtido em posição irregular. Pedro Cea empatou antes do intervalo e o extremo-esquerdo Santos Iriarte deixou a multidão uruguaia em delírio ao deixar a sua selecção em vantagem. Castro marcou o 4º e o placard da 1ª final de um Campeonato Mundial registou um 4-2 para a selecção anfitriã.
    É por isto que Recoba reclama que a sua selecção deveria estar este ano na Alemanha por “direito divino”, mas parece que o futebol não evoluiu muito naquelas bandas, desde há 70 anos para cá…




Uruguai:
Ballesteros, Nasazzi, Mascheroni, Andrade, Fernandez, Gestido, Dorado, Scarone, Castro, Cea, Iriarte.

Argentina:
Botasso, Della Torre, Paternoster, J.Evaristo, Monti, Suarez, Peucelle, Varallo, Stabile, Ferreira, M.Evaristo.

Árbitro: Jean Langenus (Bélgica)
93 mil espectadores
Marcadores: Dorado(12);Peucelle(20); Stábile(37);Cea(57);Iriarte(68);Castro(90)

13 março, 2006

Bailinho na Madeira


"A Antena 1 referiu esta tarde que José Peseiro pode estar a caminho do Marítimo, tornando-se assim o sucessor do brasileiro Paulo Bonamigo, que ontem rescindiu com o emblema insular.De acordo com a Antena 1, o ex-técnico do Sporting reúne as preferências do presidente Carlos Pereira, ganhando na concorrência a Carlos Carvalhal, Jaime Pacheco e Jair Picerni." in Record

Um treinador com pulso fraco num balneário problemático: parece estar encontrado o caminho para a Liga de Honra. O Marítimo precisava de alguém capaz de estabilizar a equipa, transmitindo calma aos jogadores e retirando a atenção do plantel em relação à contestação por parte dos sócios perante a direcção. Penso não se tratar de uma opção sensata...mas por outro lado compreendo. O campino deu 6 pontos aos insulares na época passada, é natural que dele guardem boas recordações.

12 março, 2006

Preocupação clínica


Reparei que o Nacional nunca mais deu uma para a caixa depois de descobrir que o seu grande rival afinal é o Sporting. Será que sofrem de stress pós-traumático pelo ambiente hostil que viveram em Alvalade?

09 março, 2006

O holandês holandês e o holandês italiano

Um dos grandes motivos de interesse da Liga portuguesa desta época tem sido o confronto entre dois treinadores holandeses, no comando dos dois principais candidatos ao título. Ao FC Porto chegou Co Adriaanse, que, com quase 60 anos e com trabalho realizado no Ajax, ainda não conquistou qualquer título na sua carreira. Os “highlights” do seu currículo são os bons trabalhos realizados em clubes de menor dimensão, como o Willem II e o AZ Alkmaar. Para o Benfica veio Ronald Koeman, mais jovem e com uma brilhante carreira enquanto jogador. Como técnico, o ex-central do Barcelona, mesmo com menos tempo de experiência, pode gabar-se de já ter ganho alguns troféus, ao serviço do Ajax. No entanto, segundo me foi revelado há poucos meses por um adepto do clube de Amesterdão, nem um nem outro são considerados na Holanda como treinadores de topo. Não obstante, conhecendo a intrínseca espectacularidade associada ao futebol holandês, a vinda para Portugal destes dois treinadores despertou muita expectativa. E que balanço se pode fazer das suas obras até agora, decorridos cerca de ¾ da temporada?

Desde logo, Co Adriaanse começou por entusiasmar os adeptos do FC Porto (e não só), ao montar uma equipa virada para o ataque e para o espectáculo. O 4x3x3 foi a sua primeira táctica de eleição. Na pré-temporada e nos primeiros jogos oficiais tudo parecia correr sobre rodas e, até pelos deslizes dos rivais, tudo apontava para uma vitória fácil dos dragões na Liga Betadine. Mas tudo se complicou com o aparecimento dos primeiros jogos difíceis. Na Liga dos Campeões, por exemplo. O FC Porto começou por defrontar Glasgow Rangers fora e Artmedia Bratislava em casa, os dois rivais mais fracos do grupo. Em ambos os jogos os azuis-e-brancos realizaram exibições de aparente boa qualidade, em ambos perderam por 2-3. Derrotas à moda de Peseiro, diria eu. Curiosamente, no único jogo em que o FC Porto apresentou um esquema mais conservador, venceu o Inter, por 2-0. Mas os maus resultados nos jogos grandes continuavam, até na Liga: derrota por 0-2 com o Benfica e empate 1-1 com o Sporting, ambos no Dragão.

Depois da “pausa de Inverno” e consumada a eliminação das provas europeias, Adriaanse mudou o esquema de jogo. Começou a aplicar um (este sim, tipicamente holandês) 3x3x4. Apesar do espírito ofensivo patente, nas primeiras sete jornadas da segunda volta, apenas num jogo (no Restelo), os dragões conseguiram marcar mais que um golo. No entanto, ao contrário do que seria de esperar, a defesa azul-e-branca, normalmente comandada por Pepe, tem dado conta do recado e dado poucas abébias às equipas rivais. Em termos gerais, o esquema ainda não pode ser considerado um estrondoso sucesso, visto que nos jogos mais difíceis, com Sp. Braga em casa e Benfica fora, o dragão apenas conseguiu um ponto. Na jornada passada, pela primeira vez, o FC Porto conseguiu uma vitória convincente, um 3-0 perante um Nacional estranhamente disposto a jogar o jogo pelo jogo, depois da atitude que apresentou na Luz (duas vezes) e em Alvalade.

Ronald Koeman, por seu lado, não conseguiu entusiasmar os adeptos logo à partida. Aliás, continua sem o fazer hoje. O treinador com o castelhano mais correcto da nossa Liga tentou, nas primeiras jornadas, impor um 3x4x3 típico dos Países Baixos, mas os resultados (derrotas com Gil Vicente e Sporting) fizeram-no recuar. Koeman regressou, então, ao mais prosaico 4x2x3x1, que já fizera escola com Camacho e Trapattoni. Mesmo assim, o holandês não convenceu os adeptos encarnados, que o iam acusando de “inventar” na escolha de equipa, colocando jogadores fora das suas posições e insistindo noutros (leia-se Beto) que poucos sentimentos positivos despertam no público da Luz. A irregularidade tem sido uma constante no Benfica desta época. Na Liga dos Campeões, por exemplo, depois de ganhar o primeiro jogo, ao Lille, em período de descontos, os encarnados não venceram nenhum dos quatro jogos seguintes. Na última jornada, em casa, frente ao Manchester United, só a vitória dava o apuramento e ela foi conseguida, por 2-1. O Benfica somou oito pontos, que, ao contrário do que acontece normalmente, desta vez chegaram para o apuramento.

A vitória sobre o United deu início ao melhor período do Benfica na temporada, com nove vitórias consecutivas (sete para a Liga, uma para a Taça e outra para a Champions), algumas delas com muito sofrimento e nem sempre acompanhadas por bom futebol. Quando tudo parecia correr bem, veio o Sporting. O Benfica tinha toda a motivação para vencer, não só para poder aproximar-se do FC Porto como para afastar o Sporting de vez da luta pelo título. Em vez disso, derrota por 1-3 e subjugação total ao adversário. Seguiram-se derrotas em Leiria e Guimarães. Quando o céu parecia ir cair sobre as cabeças benfiquistas, vieram o Liverpool e o FC Porto. E três vitórias encarnadas, duas garantindo o acesso aos quartos-de-final da Liga dos Campeões e outra a continuação na disputa pelo título da Liga.

Analisando a carreira do Benfica, é fácil encontrar um padrão. A equipa de Ronald Koeman sente-se particularmente confortável nos jogos em que não tem de assumir o comando das operações. Se tiver de dar o domínio ao adversário, fantástico, se tiver de jogar taco-a-taco, tudo bem na mesma. Foi assim que o Benfica venceu o Manchester United, empatou em Villarreal, venceu o FC Porto e o Liverpool por duas vezes. Curiosamente, nem se pode dizer que os encarnados estão talhados para o contra-ataque, visto que nem sequer incomodam assim tanto as defesas adversárias. Ontem em Liverpool, por exemplo, apenas por três vezes o Benfica chegou com perigo à área contrária. Na primeira atirou a bola à trave, nas duas seguintes marcou. A eficácia foi quase perfeita. A nível defensivo a equipa está bem, mas não perfeita. O Liverpool, só na primeira parte, teve cinco oportunidades flagrantes, com duas bolas no poste e três falhanços isolados, de Carragher, Luís Garcia e Crouch. Na Liga, a equipa de Koeman está mais ou menos ao nível da de Trapattoni. A manter-se a média actual, o Benfica terminará a prova com 66 pontos, mais um que na época passada. Mas a nível europeu, a prestação encarnada melhorou, até agora. Pelo menos, derrotas claras como aquelas que aconteceram com Anderlecht, Estugarda e CSKA Moscovo parecem fora de contexto, hoje em dia.

Conclusão: o FC Porto, de Co Adriaanse, com uma filosofia de jogo tipicamente holandesa, tem chegado e sobrado (até ver) para ter sucesso na Liga Betadine, mas nos palcos europeus não teve a mínima hipótese; o Benfica, de Ronald Koeman, com um estilo e uma mentalidade de jogo decalcados do italiano (apesar de Koeman não ter tido qualquer experiência em Itália, como jogador ou treinador), tem sentido grandes dificuldades para se manter com ambições na Liga, mas tem progredido paulatinamente na Liga Milionária. Mais uns dois meses e veremos quem leva a melhor, o holandês holandês ou o holandês italiano. Por mim, espero que seja o português espanhol, esse mesmo, Pablo Biento.

08 março, 2006

Hello (Benfica), Goodbye (Liverpool)


O Benfica está nos quartos-de-final da Champions. Ao contrário do que muitos pensavam, incluindo eu, os encarnados conseguiram suster a pressão , graças à consistência defensiva, beliscada poucas vezes por tabelas entre Luis Garcia, Morientes e Crouch( que é muito alto mas de talento tem pouco) e por uma quota parte de sorte, sempre necessária nestes jogos. O Liverpool atirou 2 bolas aos ferros da baliza de Moretto( bom jogo), mas o Benfica também assustou Reina graças a um remate de primeira de Geovanni. Carragher ainda desperdiçou uma oportunidade flagrante, com a baliza deserta, atirando á malha lateral.
A 2ª parte foi uma miséria por parte dos ingleses. Muito jogo a meio-campo e perigo nulo na área benfiquista, que só foi perturbada por um pontapé( fortíssimo) de Beto, que ia marcando na baliza errada( os Betos têm tendência para isso). Depois do soberbo pontapé de Simãozinho, Miccoli confirmou a vitória ao cair do pano, com um excelente pormenor aquando da finalização, fuzilando Reina com um remate acrobático. O Benfica está de parabéns pela competência com que encarou o Liverpool, mostrando aos bifes que não eram favas contadas e que as equipas portuguesas não são "poor", como dizia o tablóide The Sun Há duas semanas. Está de parabéns o Benfica, resta esperar pelo sorteio. Hello (Benfica), Goodbye (Liverpool), como diriam Paul McCartney, John Lennon, Ringo Star e George Harrison.

Rutilância


"Dois exemplos que mostram à saciedade como a rutilância da arbitragem apregoada e defendida no areópago do futebol europeu e mundial, em conjugação com o sucedido a nível nacional, não passa de um mero equilíbrio geopolítico na composição dos órgãos gerentes."

Jorge Coroado, na sua crónica em "O Jogo"

Um pires de caracóis e uma grade de cerveja para quem descodificar isto. Quem lhe tirar a azia leva ainda um prato de pica-pau.

07 março, 2006

20 anos depois

Lembram-se do "Rumble in the Jungle"?
20 anos depois, George Foreman (45 anos) enfrentou Michael Moorer (28 anos) para o título mundial de pesos pesados.
Moorer, que havia vencido o título após derrotar aos pontos o lendário EvanderHollyfield, começou o combate ao ataque massacrando o seu adversário com combinações fortíssimas.
A capacidade defensiva e o poder de encaixe de George Foreman mantiveram-no"vivo" no combate, contudo o candidato apresentava dificuldades para entrar naguarda do campeão.
No 10º round um golpe quase saído do nada derruba Michael Moorer, perante uma multidão boquiaberta.
"The Big" George Foreman tornava-se, 20 anos depois de perder o título, no mais velho campeão mundial de sempre.
http://www.youtube.com/watch?v=tc8pEoZCPvY
O momento foi belíssimo!

04 março, 2006

Zé, o Calimero


Depois de ter sido dado como certo a treinar o Metro Stars dos E.U.A. , Zé Peseiro dá sinais de vida para contar o quão discriminado e menosprezado foi em Alvalade. Conta que Carlos Freitas tinha em mãos um lobby contra a sua pessoa, o que levava os adeptos a não exibirem faixas de apoio ao ribatejano.
E é assim que Zé Peseiro me explica não só questões relacionadas com futebol, mas com todo o fenómeno desportivo.
Nunca vi uma faixa de apoio a Co Adriaanse. Nem um cartaz com a cara de Ronald Koeman. E porquê? Reinaldo Teles e José Veiga têm, respectivamente, uma óbvia armadilha montada aos holandeses. Se um bando de energúmenos de uma claque tivesse cercado o carro de José Peseiro à saída de Alcochete, com uma chuva de very lights a deixar bem patente o descontentamento por um empate ou derrota, era bem provável que a culpa fosse do Pedro Barbosa ou dos tais “jornalistas amigos do Carlos Freitas”.
Peseiro não entende que nenhum treinador está constantemente rodeado de um “ambiente favorável”. A obrigação de um chefe é transformar um clima adverso num clima benéfico. Se não o consegue fazer não tem vocação para a tarefa e, logicamente, é incompetente. Nos primeiros tempos de José Mourinho no Porto, o setubalense ouvia regularmente nas Antas um saudoso “Joguem à bola, palhaços” dirigido à sua equipa quando o resultado não era o melhor. E o técnico dá a entender, na sua biografia, que estas manifestações espicaçavam os seus jogadores, incentivando-os a demonstrar aos adeptos que eles sabiam realmente jogar à bola.
Ao apontar Pedro Barbosa como causa do insucesso na época passada, Peseiro não só está a ser cobarde como também demonstra uma notória falta de pulso( mais que verificada): se nem no seu capitão, representante do treinador dentro das 4 linhas, o “campino” tinha mão, seria praticamente impossível ganhar algum respeito dentro do plantel. E se a braçadeira não mudou de mãos, talvez o “Croissant” não estivesse assim tão errado quanto à forma de liderança no balneário ou o medo de entrar em rotura directa com as principais figuras do clube era grande da parte do técnico.
“As decisões de maior desgaste, disciplinares e outras, tiveram de ser tomadas pelo treinador. Um simples regulamento interno praticamente nem foi implementado, creio que por receio de afronta aos jogadores.”Ora, se o treinador é um líder, a principal responsabilidade por decisões disciplinares tem de ser sua. Vale e Azevedo relegou Maniche para a equipa B do Benfica? Abramovich deu uma reprimenda a Ricardo Carvalho em frente do plantel do Chelsea, devido a uma entrevista? Ou será que o sujeito de ambas as frases é “José Mourinho”?
Nenhum regulamento interno estava definido? Então mas quem manda no balneário? O presidente, presença rara nos treinos? O líder do conselho fiscal? Os membros do conselho leonino? A Maria José Valério? O Jorge Gabriel? Não, o treinador, as regras que os jogadores cumprem são ditadas pelo treinador(raciocínio La Palissiano).
Porque para treinar não é apenas necessário saber jogar com o losango no meio-campo ou fazer a mítica "pressão alta"...

01 março, 2006

Os dados estão Lançados

Coube-me a mim analisar este último clássico entre Benfica e Porto. Devo dizer que escrevo este post com alguma falta de tempo, por isso vou tentar ser o mais breve possível.
O jogo em si, na minha opinião, não foi nada de especial, aliás, não houve praticamente ocasiões de perigo exceptuando a perdida escandalosa de Nuno Gomes mesmo em frente à baliza. O jogo fica marcado pelo "perú" de Vitor Baía... Está a passar um mau momento e a falha vai-lhe custar caro se bem conheço o treinador dos dragões. O remate de Robert era, de facto, quase imparável e Baía foi traído pelo efeito e pelo ressalto da bola na relva. Já foi um dos grandes portugueses, mas está em clara descida de forma, própria da idade já avançada para um jogador de futebol.
O segredo da vitória do Benfica residiu no jogo de equipa e Koeman, desta vez, acertou em meter Karagounis (um dos melhores jogadores do SLB, para mim) de início, em detrimento de Beto, que só sabe dar sarrafada! Luisão esteve novamente bem garantindo a estabilidade defensiva necessária.


Da parte do Porto já referi o enorme "frango" de Baía, mas tenho que enfatizar a exibição de Paulo Assunção... Talvez o único jogador do Porto que realmente lutou! Defendeu, atacou, estava lá sempre! Sem dúvida um grande jogador... Paulo Assunção assume-se cada vez mais como o grande patrão do meio-campo portista. Um jovem, contudo uma garantia de estabilidade a nível defensivo e segurança no ataque.
O colectivo falhou, na equipa do Porto e, embora reúna no plantel muita qualidade, as individualidades não funcionam sozinhas e isso ficou provado.


A Liga está, novamente, relançada e a luta pelo título ganha um novo ânimo! As dúvidas permanecem, o Benfica será capaz de aproveitar esta nova oportunidade? O Sporting conseguirá manter o nível de jogo e eficácia? O Porto continuará a jogar pessimamente? O Braga continuará na luta por quanto tempo? Os dados estão lançados... Vamos a isto!